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Deu no New York Times: Crimes de guerra de Hillary como trunfos de campanha eleitoral

Por Bill Van Auken

Tlaxcala - 3 de Março, 2016

O artigo em duas partes, sob o título "The Libia Gamble", publicado nas edições de domingo e 2ª-feira do New York Times é como uma peça de acusação contra Hillary Clinton, a ex-secretária de Estado e atual candidata que lidera no número de delegados que escolherão o/a candidato/a dos Democratas à presidência dos EUA.

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=17383

O artigo, de autoria de Scott Shane, correspondente de segurança nacional, e da repórter de investigação Jo Becker, ambos do Times, detalha o papel protagonista que La Clinton teve, no processo de fomentar uma guerra de agressão, ilegal, que fez dezenas, se não centenas, de milhares, de mortos.

O fato de a matéria não ter sido concebida como denúncia de atrocidades imperialistas – e ser, na verdade, propaganda publicada como se fosse jornalismo, para promover a aspirante a candidata dos Democratas – torna a coisa toda ainda mais horrorosamente criminosa e ameaçadora.

O Times abraçou a campanha presidencial de La Clinton, descrevendo-a como "um(a) do(a)s candidato(a)s presidenciais mais ampla e profundamente qualificado(a)s para o cargo, em toda a história moderna" e como presidenta que "usará com efetividade o poder militar dos EUA". O jornal também ajudou a construir e distribuir a propaganda que cria em torno dela a aura de ícone do feminismo, e de candidata que merece(ria) todo o apoio dos negros afro-norte-americanos.

Tudo, para que ninguém suspeite que a folha corrida dos crimes de La Clinton faz dela o equivalente político de uma aranha viúva-negra matadora de homens, mulheres e crianças.

A matéria sobre a Líbia chega até a sugerir que o papel que desempenhou na guerra EUA-OTAN de 2011 ajudaria a lançar luz favorável sobre a candidatura, mostrando "o tipo de presidenta que a Sra. Clinton pode ser."

La Clinton é apresentada como "estudiosa aplicada e inquisidora implacável, que absorve quantidades impressionantes de informações, acolhe visões divergentes entre os subordinados, estuda demoradamente seus contrapartes estrangeiros para aprender como derrotá-los. Sempre foi pragmática, do tipo que gosta de improvisar..."

Na Líbia, a destruição foi total. A imagem que o NYT oferece na abertura da matéria não esconde as ruínas que restaram lá, depois da 'intervenção' à moda ocidental liderada pela agora candidata à presidência dos EUA. Hoje, essas imagens já são como uma assinatura obscena que os EUA apõem a cada um dos estados fracassados cujo fracasso foi arquitetado e construído por Washington, em vários locais do mundo onde os EUA cravaram as garras.

Mas, apesar da abundância de provas, os editores do New York Times e o restante da mídia-empresa comercial recusam-se a ligar os pontos e dedicam-se a impedir que os leitores o façam, porque qualquer atividade de leitura crítica dos fatos do mundo fatalmente exporá o imperialismo de Washington.

Protegido pela fantasia de que o que o NYT publica seria eo ipso jornalismo e de que, se aparece publicada em jornal, qualquer fantasia 'jornalística' seria eo ipso fato, o que o NYT faz é promover uma guerra criminosa de agressão, que destruiu a sociedade líbia e lançou vergonha e miséria sobre a sociedade norte-americana.

Hoje, como o artigo detalha, La Clinton escapa de qualquer pergunta com respostas 'marketadas' sobre os líbios terem participado de duas eleições – que nada produziram, de fato, além de três governos inimigos figadais entre eles, nenhum dos quais se pode considerar legítimo, com o país tragicamente afundado numa infindável e sangrenta guerra civil. La Clinton então explica que ainda é "muito cedo para saber" que rumo tomarão as coisas na Líbia, depois de cinco anos de guerra e sob condições tais que os EUA estão novamente enviando forças especiais para lá, coturnos de volta ao solo e bombardeiros de volta aos céus, para bombardear outra vez as ruínas da Líbia.

