por James Petras
ODiario.info - 31 de Agosto de 2013
A 16 de julho, o Goldman Sachs, quinto maior banco por ativos, anunciou que os lucros do segundo trimestre ultrapassaram os do ano anterior por 1,93 mil milhões de dólares. O J. P. Morgan, o maior banco de todos, fez no segundo trimestre 6,1 mil milhões de dólares, cerca de 32% mais que no ano anterior, e espera fazer 25 mil milhões de lucros em 2013. Wells Fargo, o quarto maior banco, arrebanhou 5,27 mil milhões de dólares, mais 20%. Os lucros do Citigroup atingiram 4,18 mil milhões, mais 42% que no ano passado.
A elite dirigente, os Diretores Gerais financeiros, vê os seus vencimentos subirem em flecha. John Stumpf do Wells Fargo recebeu 19,3 milhões em 2012; Jamie Dimon do J. P. Morgan Chase empochou 18,7 milhões e Lloyd Blankfein do Goldman Sachs ficou com 13,3 milhões.
Os resgates da Wall Street por Bush e Obama tiveram como resultado o agravamento da financeirização da economia americana. A finança substituiu a indústria tecnológica como setor lucrativo da economia dos EUA. Enquanto a economia dos EUA estagna e a União Europeia se debate com a recessão e com mais de 50 milhões de desempregados, as grandes empresas financeiras americanas do índice 500 da Standard & Poor ganhavam lucros consolidados de 49 mil milhões no segundo trimestre de 2013, ao passo que o setor técnico anunciava 41,5 mil milhões. Para 2013, Wall Street projeta ganhar 198,5 mil milhões de dólares em lucros, enquanto as empresas técnicas esperam 183,1 mil milhões. Dentro do setor financeiro, os setores mais «especulativos», isto é, os bancos de investimento e as firmas de corretagem, são dominantes e com crescimento dinâmico de 40% em 2013. Mais de 20% dos lucros das empresas do índice 500 S & P estão concentrados no setor financeiro.
O crash financeiro de 2008-2009 e o resgate de Obama reforçaram o domínio da Wall Street sobre a economia dos EUA. O resultado é que o setor financeiro parasitário extrai rendas e lucros colossais da economia e priva as indústrias produtivas de capital e ganhos. A recuperação e boom dos lucros das corporações desde a crise estão concentrados no mesmo setor que provocou o crash alguns anos antes.
A Crise do Trabalho agrava-se – 2013
A nova bolha especulativa de 2012-2013 é um produto da política de juros baixos ou virtualmente nulos dos bancos centrais (nos EUA, a Reserva Federal), que permitem à Wall Street empréstimos baratos e especulação, atividades que inflacionam o preço das ações mas não geram emprego e, além disso, deprimem a indústria e polarizam a economia.
A promoção de lucros financeiros pelo regime de Obama é acompanhada das suas políticas de redução dos padrões de vida para os trabalhadores com vencimento e assalariados. A Casa Branca e o Congresso cortaram a despesa pública na saúde, na educação e nos serviços sociais. Cortaram fundos para o programa de senhas de alimentação (subsídios de alimentação para as famílias pobres), centros de dia, benefícios para desempregados, indexação à inflação da segurança social, Medicare e programas Medicare. Como resultado, o fosso entre os 10% do topo e os 90% abaixo foi alargado. Vencimentos e salários baixaram em termos relativos e absolutos, visto que os empregadores tiram vantagem do elevado desemprego (oficialmente 7,8%), subemprego (15%) e emprego precário.
Em 2013, os lucros capitalistas, especialmente no capital financeiro, crescem rapidamente enquanto a crise do trabalho continua, aprofunda-se e provoca a alienação política. Fora da América do Norte, especialmente na periferia europeia, o desemprego em massa e a degradação do nível de vida tem levado a protestos massivos e repetidas greves gerais.
Na primeira metade de 2013, os trabalhadores gregos organizaram quatro greves gerais de protesto contra o despedimento em massa de trabalhadores do setor público. Em Portugal, duas greves gerais levaram à exigência de demissão do primeiro-ministro e novas eleições. Em Espanha, a corrupção ao mais alto nível, a austeridade fiscal responsável por 25% de desemprego e a repressão levaram à intensificação da luta de rua e à exigência de queda do regime.
O mundo bi-polar de banqueiros ricos no norte colhendo lucros record e por todo o lado trabalhadores recebendo uma parte cada vez menor do rendimento nacional mostra a base de classe da «recuperação» e da «depressão» com a prosperidade para poucos e a miséria para muitos. Pelo final de 2013, os desequilíbrios entre finança e produção antecipam um novo ciclo de boom e queda. É emblemática da morte da «economia produtiva» a declaração de falência de Detroit que, com 79.000 casas, lojas e fábricas vazias, parece Bagdad depois da invasão americana – nada funciona. A cidade devastada pela Wall Street, em tempos berço da indústria automóvel e do salto dos operários industriais organizados para a classe média, tem agora dívidas que totalizam 20 mil milhões de dólares. As três grandes companhias do automóvel deslocalizaram-se para o estrangeiro e para estados fora da união, enquanto os banqueiros bilionários «reestruturam» a economia, quebram os sindicatos, baixam salários, renegam pensões e governam por decreto administrativo.
James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque, é amigo e colaborador de odiario.info.
Tradução: Jorge Vasconcelos
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