A disparada da especulação financeira promovida pelo imperialismo
Os mecanismos de apostas e contra-apostas promovidos pelo punhado de especuladores financeiros que domina o mundo impedem o crescimento econômico e conduzem à bancarrota do capitalismo
Causa Operária - 24 de maio de 2012
http://www.pco.org.br/internacional/a-disparada-da-especulacao-financeira-promovida-pelo-imperialismo/ejaz,o.html
As recentes perdas de US$ 2 bilhões que o banco norte-americano JP Morgan teve em operações com derivativos financeiros foi apenas uma amostra dos enormes riscos envolvidos nestas operações. De fato, não houve irregularidades ou “falhas humanas” nessa operação, mas elas foram fruto dos mecanismos de apostas e contra-apostas que têm convertido a economia mundial num verdadeiro casino financeiro dominado por um punhado de especuladores imperialistas devido ao esgotamento histórico das atividades produtivas no capitalismo.
As apostas e contra-apostas, além de envolverem recursos bilionários, superam em mais de uma dezena de vezes o PIB mundial. O JP Morgam detém US$ 70 trilhões em derivativos financeiros. O Citibank US$ 52,1 trilhões, o Bank of America US$ 50,1 trilhões e o Goldman Sachs US$ 44,2 trilhões. Considerando que os ativos dos quatro bancos somam US$ 4,8 trilhões, a alavancagem é de nada menos que 46 a 1.
O balanço do JP Morgan da uma certa ideia da disparada das atividades especulativas, que coincidem com o aprofundamento da crise capitalista a partir do segundo semestre do ano passado. Enquanto, no último trimestre de 2011, o Banco declarou ter vendido proteção ao crédito por US$ 116 bilhões, no primeiro trimestre deste ano vendeu US$ 206 bilhões, o que, de fato, significa a duplicação das operações especulativas disfarçadas de hedge, ou proteção ao risco. E que não se trata de proteção ao crédito, mas de operações netamente especulativas, fica demonstrado pela perda dos US$ 2 bilhões, num quase “sumiço fantasmagórico”, que, provavelmente, irá tornar-se uma cifra ainda maior.
Os mecanismos de apostas e contra-apostas da especulação mundial e a bancarrota do capitalismo
O especuladores propagandeiam que as apostas seriam, supostamente, neutralizadas por contra-apostas, o que, supostamente, eliminaria os riscos. Não tem sido isso o que tem acontecido quando esses mecanismos colapsaram, como aconteceu, por exemplo, após a quebra da maior seguradora mundial, a AIG, em 2008, e, no ano passado, da MFGlobal ou, mesmo agora, com as perdas do JP Morgan que, provavelmente, serão maiores que as anunciadas.
As bolhas creditícias alcançam níveis estratosféricos. Da mesma maneira que os CDOs (credit default operations) da subprime imobiliária e os CDS (credit default swaps) da crise imobiliária geraram perdas gigantescas, os derivativos financeiros relacionados às dívidas públicas e das empresas deverão levar o sistema financeiro mundial ao colapso no próximo período. Esses mecanismos fomentam o endividamento público e privado e promovem o fomento artificial do consumo com o objetivo de manter funcionando a ciranda financeira. Os riscos são mascarados, mas as apostas não param de crescer em quantidade e volume, aumentando exponencialmente, na realidade, a exposição ao risco.
O volume de derivativos vinculado a taxas de juros encontra-se em aproximadamente US$ 100 trilhões acima do volume de 2008. Como foi evidenciado pelas recentes perdas do JP Morgan e o acordo para reduzir da dívida pública grega em US$ 78 bilhões, o disparo dos CDS pode levar o sistema financeiro mundial a uma bancarrota sem precedentes em efeito dominó.
Todos os bancos norte-americanos estão cobertos pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) e perdas de grande volumes deverão ser cobertas com recursos públicos de acordo com a política do TBTF (Muito Grande Para Falir). Este mecanismo foi montado, pois a especulação financeira somente é possível em cima de recursos públicos e levou, como consequência ao pior e mais acelerado endividamento público da história da humanidade.
A crise dos bancos centrais das potências imperialistas e a inviabilidade do crescimento econômico
As baixas taxas de juros praticadas pelos bancos centrais das principais potências imperialistas tem se transformado num dos principais instrumentos para viabilizar a rolagem dos serviços das dívidas públicas que continuam batendo recordes históricos.
Os enormes volumes de recursos despejados no sistema financeiro pelas principais potencias imperialistas, nos últimos quatro anos, com o objetivo de salvar os especuladores financeiros da bancarrota e continuar garantindo as suas obscenas taxas de lucro, levaram a uma séria deterioração dos balanços dos bancos centrais. Esses balanços representam a garantia da base monetária do dólar, a libra, o iene, o euro e das demais moedas. Essas reservas são usadas para comprar papel moeda e reduzir o montante de circulante, como um dos mecanismos de controle da inflação e da valorização das moedas.
A partir de setembro de 2008, os bancos centrais das potências imperialistas mudaram sensivelmente a composição dos seus balanços mediante a compra intensiva de ativos podres. Após a bancarrota do banco norte-americano Lehman Brothers, que junto com a bancarrota da maior asseguradora do mundo, a AIG, levou à bancarrota generalizada do sistema financeiro, os balanços foram triplicados, na comparação com o mês de junho de 2007, para possibilitar injeções de recursos trilionárias.
Vários programas permitiram esse aluvião de repasse de recursos para os especuladores financeiros. Nos EUA, foram o TAF, TARF, TARP, QE 1, 2 e 3 etc. As empresas em bancarrota como a AIG, o Bear Stearns e o JP Morgan, entre outras, passaram a tomar empréstimos diretamente da Reserva Federal através do PDCF (Primary Dealer Credit Facility). A criação do AMLF (Asset- Backed Commercial Paper Money Market Mutual Fund Liquidity Facility) permitiu que o sistema financeiro parasitário contraísse empréstimos da Reserva Federal usando como colaterais papéis podres. Na Europa, o ALE, o LTRO e vários outros. Da mesma maneira têm atuado os governos do Japão e da Grã Bretanha.
Todas as principais transações comerciais no mercado mundial são realizadas em mercados futuros e creditícios mediante derivativos financeiros comercializados pelas multinacionais que são protegidas pela política TBTF. Tratam-se de mecanismos artificiais para manter altas taxas de lucro para os especuladores imperialistas a qualquer custo em cima um certo desenvolvimento artificial e parasitário da economia capitalista que, cada vez mais, intensifica o sufocamento das forças produtivas. É evidente que falar em política de crescimento econômico imersa na especulação financeira é irrealizável. Todas as políticas que têm sido implementadas pelo imperialismo desde 2008, com o objetivo de conter o aprofundamento da crise capitalista, somente conseguiram um alívio no curto prazo ao custo da disparada da bancarrota dos estados burgueses.
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