O artigo nem tenta negar que La Clinton opôs-se empenhadamente, dentro do governo Obama, contra a ideia de "deixar de apoiar Hosni Mubarak", nem depois de as massas no Egito já se terem levantado em luta revolucionária contra o ditador apadrinhado pelos EUA.

No início da campanha de bombardeio, o artigo conta, houve numerosas tentativas, por oficiais líbios, funcionários da ONU, outros governos africanos e também pela União Africana, interessados em negociar um cessar-fogo e um acordo político para a Líbia. Washington rejeitou todos esses movimentos: a secretária Clinton queria porque queria guerra...

E foi assim que, na Líbia, ensina o NYT, "Clinton teve nova oportunidade para apoiar um processo histórico de mudança, que igualmente também varreu os líderes dos vizinhos Egito e Tunísia." De tal modo 'noticia', que a Líbia é apresentada como "caso de sucesso eletrizantemente fácil – com apenas 6 milhões de habitantes, nenhuma divisão sectária e muito petróleo."

As expressões cruciais nos 'projetos' de La Clinton são "sucesso eletrizantemente fácil" e "muito petróleo". A operação para mudança de regime foi montada e executada contra o governo líbio de Muammar Gaddafi, não para promover alguma aspiração democrática que por acaso houvesse na chamada "Primavera Árabe". O objetivo era conter qualquer democracia que por lá aparecesse, e impor um governo fantoche controlado pelos EUA, no país que separa o Egito da Tunísia; além de, na mesma negociata, assegurar total controle pelo ocidente sobre as maiores reservas de petróleo da África.


"Fui à Líbia e derrubei um governante que já havia entregue suas armas de destruição em massa e não ameaçava ninguém. Matei-o. Matei também muitos norte-americanos. Perdi uma tonelada de armas. Bombardeei a Líbia até reduzir o país a ruínas. Preciso do seu voto."

O artigo propagandeia que La Clinton "muito pressionou a favor de um programa secreto que fornecesse armas a milícias rebeldes". Essas milícias eram na maioria constituídas de grupos islamistas radicais, vários deles diretamente conectados à al-Qaeda.

Dentro do governo, informa o Times, La Clinton pressionou a favor de intervenção militar direta por militares norte-americanos, sob o argumento de que, se os EUA não agissem depressa, britânicos e franceses chegariam antes "de nós", e os EUA seriam "deixados para trás", com "menos força para modelar" os combates pelo controle sobre a Líbia e seu petróleo.

O pretexto, de que forças do governo líbio estariam preparando um "massacre genocida" dos "manifestantes" na cidade de Benghazi, no leste do país, foi refutado por grupos defensores de direitos humanos; sabe-se que o número de mortos em confrontos armados antes de EUA-OTAN começarem a bombardear a Líbia não chegava a 350.

Charles Kubic, almirante aposentado, que recebeu proposta de um militar líbio de alto escalão, para um cessar-fogo de 72 horas, recebeu, como resposta do comando militar dos EUA, instruções para pôr fim a qualquer diálogo, baseadas em ordens que haviam chegado "de fora do Pentágono".

"A questão que nunca deixou de me atormentar é: por que vocês não quiseram usar 72 horas para dar uma chance à paz?" – disse ele ao Times. A resposta óbvia é que os que estavam promovendo a agressão à Líbia, com La Clinton à frente, estavam decididos a levar até a última e mais sangrenta conclusão, toda a guerra deles para mudança de regime.

Aquela mudança de regime veio afinal em outubro de 2011 com o assassinato de Gaddafi, linchado por "rebeldes islamistas apoiados pelos EUA. Depois de assistir a um vídeo no BlackBerry de um assessor, da tortura e morte do líder líbio, com requintes horrendos de crueldade, La Clinton festejou: "Uau!"

