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Os robôs do OTANistão contra os Cavalos Celestes da Multipolaridade

O Ocidente inteiro está esperando na sala da estação com cortinas pretas – e trem nenhum

por Pepe Escobar (pt-BR) | The Unz Review

Brasil 247 - 31 de agosto, 2023

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Participantes da Cúpula da Otan se posicionam para posar para uma foto oficial da família em Vilnius, Lituânia, em 11 de julho de 2023 (Foto: Andrew Caballero-Reynolds/Pool via REUTERS/File Photo)

Todos nós precisaremos de  muito tempo e de muita introspecção para conseguirmos analisar toda a gama de vetores revolucionários desencadeados pela revelação dos BRICS 11, na semana passada na África do Sul. 

Mas o tempo não espera por ninguém. O Império  irá contra-atacar (itálicos meus)  com força total. Aliás, os tentáculos de sua Guerra Híbrida multi-hidra  já estão à mostra. Aqui e aqui tentei traçar um esboço da História do nascimento dos BRICS 11. Essencialmente, o que a parceria estratégica Rússia-China vem alcançando, um passo (gigantesco) de cada vez, é também multivetorial:

  • – expandir os BRICS para transformá-los em uma aliança para combater a não-diplomacia dos Estados Unidos. 
  • – contrapor-se à demência das sanções.
  • – promover alternativas ao SWIFT.
  • – promover autonomia, autossuficiência e instâncias de soberania. 
  • – e, em um futuro próximo, integrar os  BRICS 11 (número que só faz aumentar) à Organização de Cooperação de Xangai (OCX) para se contrapor às ameaças militares imperiais, algo já mencionado pelo Presidente  Lukashenko, o inventor do precioso neologismo "Globo Global".

Por outro lado, o indispensável Michael Hudson vem mostrando consistentemente que o "erro estratégico dos Estados Unidos e da Europa de se isolar do resto do mundo é tão maciço, tão total, que seus efeitos equivalem a uma guerra mundial".

Daí a afirmação do Prof. Hudson, de que a guerra por procuração na Ucrânia – não apenas contra a Rússia, mas também contra a Europa – "pode ser vista como a Terceira Guerra Mundial". 

De diversas maneiras, o Prof. Hudson detalha que estamos vivendo "uma consequência da Segunda Guerra Mundial, cujo resultado foi os Estados Unidos  assumirem o controle da organização econômica e política internacional a fim de operarem em interesse nacional próprio: o Fundo Monetário Internacional para impor o controle financeiro dos Estados Unidos e dolarizar a economia; o Banco Mundial para emprestar dinheiro aos governos para bancar os custos de infraestrutura da criação de dependência  comercial nos alimentos e produtos manufaturados americanos; a promoção da agricultura de commodities; o controle pelos Estados Unidos/OTAN do petróleo, da mineração e dos recursos naturais; e organismos das Nações Unidas, sob o controle dos Estados Unidos, com poder de veto sobre todas as organizações internacionais criadas pelos Estados Unidos ou às quais eles se filiaram". 

Agora a conversa é totalmente outra, quando se trata do Sul Global, ou Maioria Global, da verdadeira emancipação do "Globo Global". Basta ver Moscou sediando a cúpula Rússia-África, em fins de julho último e, em seguida, Pequim, com a presença do próprio Xi que, na semana passada, passou um dia em Johannesburg com dezenas de líderes africanos, todos eles participantes do Movimento Não-Alinhado (MNA): o G77 (na verdade, 134 países), presidido por um cubano, o Presidente Diaz-Canel.

Aí temos a Dupla Hélice  Rússia-China em funcionamento – oferecendo grandes parcelas da segurança e da infraestrutura de alta-tecnologia do "Globo Global" (Rússia) e finanças, exportações de manufaturas e infraestrutura rodo-ferroviária (China).

Nesse contexto, uma moeda BRICS não é necessária. O Prof. Hudson cita uma importante fala do Presidente Putin: o que é necessário é um "meio de liquidação" para os Bancos Centrais em suas balanças de pagamentos, para manter sob controle os desequilíbrios no comércio e nos investimentos. Isso nada tem a ver com uma moeda supranacional lastreada em ouro dos BRICS.

Além do mais, não haverá necessidade de uma nova moeda de reserva, uma vez que um número cada vez maior de países irá abandonar o dólar dos Estados Unidos para seus pagamentos. 

