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A autoridade moral dos EUA está morta e enterrada

por Caitlin Johnstone (pt-BR) | caitlinjohnstone.com

Comunidad Saker Latinoamérica - 5 de abril, 2023

http://sakerlatam.org/a-autoridade-moral-dos-eua-esta-morta-e-enterrada/

Sete democratas progressistas da Câmara dos Deputados assinaram uma carta ao procurador-geral Merrick Garland pedindo que o governo Biden retire as acusações contra Julian Assange e deixe de buscar sua extradição.

É uma boa carta no que diz respeito a essas coisas. Ela lista os principais grupos de defesa da liberdade de imprensa e cães de guarda dos direitos humanos que pediram a libertação de Assange, identifica corretamente as ameaças que este caso representa para a liberdade de imprensa em todo o mundo e evita entrar em qualquer uma das difamações clássicas contra Assange que normalmente trabalham em objeções de alto nível à perseguição do fundador do WikiLeaks. É inegavelmente bom que esta carta exista.

Dito isto, eu gostaria de abordar esta parte da carta chamando a atenção por um momento e destacar algumas partes para ênfase:

A acusação de Julian Assange por realizar atividades jornalísticas diminui muito a credibilidade dos Estados Unidos como defensor desses valores, minando a posição moral dos Estados Unidos no cenário mundial e efetivamente concedendo cobertura a governos autoritários que podem (e fazem) apontar para a acusação de Assange de rejeitar críticas baseadas em evidências de seus registros de direitos humanos e como um precedente que justifica a criminalização de relatar tais atividades. Líderes de democracias, grandes organismos internacionais e parlamentares em todo o mundo se opõem à acusação de Assange. O ex-relator especial das Nações Unidas sobre tortura, Nils Melzer, e a comissária do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Dunja Mijatovic, se opuseram à extradição. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, pediu ao governo dos EUA que encerre a perseguição de Assange. Líderes de quase todas as principais nações latino-americanas, incluindo o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente argentino Alberto Fernández pediram que as acusações fossem retiradas. Parlamentares de todo o mundo, incluindo Reino Unido, Alemanha e Austrália, pediram que Assange não fosse extraditado para os EUA.

Esse clamor global contra a acusação do governo dos EUA contra Assange destacou conflitos entre os valores declarados da liberdade de imprensa dos Estados Unidos e sua caça por Assange. O Guardian escreveu: “Os EUA proclamaram-se esta semana o farol da democracia num mundo cada vez mais autoritário. Se Biden leva a sério a proteção da capacidade da mídia de responsabilizar os governos, ele deveria começar retirando as acusações feitas contra Assange.” Da mesma forma, o conselho editorial do Sydney Morning Herald declarou: “No momento em que o presidente dos EUA, Joe Biden, acaba de realizar uma cúpula pela democracia, parece contraditório ir tão longe para ganhar um caso que, se for bem-sucedido, limitará a liberdade de expressão”.

Isso, na minha opinião, é a parte mais impactante da carta, no sentido de que é a parte que é mais provável que realmente chame a atenção dos responsáveis pela perseguição contínua de Assange. Na verdade, parece ter sido deliberadamente criado para fazê-lo.

Aprisionar Assange em Belmarsh, enquanto trabalha em direção ao passo sem precedentes de julgar um editor sob a Lei de Espionagem, de fato prejudica a posição moral dos Estados Unidos no cenário mundial e, de fato, concede aos governos, que os EUA não gostam, a capacidade de descartar a angústia de Washington sobre os direitos humanos como hipocrisia performativa cínica. Mas enquanto os autores da carta ao procurador-geral de Biden enquadram isso como algo ilegítimo que é feito contrariamente aos fatos em evidência, na realidade a autoridade moral dos Estados Unidos para criticar os registros de direitos humanos de nações estrangeiras foi irreparavelmente destruída. Não apenas dentro dos túneis da realidade de propagandistas estrangeiros, mas na realidade.

Quando as pessoas falam sobre “autoridade moral”, muitas vezes é de uma maneira abstrata e filosófica, como se fosse uma questão de coerência lógica: “Você não tem autoridade moral sobre esse assunto porque é hipócrita e sua posição declarada contradiz suas próprias ações”. Como se fosse apenas uma discussão sobre se as caixas de seleção intelectuais corretas foram marcadas e, se não tiverem, significa que você pode apontar o dedo para elas e declarar um xeque-mate mental. Mas a questão da autoridade moral se resume a algo muito mais tangível do que isso.

A autoridade moral é uma medida das qualificações de alguém para a liderança em questões morais. Se eu sou conhecido como uma pessoa moral que toma decisões morais, faz sentido que as pessoas olhem para mim em busca de liderança em questões de moralidade. Se eu sou conhecido como uma pessoa imoral, então ninguém está vindo a mim para orientação moral, porque eles entendem que eu não tenho as qualificações para esse papel.

Então, quando as pessoas tentam enquadrar a perseguição de Assange como uma questão de percepção pública e luta contra narrativas estrangeiras sobre os EUA, elas estão incorretas. A questão não é que a perseguição de Assange faz os EUA parecerem ruins, a questão é que ela prova que os EUA são ruins.

E é claro que não precisávamos da perseguição de Assange para descobrir isso por nós mesmos. Os EUA são o único governo na Terra que passou o século 21 matando milhões de pessoas em guerras pelo domínio geoestratégico, que tem estrangulado populações com sanções de fome e bloqueios em todo o mundo, que está circulando o planeta com centenas de bases militares com o objetivo de dominação global, e que tem aumentado continuamente o risco de armagedom nuclear com suas agendas em rápida escalada voltadas para garantir a hegemonia unipolar. O caso de Assange apenas torna sua completa falta de moral muito mais clara.

Tudo isso ainda será o caso, mesmo que Assange seja libertado. O império dos EUA ainda terá passado anos aprisionando um jornalista pelo crime do bom jornalismo, ainda será o pior belicista do mundo e ainda será o mais notório violador dos direitos humanos do mundo. Sua posição moral está morta e enterrada, e o mundo deve parar de seguir sua liderança na criação de um mundo justo e ético. Simplesmente não tem as qualificações para fazê-lo. Na verdade, nenhuma estrutura de poder na Terra é menos qualificada.

Caitlin Johnstone é autora de Rogue Nation: Psychonautical Adventures

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