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Como Larry Fink da Blackrock criou a crise energética global

por F. William Engdahl (PT) | williamengdahl.com

Resistir.info - 15 de novembro, 2022

https://www.resistir.info/energia/engdahl_15nov22.html

A maior parte das pessoas está perplexa com o que é uma crise energética global, com preços do petróleo, gás e carvão a subirem em simultâneo e mesmo a forçarem o encerramento de grandes instalações industriais, tais como de produtos químicos, alumínio ou aço. A administração Biden e a UE têm insistido em que tudo isto se deve às ações militares de Putin e da Rússia na Ucrânia. Mas não é o caso. A crise energética é uma estratégia planeada há muito pelos círculos empresariais e políticos ocidentais para desmantelar economias industriais em nome de uma Agenda Verde distópica. Esta tem as suas raízes em anos muito anteriores a Fevereiro de 2022, quando a Rússia lançou a sua ação militar na Ucrânia.

Blackrock pressiona pela ESG [NR]

Em Janeiro de 2020, às vésperas dos confinamentos económica e socialmente devastadores do Covid, o CEO do maior fundo de investimento do mundo, Larry Fink da Blackrock, emitiu uma carta aos colegas da Wall Street e CEOs de corporações sobre o futuro dos fluxos de investimento. No documento, modestamente intitulado “A Fundamental Reshaping of Finance”, Fink, que gere o maior fundo de investimento do mundo com cerca de US$7 milhões de milhões (trillion) de dólares sob gestão, anunciou uma alteração radical para o investimento corporativo. O dinheiro iria “ficar verde”. Na sua carta de 2020, muito seguida, Fink declarou: “Num futuro próximo – e mais cedo do que a maioria prevê –haverá uma reafetação significativa do capital… Risco climático é risco de investimento”. Mais adiante, declarava: “Todos os governos, empresas e acionistas devem enfrentar as alterações climáticas”.

Numa outra carta dirigida aos clientes e investidores da Blackrock, Fink apresentou a nova agenda para o investimento de capital. Declarou que Blackrock abandonará certos investimentos de alto carbono, tais como o carvão, a maior fonte de eletricidade para os EUA e muitos outros países. Acrescentou que a Blackrock iria examinar novos investimentos em petróleo, gás e carvão a fim de determinar a sua adesão à “sustentabilidade” da Agenda 2030 da ONU.

Fink deixou claro que o maior fundo mundial começaria a desinvestir em petróleo, gás e carvão. “Com o tempo”, escreveu Fink, “as empresas e governos que não responderem aos interessados e enfrentarem os riscos da sustentabilidade deparar-se-ão com um crescente ceticismo dos mercados e, por sua vez, um custo de capital mais elevado”. Acrescentou que, “as alterações climáticas tornaram-se um factor determinante nas perspectivas a longo prazo das empresas… estamos à beira de uma remodelação fundamental das finanças”.

A partir daí, o chamado investimento ESG, que penaliza empresas emissoras de CO2 como a ExxonMobil, tornou-se moda entre os hedge funds e os bancos e fundos de investimento da Wall Street, incluindo a State Street e a Vanguard. Tal é o poder de Blackrock. Fink conseguiu também que quatro novos membros do conselho de administração da ExxonMobil se comprometessem a pôr fim aos negócios de petróleo e gás da empresa.

A carta de Janeiro de 2020 de Fink era uma declaração de guerra da grande finança contra a indústria da energia convencional. A BlackRock foi membro fundador da Força-Tarefa sobre Revelações Financeiras relacionadas com o Clima (Task Force on Climate-related Financial Disclosures, TCFD) e é signatária Princípios para o Investimento Responsável (Principles for Responsible Investing, PRI) da ONU, uma rede de investidores que promove o investimento de carbono zero utilizando os critérios altamente corruptos do ESG – factores Ambientais, Sociais e de Governação nas decisões de investimento. Não há controlo objectivo sobre dados falsos para o ESG de uma empresa. A Blackrock também assinou a declaração do Vaticano de 2019 advogando regimes de preços do carbono. Em 2020 a BlackRock também aderiu à Climate Action 100, uma coligação de quase 400 gestores de investimento que administram 40 milhões de milhões de dólares.

Com aquela fatídica carta de Janeiro de 2020, Larry Fink pôs em marcha um colossal desinvestimento de milhões de milhões de dólares no sector global de petróleo e do gás. Nomeadamente, naquele mesmo ano, Fink da BlackRock foi nomeado para o Conselho de Administração do distópico Fórum Económico Mundial de Klaus Schwab, o nexo empresarial e político da Agenda Carbono Zero da ONU para 2030. Em Junho de 2019, o Fórum Económico Mundial e as Nações Unidas assinaram um quadro de parceria estratégica para acelerar a implementação da Agenda de 2030. O WEF tem uma plataforma de Inteligência Estratégica que inclui os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.