Em vídeo para sempre infame, vê-se a atual aspirante à presidência dos EUA virar-se para alguém que a entrevista e dizer "Viemos, vimos, ele morreu!" Na sequência, ri, cacarejante.

Com Gaddafi, também foi assassinado um de seus filhos, Mutassim, o qual, dois anos antes, a mesma Hillary Clinton recebia com sorrisos e apertos de mão no Departamento de Estado.

Como o artigo do NYT deixa bem claro, todos esses crimes sangrentos sempre foram vistos por Hillary, seus apoiadores e seus 'marketeiros' como 'bom material' a ser 'capitalizado' na campanha dela à presidência. Sua principal assessora no Departamento de Estado lançou memorando em que declara que esses feitos de La Clinton comprovariam sua "liderança/domínio/manejo perfeito da política dos EUA para a Líbia, do primeiro ao último dia."

"A linguagem do documento cuida atentamente de pô-la no centro de todos os acontececimentos: "'HRC anuncia… HRC comanda… HRC viaja… HRC decidiu' – como ali se lê."

Logo depois da catástrofe na Líbia, o artigo credita a Clinton o 'mérito' de ter promovido "agressivo programa norte-americano para armar rebeldes sírios para derrubar o presidente Bashar al-Assad."

Mas o NYT que tanto promove como se fossem feitos gloriosos os crimes de La Clinton na Líbia e anuncia os que viriam na sequência, na Síria, cuidadosamente não chama a atenção para a conexão direta e concreta que liga essas duas intervenções imperialistas. As armas saqueadas dos arsenais do governo líbio foram rapidamente encaminhadas, bem como combatentes islamistas fanáticos líbios, para a Síria, sob a supervisão da CIA, que estabeleceu duas bases secretas, uma em Benghazi, outra no sul da Turquia.

Depois que irromperam rivalidades e recriminações mútuas entre a CIA e os islamistas, no ataque do dia 11/9/2012 contra as instalações dos EUA em Benghazi que matou o embaixador dos EUA e três de seus seguranças pessoais, La Clinton passou a ser alvo de fogo cerrado dos Republicanos, não por fazer guerra ilegal, assassinar líderes estrangeiros não agressores, ou por fornecer armas à Al Qaeda, mas por, supostamente, ter tentado "encobrir" o incidente em Benghazi.

Quase ao mesmo tempo, foi instalada investigação continuada, depois de La Clinton ter sido acusada de usar servidor privado não protegido para seu correio eletrônico, pelo qual teria transitado material considerado secreto. Mas pouca atenção foi dedicada ao conteúdo daqueles e-mails, os quais, mais uma vez, implicavam La Clinton nos crimes de sangue que sob comando dela os EUA cometeram na Líbia, Síria e em outros pontos.

O que se tem, resumidas no papel de Hillary Clinton nos eventos líbios, é a arrogância e a temeridade iresponsáveis de uma política externa norte-americana que é inseparável do militarismo e da agressão.

Na desavergonhada tentativa que La faz hoje – da qual o NYT é executor co-responsável –, de explorar a favor dela e de suas ambições destemperadas eventos que mataram dezenas de milhares de seres humanos e converteram milhões em refugiados, vê-se uma expressão consumada do caráter degradado da elite que governa os EUA e de seu sistema político como um todo – e do Partido Democrata em especial.

Em mundo justo, no qual ainda se observassem os princípios a partir dos quais os tribunais de Nuremberg julgaram os líderes ainda vivos do 3º Reich alemão, Hillary Clinton de modo algum estaria concorrendo à presidência dos EUA. Numa hipótese generosa, seria condenada a passar o resto da vida numa prisão para criminosos de guerra.

Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Vudu

Bill Van Auken é membro do Socialist Equality Party (EUA). Foi candidato à presidência de seu país em 2004.

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=17383


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