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Dimensão estratégica e política externa dos Estados Unidos

“…America is too democratic at home to be autocratic abroad. This limits the use of America’s power, especially its capacity for military intimidation”.
Zbigniew Brzezinski [1]

por Luiz Alberto Moniz Bandeira (pt-BR)

Revista Espaço Acadêmico - 1 de Novembro, 2008

http://www.espacoacademico.com.br/090/90bandeira.htm

A Eurásia é a massa de terra que se estende da Europa à Ásia, separada pela cordilheira dos Montes Urais, tendo a Rússia e a Turquia parte de seus territórios nos dois continentes. Seu heartland, situado, fundamentalmente, entre a Ásia Central e o Mar Cáspio, abrange o Cazaquistão, Armênia, Azerbaijão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Usbequistão, Sibéria Ocidental e parte setentrional do Paquistão, e é circundado pelo Afeganistão, Rússia, China, Índia e Irã. [2] Sir Halford John Mackinder, no início do século XX, em conferência, na London’s Royal Geographical Society, sob o título "The Geographical Pivot of History" [3], sustentou que este "closed heartland of Euro-Asia" era o "pivot" do equilíbrio global e o Estado que o controlasse teria condições de projetar o poder de um lado para o outro lado da região. Ali o poder terrestre teria maior vantagem, devido ao fato de que seus rios fluíam para mares mediterrâneos, o que a tornava inaccessível a uma força naval, através do Oceano Ártico, e poderia não apenas explorar os recursos naturais lá existentes como usar os meios terrestres de comunicação, mais rápidos que os marítimos. O Estado que dominasse heartland, “the greatest natural fortress on earth”, teria, portanto, a possibilidade de comandar toda a Eurásia, chamada por Mackinder de World Island [4].


Ásia Central - Heartland

Durante o governo presidente James Earl Carter (1977-1981), Zbigniew Brzezinski, seu assessor de Segurança Nacional, tratou de orientar a política externa, dentro dos mesmos parâmetros de Mackinder. Ele considerava que, naquele contexto da Guerra Fria, a forma como os Estados manejavam a Eurásia era crítica e enfatizou a doutrina segundo a qual o Estado que dominasse este vasto continente, que constituía um eixo geopolítico, controlaria duas das três mais regiões econômicas mais produtivas e avançadas do mundo, subordinaria África e tornaria o hemisfério ocidental e a Oceania geopoliticamente periféricos. Ali, na Eurásia, viviam 75% da população mundial e estavam depositadas 3/4 das fontes de energia conhecidas em todo o mundo.[5] Com esta percepção, Brzezinski induziu o presidente Carter a abrir um terceiro front, na Guerra Fria, instigando contra Moscou os povos islâmicos da Ásia Central, no heartland de Eurásia e integrantes da União Soviética, com o objetivo de formar um green belt[6] e conter o avanço dos comunistas na direção das águas quentes do Golfo Pérsico e dos campos de petróleo do Oriente Médio.[7]

Brzezinski, em seu livro Game Plan – How to Conduct the U.S. – Soviet Contest, reconheceu que a contenda entre os Estados Unidos e a União Soviética não era entre duas nações. Era “between two empires”, i. e., entre duas nações que haviam adquirido “imperial attributes even before their post-World War II colision”.[8] A União Soviética esbarrondou-se, entre 1989 e 1991, quando perdeu o domínio não apenas sobre os Estados do Leste-Europeu como, também, sobre outras repúblicas que a integravam, inclusive as do Báltico e da Ásia Central, abrindo um vacuum político, que os Estados Unidos aproveitaram para ocupar. E uma conseqüência geopolítica, produzida pelo fim da Guerra Fria, foi acirrar a disputa em torno das imensas fontes de energia – gás e petróleo – existentes naquela parte do heartland euro-asiático. Com independência das cinco repúblicas soviética da Ásia Central e a fraqueza dos novos Estados emergentes dos escombros da União Soviética, os Estados Unidos aproveitaram o vacuum e avançaram sobre a região. Expandiram a OTAN às fronteiras da Rússia, incorporando alguns Estados que antes pertenceram ao Bloco Socialista, impuseram sua preeminência nos Bálcãs, com o desmembramento da antiga Iugoslávia, e empreenderam guerras para a ocupação do Afeganistão e Iraque. A Rússia não podia tolerar que a OTAN, uma aliança militar, se transformasse em uma espécie de ONU, árbitro político com autoridade para intervir contra qualquer regime, como fez com respeito à Sérvia, na questão do Kosovo, e continuasse a incorporar as repúblicas orientais, como a Geórgia e a Ucrânia, que antes integraram a extinta União Soviética.[9]