Putin se referiu a uma unidade contábil "temporária" – já que o comércio intra-BRICS 11 irá inevitavelmente se expandir em suas moedas nacionais. Tudo isso se desenrolará no contexto de uma aliança cada vez mais assoberbadora de produtores de petróleo, gás, minerais, produtos agrícolas e commodities: uma economia real (itálicos meus) capaz de dar sustentação a uma nova ordem global que vem, progressivamente, jogando o domínio ocidental no esquecimento.

Podem chamar a isso de a forma branda de eutanasiar a Hegemonia. 

Todos a bordo da narrativa da "China maligna" 

Compare-se isso agora àquele pedaço de pau norueguês que posa de secretário-geral da OTAN declarando àquele jornal de Washington que é porta-voz da CIA, em um momento de singular franqueza, que a Guerra da Ucrânia "não começou em 2022. A guerra começou em 2014". 

Aqui temos portanto um vassalo imperial designado admitindo claramente que essa coisa toda começou com Maidan, o golpe arquitetado pelos Estados Unidos e supervisionado pela distribuidora de biscoitos Vicky “F***-se a União Europeia" Nuland. O que significa que a alegação da OTAN de que houve uma "invasão" russa, referindo-se à Operação Militar Especial, é absolutamente fraudulenta de um ponto de vista legal. 

Está firmemente estabelecido que os especialistas em tramar versões/propaganda paga da idiocracia atlanticista, praticando sua insuperável mistura de arrogância/ignorância, acreditam poder se safar de qualquer coisa quando se trata de demonizar a Rússia. O mesmo se aplica à sua nova narrativa sobre a "China maligna". 

Os acadêmicos chineses com quem tenho a honra de interagir sempre se deliciam em apontar que as narrativas pop imperiais e a programações proféticas são absolutamente inúteis no que se refere a Zhong Hua ("Esplêndida Civilização Central").

Isso porque a China, nas palavras de um deles, é dotada de uma "oligarquia de elite lúcida, resoluta e incansável no comando do Estado Chinês", que usa instrumentos de poder que garantem, entre outras coisas, segurança e higiene públicas para todos; educação focada no aprendizado de informações e capacidades úteis, e não em doutrinação; um sistema monetário sob controle; bens físicos e capacidade industrial de produzir  coisas reais; redes diplomáticas, de cadeias de fornecimento, tecno-científicas, econômicas, culturais, comerciais, geoestratégicas e financeiras de primeira categoria, e infraestrutura física de máxima qualidade.

E, no entanto, desde pelo menos 1990, a mídia convencional do Ocidente é obcecada em declarar que o colapso econômico da China, ou seu "pouso acidentado", é iminente. 

Bobagem. Nas palavras de um outro acadêmico chinês, "a estratégia da China tem sido deixar quietos os cães adormecidos e  deixar quietas as máquinas de mentiras". Enquanto isso, a China os supera enquanto dormem e causa a derrocada do Império".  

Venenos, vírus, microchips

O que nos traz de volta ao Novo Grande Jogo:  OTANistão contra o Mundo Multipolar. Ignorando as provas em sentido contrário evidenciadas pela realidade concreta, o OTANistão, em modo haraquiri – em especial seu setor europeu – teima em acreditar que ganhará a guerra contra a Rússia-China.

Quanto ao Sul Global/Maioria Global/"Globo Global", ele é visto como inimigo. De modo que suas populações, na maioria pobres, devem ser envenenadas com fomes, injeções experimentais, novos vírus modificados, implantes de microchips, como no BCI (Interface de Computador Cerebral) e, em breve, as vestimentas de "segurança" da OTAN como Robocop Global.

A chegada dos BRICS 11 já vem desencadeando uma nova onda imperial de envenenamentos letais, vírus novos em folha e cyborgs.

O senhor do Império promulgou a ordem de  "salvar" a indústria de pescados japonesa  – uns trocadinhos de toma-lá-dá-cá em agradecimento a Tóquio agir como um cachorro hidrófobo na Guerra dos Chips que o Império move contra a China e, recentemente, ter  jurado lealdade à aliança em uma cúpula recentemente realizada em Camp David, lado a lado com os vassalos sul-coreanos.  

Os vassalos da União Europeia, em sincronia, retiraram as regras de importação de pescados japoneses, no exato momento em que a água residual da usina nuclear começou a ser bombeada no oceano. Esse é mais um exemplo da insistência da União Europeia em cavar a própria cova – uma vez que o Japão certamente irá sofrer as consequência tipo Tufão de Escala 10.

