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O homem que controla US$ 3,4 trilhões

Larry Fink, executivo-chefe: "Precisamos continuar construindo a marca BlackRock", para que ela se torne conhecida

Por Sheelah Kolhatkar e Sree Vidya Bhaktavatsalam

Controversia - 3/03/2011

http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=7890

Como presidente do conselho de administração e executivo-chefe da BlackRock, Larry Fink controla mais dinheiro que o PIB da Alemanha. A BlackRock é a maior firma de gerenciamento de ativos do mundo, uma potência de US$ 3,45 trilhões, que é a maior dessas firmas de Wall Street e caminha para pagar US$ 1 bilhão em comissões aos bancos de investimentos este ano. Ela administra US$ 1,4 trilhão para os fundos de pensão dos Estados de Nova York, Nova Jersey e Califórnia, entre outros; investe US$ 240 bilhões em nome de bancos centrais e fundos soberanos como o Abu Dhabi Investment Authority; e, nos mercados de ações e bônus dos Estados Unidos, é responsável por uma parcela enorme dos volumes de negócios registrados todos os dias.

A BlackRock sempre socorre o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos quando ele precisa de opiniões sobre o setor financeiro privado e gerenciou pelo menos US$ 150 bilhões em ativos tóxicos em nome dos contribuintes americanos depois dos socorros financeiros ao American International Group (AIG) e o Bear Stearnsem 2008. Administrar a companhia é um esforço de equipe, mas Fink, 58, é o cérebro da BlackRock e, cada vez mais, a BlackRock é o cérebro de Wall Street.

"Não existe nenhum banco, fundo soberano de investimentos ou companhia de seguros tão grande quanto a BlackRock", afirma Ralph Schlosstein, um dos fundadores da companhia que a deixou em 2007 e hoje é executivo-chefe do banco de investimento Evercore Partners. "A BlackRock é hoje uma das instituições financeiras mais influentes do mundo, se não for a mais influente." No Brasil, a BlackRock ainda tem atuação modesta, mas, dos US$ 35 bilhões em ativos sob sua gestão na América Latina, cerca de 60% estão no país. Ela tem também participações no capital de empresas brasileiras, via bolsa.

Diante disso tudo, é surpreendente como poucas pessoas fora de Wall Street estão familiarizadas com Larry Fink e a BlackRock. Fundada em 1988 como uma pequena negociadora de bônus, a BlackRock conseguiu alcançar a onipotência financeira, permanecendo ao mesmo tempo longe das atenções do público, escapando do escárnio e da aclamação frequentemente direcionados para o Goldman Sachs, o principal banco de investimento dos Estados Unidos.

A BlackRock compete com a unidade de gerenciamento de ativos do Goldman Sachs, que é muito menor, mas as duas instituições são fundamentalmente diferentes porque as negociações, e não os investimentos, representam a maior parte dos negócios do Goldman, e o Goldman é conhecido como o lugar onde os executivos ficam podres de ricos.

A BlackRock concentra-se no trabalho menos lucrativo de investir dinheiro para indivíduos e instituições como planos de pensão, fundos de doações e fundações através de fundos mútuos, fundos negociados em bolsas de valores e contas administradas separadamente. Ela ganha a maior parte de seu dinheiro através das antiquadas taxas de administração, em vez de comprar posições por conta própria. Em Wall Street, onde o que é maçante subitamente passou a ser melhor, Fink é o novo rei nerd.

Mesmo assim, há duas coisas que o Goldman tem, ou costumava ter, que Fink e seus cofundadores da BlackRock - Rob Kapito, 53, Susan Wagner, 48, e Charles Hallac, 46 - cobiçam: uma marca de prestígio e um lugar permanente na consciência do público.

Numa tarde de outubro, o reconhecimento está na mente de Fink enquanto ele se prepara para se dirigir aos 8.900 funcionários da firma espalhados pelo mundo, em uma de suas exortações trimestrais. "Boa tarde a todos", diz, segurando uma única folha de papel. "Não estou aqui para dizer a vocês que somos perfeitos. Temos nossos problemas, como todas as empresas têm." Ele fala sobre o desempenho trimestral da BlackRock ("Crescemos 9%"); a recente e ligeiramente problemática integração à companhia da Barclays Global Investors, a administradora de investimentos que a BlackRock comprou por US$ 15,2 bilhões em 2009 ("Está claro para mim que temos uma firma que está mais coesa do que nunca"); e o atual preço da ação ("Acho que o mercado está redondamente errado nos termos com que nossa ação está sendo negociada").

