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Que Pico do Petróleo?

por Dmitry Orlov (pt-BR) | Club Orlov

Comunidad Saker Latinoamérica - 25 de julho, 2023

https://sakerlatam.org/que-pico-do-petroleo/

Uma nota rápida sobre nossa posição em relação à crise terminal da produção global de petróleo. Alerta de spoiler: a [Teoria do] Pico do Petróleo está indo bem, afiando suas garras, preparando-se para dar uma grande mordida pelo flanco. Por que todo mundo não está correndo com os cabelos em chamas por causa disso? Talvez algumas pessoas importantes estejam usando os óculos mostrados acima. Não tenho explicação melhor, desculpa!

Para recapitular, o Pico do Petróleo veio e se foi em 2005, causando um pico no preço do petróleo, seguido pelo colapso financeiro em 2008, mas então uma coisa estranha aconteceu: a mancha de [óleo de] xisto dos EUA começou a crescer, crescer e crescer… causando perdas de produção em outros lugares etc.

Mas agora esse crescimento estagnou. Os EUA ainda produzem prodigiosos 12,3 milhões de barris por dia, tornando-se um líder mundial, já não há muito crescimento: apenas cem mil barris por dia desde o início deste ano, e isso apesar dos preços muito atraentes do petróleo. O gráfico a seguir mostra que a contagem de plataformas de petróleo (que é necessária para sustentar, imagine crescer, a produção, dada a rápida taxa de esgotamento dos poços de xisto) está mostrando um declínio lento, mas aparentemente inexorável, sem se deixar abater por quaisquer flutuações positivas do preço do petróleo.

As autoridades americanas têm reclamado amargamente sobre os cortes voluntários de produção da Rússia e da Arábia Saudita. Por que um líder mundial na produção de petróleo acharia adequado reclamar que a participação de mercado de seus concorrentes está diminuindo? Isso porque 12,3 milhões de barris por dia não são suficientes para isso! Os EUA também são importadores líquidos de petróleo de cerca de 2,7 milhões de barris por dia (com base nos números de 2022 e sem contar suas importações de diesel, gasolina e outros derivados de petróleo refinado). Além do mais, como mostra o gráfico a seguir, o governo dos EUA também massacrou sua Reserva Estratégica de Petróleo (SPR) – um movimento inexplicável, visto que os EUA não estão em guerra e não há grandes interrupções no fornecimento.

O que podemos deduzir de tudo isso?

• Apesar dos preços relativamente altos do petróleo, a produção de petróleo nos EUA está estagnada e o número de sondas de perfuração está diminuindo. O óleo de xisto atingiu um platô. Dado que os declínios anuais de produção de um poço típico de óleo de xisto são algo como um terço (em números muito aproximados), esse platô se estenderá por meses e anos, mas certamente não décadas.

• Aparentemente, o custo de perfuração nos EUA aumentou significativamente por causa da inflação. Taxas de juros mais altas e falta de (idiotas – desculpe!) investidores também estão dificultando novos financiamentos e investimentos.

• A amarga reclamação sobre os cortes de produção sauditas e russos faz com que a relutância dos EUA em compensá-los pareça tola. Um palpite razoável é que eles não vão porque não podem.

• O massacre da SPR parece um movimento bastante desesperado de Biden e seu coro de Bidenettes e vocalistas de apoio. A piada “Après moi le déluge”[Depois de mim, o dilúvio – nota do tradutor] vem à mente. Um líder do mundo livre que está a uma queda de Valhalla pode não se importar tanto com o futuro de sua terra arruinada.

• Embora ainda haja um pouco de crescimento da produção da mancha de petróleo (400 mil barris por dia desde esta época no ano passado), observadores atentos conseguiram discernir que a maior parte veio de poços já perfurados em anos anteriores, mas deixados incompletos. O estoque de tais poços está agora em grande parte esgotado.

• A estranha disposição dos sauditas de introduzir cortes voluntários na produção mostra que eles também não têm capacidade de aumentar a produção. O mesmo vale para a Rússia, exceto que a Rússia tem petróleo suficiente para se abastecer por muitas décadas e não é tão dependente das receitas de exportação de petróleo quanto a Arábia Saudita. É claro que é muito bom que os compradores estrangeiros de petróleo permitam que a Rússia mantenha orçamentos equilibrados com uma taxa fixa de 13%…

Os comerciantes de petróleo e especialistas em energia nos EUA estão ignorando firmemente essas realidades indesejadas, talvez por causa do efeito dos óculos de proteção especiais mostrados acima. Uma olhada superficial nas suas análises de especialistas mostra um interesse doentio na China. Talvez eles devam olhar para baixo e tentar descobrir o que vai manter suas próprias calças daqui a alguns anos. E depois há os europeus com sua máfia verde, ainda cortejando moinhos de vento desde a última vez que alguém checou, e ainda fingindo que alguns ucranianos em um iate de lazer alugado explodiram suas linhas de vida de gás (sic!).

Diminua o zoom para uma visão de satélite da cena. Temos os EUA com 4,23% da população mundial consumindo 15 milhões de barris por dia de petróleo de um total mundial de algo em torno de 100 milhões de barris por dia, e aproximadamente metade desses 15 milhões (a porção de xisto) está programada para desaparecer ao longo os próximos anos. Em média, o mundo pode não estar indo tão mal quanto ao petróleo, mas há um paciente em particular na enfermaria do Pico do Petróleo cujo prognóstico é bastante desesperador. Você consegue descobrir qual paciente é esse?

by Quantum Bird

Dmitry Orlov, nascido em 1962 em Leningrado (hoje São Petersburgo), é um engenheiro russo-estadunidense e escritor sobre temas relacionados com “o potencial declive económico, ecológico, político e o colapso nos Estados Unidos”, ao que ele chamou de “crise permanente”. Orlov argumenta que esse colapso será o resultado de enormes orçamentos militares, do déficit do governo, de um sistema político irresponsável e do declínio progressivo da produção de petróleo

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