Congo 1960: CIA ajuda Mobutu a subir ao poder
General viria a assumir Presidência em cinco anos, dando início a era de forte repressão
por Max Altman
Opera Mundi - 14/09/2013
Em 14 de setembro de 1960, Mobutu Sese Seko toma o controle da República do Congo mediante um golpe de estado orquestrado pela CIA, colocando Patrice Lumumba em prisão domiciliar e mantendo Joseph Kasavubu como presidente.
O Congo Belga era um dos maiores exportadores de urânio – metal fundamental para a construção da bomba atômica – para os Estados Unidos durante a II Guerra Mundial e a Guerra Fria. Destaque-se que na década de 1950 ainda subsistiam trabalhos forçados e a esperança de vida não alcançava os 40 anos. Os nativos não tinham qualquer poder. Tudo se decidia em Bruxelas e Leopoldville (atual Kinshasa). O mal-estar cresce e em 1955 a classe alta congolesa, os chamados “évolués”, iniciaram uma campanha para reverter a situação.
Em 1959 se realizaram as primeiras eleições livres que foram ganhas pelo Mouvement National Congolais, liderado por Patrice Lumumba, combatente da independência e primeiro chefe de governo da República do Congo. Agentes do colonialismo belga e da CIA, com a conivência de traidores congoleses, o assassinariam de forma bárbara, aos 35 anos, em 17 de janeiro de 1961, na província de Katanga. Seus restos mortais foram queimados.
O governo belga desejava seguir controlando a riqueza natural do país e apoiou a secessão de Katanga e Kasai do Sul, impondo governos títeres nesses territórios. Durante as discussões em Bruxelas sobre a independência congolesa, a embaixada dos Estados Unidos organizou uma recepção para conseguir envolver e convencer cada um dos membros da delegação do Congo. O embaixador observou: “um nome desconhecido emerge, que não estava em nenhuma lista. É um homem muito inteligente, bastante jovem, algo imaturo, porém com um grande potencial”. Tratava-se de Lumumba.
Em 30 de junho de 1960 forma-se um governo de coalizão, tendo Patrice Lumumba como primeiro-ministro e Joseph Kasavubu como presidente. A nação logo se viu envolta em crise. Quando o exército se amotinou contra os oficiais belgas que haviam permanecido, Lumumba designou Mobutu como comandante-em-chefe do Exército quem convenceu os soldados a voltar para os quarteis. Ao mesmo tempo, Mobutu tratou de trazer de volta à soberania do Congo, as secessionistas Katanga e Kasai. Cria-se um clima de guerra.
As forças das Nações Unidas enviadas para restaurar a ordem não estavam ajudando a derrotar os separatistas. Lumumba solicitou ajuda de Washington não sendo sequer recebido pelo presidente dos Estados Unidos, o que motivou a aproximação com a União Soviética. Dela recebeu, em seis semanas, uma volumosa ajuda militar e cerca de mil conselheiros técnicos. O governo dos Estados Unidos via isto como uma manobra de Guerra Fria para disseminar o comunismo na África Central. Kasavubu, irritado com a chegada soviética, demite Lumumba. Por seu lado, indignado, Lumumba declara deposto o presidente Kasavubu. Tanto Lumumba como Kasavubu ordenam a Mobutu prender o outro.
Depois de cinco anos de extrema instabilidade e descontentamento civil, Mobutu, agora tenente-general e apoiado pela CIA, derroca Kasavubu, em 1965, com um golpe de Estado. Mobutu se autoproclama chefe de Estado e estabelece um sistema político de partido único. Ocasionalmente convocava eleições presidenciais em que era o único candidato.
Mobutu foi acusado de violações aos direitos humanos, repressões, culto extremo à personalidade e alta corrupção. Dizia-se que em 1984 Mobutu possuía 4 bilhões de dólares, montante similar à dívida nacional.
A fim de avivar o sentimento africanista, começou em 1º de junho de 1966 a renomear as cidades do país: Léopoldville se converteu em Kinshasa; Stanleyville passou a se chamar Kisangani e Elisabethville, Lumbumbashi. Em 1971 o próprio país passou a se chamar República do Zaire – a quarta mudança de nome em 11 anos e a sexta no total. O rio Congo se converteu em rio Zaire e no ano seguinte mudou o seu próprio nome para Mobutu Sese Seko.
Após o colapso da União Soviética, as relações com Washington se esfriaram. Não era mais um aliado necessário como na Guerra Fria. Em 1990 declara a “Terceira República” cuja constituição sugeria um passo à democratização. Contudo, continuou governando ditatorialmente.
Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga significava: “O Todo Poderoso Guerreiro que, Por Sua Força e Inabalável Vontade de Vencer, Vai de Conquista em Conquista, Deixando Fogo em Seu Rastro”. Com uma imagem marcada pelo uso de um barrete de pele de leopardo e uma bengala, ficou para a história contemporânea da África como um dos mais ferrenhos ditadores do continente.
Mobutu governava um dos países mais ricos da África, com minas de metais e pedras preciosos. No entanto, o povo vivia cada vez mais abaixo do limiar da pobreza. A dívida externa chegava a atingir os 12 bilhões de dólares, porém a fortuna pessoal de Mobutu alcançava cerca de sete bilhões de dólares.
Em 1997, o regime de Mobutu chegou ao fim. Após 32 anos no poder, o "Grande Leopardo" viu-se obrigado a abandonar o país, deixando o poder ao seu inimigo Laurent-Desiré Kabila. Morreu de câncer de próstata no exílio, em Rabat, Marrocos, em setembro de 1997.
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