A radiação espalhada pelo mundo através do Pacífico irá causar um sem-número de pacientes de câncer por todo o globo e, simultaneamente, destruir a economia de diversos pequenos países insulares que dependem em grande medida do turismo. 

Em paralelo, Sergey Glazyev, Ministro da Macroeconomia da Comissão Econômica Eurasiana, parte da União Econômica Eurasiana, é um dos muito poucos que advertem contra a nova fronteira transumanista:  a loucura da Nanotecnologia Injetável que se anuncia – algo bastante bem documentado em publicações científicas. 

Citando o Dr. Steve Hotze, Glazyev, em uma de suas postagens no Telegram,  explicou o que a DARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa) vem fazendo, "injetando nanobots na forma de  óxido de grafeno e hidrogel" no corpo humano, criando assim uma interface entre nanobots e as células do cérebro. Tornamo-nos "um receptor, recebedor e transmissor de sinais vindos de fora, fazendo com que passemos a ser remotamente manipulados".  

Glazyev  também menciona a agora frenética promoção da "Éris", uma nova variante da covid, batizada pela OMS com o nome da deusa grega da discórdia e da inimizade, filha da deusa da noite, Nicta.

Os que conhecem mitologia grega saberão que Éris ficou muito zangada por não ter sido convidada para o casamento de Peleu e Tétis. Sua vingança foi jogar sobre a mesa uma maçã dourada dos jardins das Hespérides com a inscrição "Para a Mais Bela": esse é o lendário "pomo da discórdia", que acabou provocando a Mãe de Todas as Brigas de Gatas entre  Hera, Atena e Afrodite. E que, por fim, levou a nada menos que a Guerra de Tróia. 

Na Sala Branca com cortinas pretas 

É ah, tão previsível, partindo das "elites" que comandam o espetáculo, batizar o novo vírus com o nome de uma arauta da guerra. Afinal, a Próxima Guerra é extremamente necessária, porque o Projeto Ucrânia acabou se mostrando um  maciço fracasso estratégico, com a humilhação cósmica da OTAN logo ali adiante. 

Durante a Guerra do Vietnã  – que o império perdeu para um exército de guerrilheiros camponeses – os comunicados diários do Quartel-General em Saigon eram  ridicularizados por qualquer jornalista com um QI acima da temperatura ambiente  como "as loucuras de Saigon".  

Saigon jamais se compararia com o tsunami de loucuras diárias oferecidas pela guerra por procuração na Ucrânia por uma espalhafatosa festa móvel sediada na Casa Branca, Departamento de Estado, Pentágono, QG da OTAN, a kafkiana máquina de Bruxelas e outros arredores ocidentais.  A diferença é que os que hoje posam de "jornalistas" são cognitivamente incapazes de entender essas "loucuras" – e mesmo que entendessem, eles seriam impedidos de noticiá-las.

Então, é aí que se encontra o Coletivo Ocidental no momento: em uma Sala Branca, um simulacro da Caverna de Platão retratado na obra-prima de 1968 do Cream, parcialmente inspirada em William Blake, invocando pálidos "cavalos de prata" e "tigres amarelos" exaustos.

O Ocidente inteiro está esperando na sala da estação com cortinas pretas  – e trem nenhum. Eles irão "dormir nesse lugar com a multidão solitária", "deitados no escuro onde as sombras fogem de si mesmas". 

Lá fora, no frio, à longa distância, à luz do sol, longe das sombras móveis, por estradas feitas de seda e ferro, os Cavalos Celestiais (Tianma) do mundo multipolar galopam galantemente  de rede em rede, da Cinturão e Rota à Europa e à Ponte Afro-asiática, da intuição à integração, da emancipação à soberania.

Tradução de Patricia Zimbres

Pepe Escobar nasceu em 1954 no Brasil, e desde 1985 trabalha como correspondente estrangeiro. Trabalhou em Londres, Milão, Los Angeles, Paris, Cingapura e Bangkok. A partir do final dos anos 1990s, passou a cobrir questões geopolíticas do Oriente Médio à Ásia Central, escrevendo do Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, repúblicas da Ásia Central, EUA e China. Atualmente, trabalha para o jornal Asia Times que tem sedes em Hong Kong/Tailândia, como “The Roving Eye”; é analista-comentarista do canal de televisão The Real News, em Washington DC, e colaborador das redes Russia Today e Al Jazeera. É autor de três livros: Globalistan. How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge e Obama does Globalistan.

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