A retórica está longe de exultante, mas Fink irradia confiança. Ele tenta entusiasmar sua plateia com descrições do sucesso da firma e a necessidade de todos os funcionários se esforçarem mais. "Temos uma responsabilidade gigantesca", diz ele. "Nossas atenções não devem ir apenas para os US$ 3,4 trilhões em ativos que estão sendo gerenciados, mas para as pessoas para as quais trabalhamos - talvez elas sejam seus parentes, talvez um professor de escola ou um bombeiro...Estamos conectados com o mundo inteiro no que fazemos."

Finalmente, Fink retorna a um de seus temas favoritos, uma questão que o motiva e o mantém acordado à noite: a subvalorização crônica de sua companhia. "Precisamos continuar construindo a marca BlackRock", diz. "E temos esperança de que algum dia nossas famílias venham a saber o que é a BlackRock."

Depois que a crise financeira virou a estrutura de poder de Wall Street de cabeça para baixo, a BlackRock ofereceu algo valioso - a capacidade de analisar riscos, especialmente os riscos representados pelos bônus, e em particular os riscos dos bônus hipotecários. A companhia vinha coletando dados sobre hipotecas desde 1994, quando o mercado era muito menor do que hoje. Subitamente, a posse de todas essas informações tornou a BlackRock mais importante que seu tamanho. Quando os executivos de bancos e funcionários do governo acordaram para o horror do endividamento resultante das hipotecas tóxicas nos balanços em todas as partes do mundo, a BlackRock era uma das poucas entidades capazes de avaliar realmente o quanto tudo aquilo valia - e podia fazer isso sem apresentar uma ameaça competitiva.

"A experiência teria sido irrelevante sem a confiança", afirma Terrence Keeley, um ex-diretor executivo do UBS, que contratou a BlackRock para analisar uma carteira de US$ 22 bilhões de títulos de dívida que ele posteriormente vendeu para a firma. A companhia ajudou o Departamento do Tesouro dos EUA e o Federal Reserve (Fed) na aquisição bancada pelo governo do Bear Stearnspelo J. P. Morgan Chase, além dos socorros à AIG, Citigroup, Fannie Maee Freddie Mac. A BlackRock também teve sorte, porque as firmas de gerenciamento de ativos mal foram afetadas pelas novas regras pós-crise que estão aterrorizando os conselhos de administração das instituições financeiras.

Embora tenha cometido sua cota de erros antes e depois da crise - incluindo perdas significativas em fundos que aplicam em imóveis e títulos lastreados em hipotecas -, a companhia vem ganhando poder e prestígio desde 2007 e este ano ela deverá lucrar quase US$ 2 bilhões sobre uma receita de US$ 4,7 bilhões. No ano passado, Fink foi um dos executivos-chefes mais bem pagos após os planos de socorro a Wall Street, com uma remuneração de US$ 15,9 milhões segundo dados da Securities and Exchange Commission (SEC), enquanto o executivo-chefe do Goldman Sachs Lloyd Blankfein recebeu US$ 862.657, em comparação a US$ 40,95 milhões em 2008.

A BlackRock ficou tão grande engolindo outras companhias. Em 2004 ela comprou a State Street Research & Management (nenhuma relação com a State Street, uma de suas concorrentes mais próximas) por US$ 375 milhões, daMetLife; dois anos depois ela adquiriu a unidade de investimentos do Merrill Lynch por US$ 9 bilhões, levando seus ativos acima da marca de US$ 1 trilhão. Em fevereiro, enquanto a BlackRock digeria o Barclays, ela enviou documentos à SEC informando participações de mais de 5% em 1.800 companhias, paralisando temporariamente o banco de dados eletrônicos da SEC.

Enquanto amplia seu alcance nos mercados de ações e bônus ao redor do mundo, a companhia quer introduzir sua própria plataforma de negociações, que ajudaria a BlackRock a casar ordens de compra e venda, economizando dinheiro para os clientes, reduzindo sua dependência das corretoras de Wall Street e reduzindo as comissões que envia para elas todos os anos. A BlackRock também iniciou uma unidade de mercados de capital para ajudar seus clientes a investir diretamente nas ofertas de dívida corporativa.

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