No governo do presidente George H. W. Bush (1989–1993), período em que ocorreu o desmoronamento da União Soviética e de todo o Bloco Socialista, o general Colin Powell, como chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, recomendou que governo preservasse a “credible capability to forestall any potential adversary from competing militarily” com os Estados Unidos[10], impedisse a União Européia de tornar-se uma potência militar, fora da OTAN, a remilitarização do Japão e da Rússia, e desencorajasse qualquer desafio à sua preponderância ou tentativa de reverter a ordem econômica e política internacionalmente estabelecida. E assinalou para as Forças Armadas dos países latino-americanos as suas novas missões, que consistiam em

“to maintain only such military capabilities as are necessary for self-defense and alliance commitments counter-narcotrafic efforts, disaster relief, international peacekeeping forces and consistent with their laws and constitutions and other missions, with the principles of the Organization of American States and United Nations Charters”.[11]

Na mesma época, 1992, Dick Cheney, como secretário de Defesa do governo de George H. W. Bush, divulgou um documento, no qual confirmou que a primeira missão política e militar dos Estados Unidos pós-Guerra Fria consistia em impedir o surgimento de algum poder rival na Europa, na Ásia e na extinta União Soviética.

Mas, desde a administração do presidente Ronald Reagan (1981-1989), o Pentágono, estava a gestar novas ameaças, como justificativa para os vultosos recursos orçamentários com os quais financiava o complexo industrial-militar e toda a sua cadeia produtiva, bem como a cadeia de bases militares e tropas nas mais diversas regiões do mundo. O “perigo verde”, identificado com o fundamentalismo islâmico, começou a substituir o “perigo vermelho”, representado pela União Soviética, e o “terrorismo internacional” passou a ocupar relevante espaço na agenda internacional dos Estados Unidos. Em 1984, porém, Reagan tomou como principal alvo, não mais as organizações responsáveis pelos atentados, mas alguns Estados, no Terceiro Mundo, os quais classificou como “rogue states” (estados irresponsáveis, indisciplinados) e acusou de patrocinar o terrorismo (state-sponsored terrorism). E após o esbarrondamento da União Soviética e de todo o Bloco Socialista, o terrorismo e o narcotráfico configuraram os novos inimigos a combater[12], porquanto não mais havia outro Estado ou bloco de Estados com capacidade de desafiar e por em risco sistema econômico, social e político dos Estados Unidos, cuja força militar se tornara, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a única no mundo a ter como principal missão, não a defensiva, mas a ofensiva, não a de guardar as fronteiras nacionais, mas a de projetar seu poder sobre todos os continentes, nos quais instalou seis comandos militares, que caracterizam o domínio imperial.[13]


http://www.defense.gov/home/features/2009/0109_unifiedcommand/

Embora buscasse maior comprometimento multilateral, o presidente William “Bill” Clinton (1993-2001), do Partido Democrata, manteve substancialmente a agenda política externa dos seus antecessores do Partido Republicano, Ronald Reagan e George H. H. Bush. O “counter-terrorism” foi a “a top priority for the Clinton Administration”, conforme a Casa Branca anunciou em 1995.[14] E Madaleine Albright, secretária de Estado na sua administração, enfatizou que o terrorismo constituía a mais importante ameaça que os Estados Unidos e o mundo enfrentariam no início do século XXI e altos funcionários norte-americanos reconheceram que os terroristas, mais do que nunca, estavam em condições de obter e usar armas nucleares, químicas e biológicas.