Na sua carta de 2021, Fink redobrou o ataque ao petróleo, ao gás e ao carvão. “Dado a centralidade da transição energética para as perspetivas de crescimento de cada empresa, estamos a pedir-lhes que apresentem um plano de como o seu modelo de negócio será compatível com uma economia [de crescimento] líquido zero”, escreveu Fink. Outro responsável da BlackRock disse numa recente conferência sobre energia, “para onde a BlackRock for, outros seguirão”.

apenas dois anos, até 2022, estima-se que um milhar de milhões de dólares tenham saído dos investimentos na exploração e desenvolvimento de petróleo e gás a nível mundial. A extração de petróleo é um negócio caro e o corte do investimento externo por parte da BlackRock e de outros investidores da Wall Street significa a morte lenta desta indústria.

Biden, um presidente BlackRock?

Antes da sua candidatura presidencial, em fins de 2019, Biden teve uma reunião a portas fechadas com Fink, o qual alegadamente disse ao candidato: “Estou aqui para ajudar”. Após a sua fatídica reunião com o Fink da BlackRock, o candidato Biden anunciou: “Vamos livrar-nos dos combustíveis fósseis…” Em Dezembro de 2020, mesmo antes da posse de Biden em Janeiro de 2021, ele nomeou Brian Deese, Chefe Global de Investimento Sustentável da BlackRock, como assistente do Presidente e Diretor do Conselho Económico Nacional. Nesse posto, Deese, que desempenhara um papel fundamental para Obama na redação do Acordo Climático de Paris em 2015, moldou tranquilamente a guerra de Biden à energia.

Isto tem sido catastrófico para a indústria do petróleo e do gás. O homem do Fink, Deese, foi ativo ao dar ao novo Presidente Biden uma lista de medidas anti-petrolíferas a assinar por Ordem Executiva desde o primeiro dia de Janeiro de 2021. Isso incluiu o encerramento do enorme oleoduto Keystone XL que traria 830.000 barris por dia do Canadá até às refinarias do Texas, e a suspensão de quaisquer novos arrendamentos de terrenos no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico (ANWR). Biden também voltou a aderir ao Acordo Climático de Paris que Deese havia negociado para Obama em 2015 e que Trump havia cancelado.

No mesmo dia, Biden pôs em movimento uma alteração do chamado “Custo Social do Carbono” que impõe uma punitiva taxa de 51 dólares por tonelada de CO2 à indústria petrolífera e do gás. Só essa medida, estabelecida por autoridade puramente executiva sem o consentimento do Congresso, está a provocar um custo devastador para o investimento em petróleo e gás nos EUA, um país que apenas dois anos antes era o maior produtor mundial de petróleo.

Capacidade de matar refinarias

Pior ainda, as regras ambientais agressivas de Biden e os investimentos ESG impostos pela BlackRock estão a matar a capacidade das refinarias dos EUA. Sem refinarias já não importa quantos barris de petróleo são retirados da Reserva Estratégica de Petróleo. Nos primeiros dois anos da Presidência de Biden, os EUA encerraram cerca de 1 milhão de barris por dia de capacidade de refinação de gasolina e gasóleo, em parte devido ao colapso da procura decorrente do Covid, o mais rápido declínio da história dos EUA. As paragens são permanentes. Em 2023, está previsto um acréscimo de 1,7 milhões de barris/dia de capacidade para encerrar, em consequência do desinvestimento ESG da BlackRock e da Wall Street, bem como das regulações de Biden.

Mencionando o pesado desinvestimento da Wall Street em petróleo e as políticas anti-petrolíferas de Biden, em Junho de 2022 o CEO da Chevron declarou não acreditar que os EUA venham a construir alguma nova refinaria.

Larry Fink, membro do Conselho do Fórum Económico Mundial de Klaus Schwab, junta-se à UE cujo Presidente da Comissão da UE, a notoriamente corrupta Ursula von der Leyen, deixou o Conselho do Fórum Económico Mundial (WEF) em 2019 para se tornar chefe da Comissão da UE. O seu primeiro grande ato em Bruxelas foi fazer passar a EU Zero Carbon Fit para a agenda 55. Isto impôs grandes impostos sobre o carbono e outras restrições ao petróleo, gás e carvão na UE muito antes das ações russas na Ucrânia, em Fevereiro de 2022. O impacto combinado da fraudulenta agenda ESG de Fink na administração Biden e da loucura do Carbono Zero da UE está a criar a pior crise energética e de inflação da história. [NR] ESG: environmental, social and governance (governação ambiental e social), expressão cunhada em 2004 numa publicação do Banco Mundial.

Frederick William Engdahl é jornalista e consultor para riscos estratégicos. É graduado em política pela Princeton University; autor consagrado e especialista em questões energéticas e de geopolítica da revista online New Eastern Outlook. Trabalhou como economista e jornalista free-lance em New York e na Europa. Começou a escrever sobre política depois do primeiro choque do petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento LaRouche. Seu primeiro livro foi A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, onde discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada do xá do Irã em 1979. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century (2010).

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