O que predominou em Washington, nos anos 1990, foi a doutrina, segundo a qual os Estados Unidos deveriam exercer seu “unrivaled power”, como um império, a fim de trazer estabilidade internacional, resolver os problemas do terrorismo, das “rogue nations”, das armas de destruição em massa etc... As propostas para tornar os Estados Unidos um império não eram intelectualmente sérias, na opinião do jornalista William Pfaff, do International Herald Tribune, mas eram significativas, porque a classe política e a burocracia estavam apaixonadas pelo poder internacional e “they want more”[15]. A enorme cadeia de bases militares, que os Estados Unidos mantêm em todos os continentes, exceto Antártica, configura, de fato, uma forma de império.[16] De acordo, com as estatísticas do Departamento de Defesa, havia cerca de 725 bases militares dos Estados Unidos, em 38 países, por volta de 2003, e em torno de 100.000 soldados em toda a Europa[17]. Só na Alemanha, mesmo terminada a Guerra Fria e a retirada das tropas pela extinta União Soviética, os Estados Unidos possuíam cerca de 20 bases militares e quartéis (facilities), devido à vantagem de estarem mais próximas do Oriente Médio e da Ásia Central, em um país com uma democracia estável e condições de vida, que propiciavam melhor conforto e comodidade às suas tropas, cujo total era de aproximadamente 75.000 soldados, em 2004, somente na Alemanha.

Os Estados Unidos, por meio do poder militar, com o suporte da mídia, como as redes de televisão CNN e Fox, passaram a dominar o mundo e conformaram um império informal, a partir da derrota da Alemanha e do Japão, em 1945. Segundo o jornalista William Pfaff ressaltou, “Washington ignores whenever convenient”[18] os princípios da soberania nacional e da igualdade das nações, que desde o século XVII, quando foi celebrado, em 30 de janeiro de 1648, o Tratado de Westphalia, em Münster (Alemanha), pondo fim à Guerra dos 30 Anos, constituíram os fundamentos do Direito Internacional. Foi com base em tais princípios que o grande jurista brasileiro Rui Barbosa, como chefe da Delegação do Brasil, na Segunda Conferência de Paz, em Haia (1907), proclamou que “la souverainité est la grande muraille de la patrie e defendeu a “l’égalité des Etats souverains”, contra a posição dos Estados Unidos e outras grandes potências, que pretendiam criar um Supremo Tribunal Arbitral, discriminando os demais países na sua composição.[19]

Militarização da política externa

Com a ascensão de George W. Bush à presidência, os neo-conservadores, conhecidos como neocons, a “hard right” do Partido Conservador, trataram de orientar a política internacional dos Estados Unidos, conforme o Project for the New American Century (PNAC), que consistia em aumentar os gastos com defesa, fortalecer os vínculos democráticos e desafiar os “regimes hostis aos interesses e valores” americanos, promover a “liberdade política” em todo o mundo, e aceitar para os Estados Unidos o papel exclusivo de “preservar e estender uma ordem internacional amigável (friendly) à nossa segurança, nossa prosperidade e nossos princípios”. Contudo, a primeira prioridade do presidente George W. Bush, quando inaugurou o governo no início de 2001, não foi combater o terrorismo ou a proliferação de armas de destruição em massa, porém aumentar o fluxo de petróleo do exterior, devido à redução dos estoques de petróleo e de gás natural, nos Estados Unidos, evidenciada pelos blackouts ocorridos na Califórnia, enquanto as importações de petróleo estavam a ultrapassar 50% do consumo interno. E os atentados de 11 de setembro de 2001 contra as torres-gêmeas do World Trade Center, em Nova York, permitiram que o governo de Washington, sob a consigna da “war on terrorism”, intensificasse a militarização da política externa e empreendesse a campanha para assegurar as fontes de energia – gás e petróleo – e as rotas de abastecimento, uma “vital sphere” de interesses dos Estados Unidos, da cordilheira de Hindu Kush, no Afeganistão e nordeste do Paquistão, envolvendo o Irã e o Oriente Médio, até o Bosphorus.[20] Assim, a guerra contra o terrorismo constituiu mera figura de retórica, um eufemismo, para disfarçar os reais os objetivos do presidente George W. Bush, que consistiam em vencer a resistência e/ou a insurgência islâmica, e controlar a Ásia Central e o Oriente Médio, com suas enormes jazidas de gás e petróleo. A convergência das necessidades da economia mundial capitalista e os interesses das grandes corporações pautou a sua política internacional.

A mudança na estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos, substituindo a doutrina de containment and deterrence (contenção e dissuasão) pela de preemptive attacks, i. e., de ataques preventivos, contra grupos terroristas ou países percebidos como ameaça, foi oficializada em setembro de 2002, com a emissão do documento “The National Security Strategy of the United States of America”.[21] Esta mudança era necessária, como fundamento para as intervenções militares, que o presidente George W. Bush e os neocons pretendiam promover, visando a assegurar a superioridade militar, política e estratégica dos Estados Unidos, mediante o controle, sobretudo, das fontes de energia existentes na Ásia Central e no Oriente Médio. A perspectiva era, então, a de que a sociedade americana estaria a enfrentar a maior crise de suprimentos de energia, nas duas próximas décadas. Previa-se que, nos próximos 20 anos, i. e., até 2020, o consumo de petróleo pelos Estados Unidos aumentaria para cerca de 6 milhões de barris por dia, enquanto a sua produção declinaria cerca 1,5 milhão de barris por dia e atenderia a menos de 20% do consumo. Ao mesmo tempo, o consumo de gás natural cresceria cerca de 50%, mas a produção aumentaria apenas 14%.[22] Diante de tais perspectivas, logo nos primeiros meses da administração de George W. Bush, em 19 de março de 2001, o secretário de Energia, Spencer Abraham, admitiu em conferência na National Energy Summit que a “America faces a major energy supply crisis over the next two decades," told The failure to meet this challenge will threaten our nation’s economic prosperity, compromise our national security, and literally alter the way we lead our lives."[23] Em tais circunstâncias, quando a crise de energia na Califórnia, àquela época, começou a fugir do controle, Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos e ex-chefe executivo da Haliburton, reuniu-se, secretamente, com diretores das maiores companhias de petróleo e gás, a fim de debater a questão energética. E uma Task Force, nomeada pelo presidente George W. Bush e dirigida por Dick Cheney, formulou a National Energy Policy, como um problema de segurança nacional.

Geopolítica do petróleo

A segurança nacional dos Estados Unidos, portanto, implicava, necessariamente, o domínio das fontes de energia, no Oriente Médio, onde estavam depositadas cerca de 64,5% das reservas conhecidas de petróleo, bem como na Ásia Central. Qualquer outra potência, que dominasse aquelas regiões, teria poderosa arma para ameaçar a sociedade americana, cuja segurança energética se tornara bastante vulnerável, uma vez que mais de 50% do consumo de petróleo nos Estados Unidos dependia das importações. Daí o ataque ao Afeganistão, por onde deveria passar um oleoduto, ligando o Turcomenistão ao Paquistão, e a invasão e ocupação do Iraque, onde estavam, após as da Arábia Saudita, as maiores reservas provadas de petróleo, algumas com baixo custo de extração. E, com o objetivo estratégico de estabelecer plataformas aéreas para eventuais guerras preventivas ou outras missões militares, os Estados Unidos expandiram seu aparato militar, mediante a construção de novo arco de bases e instalações nas antigas repúblicas soviéticas – Quirguistão, Tadjiquistão e Usbequistão – no heartland da Eurásia, assim como no Paquistão, Qatar e Dijibouti.

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Documentos datados de março de 2001, que o Departamento de Comércio dos Estados Unidos teve de desclassificar, em meados de 2003, como resultado de processo movido pelas organizações Sierra Club (ambientalista) e pela Judicial Watch, revelaram que a Task Force, dirigida pelo vice-presidente Dick Cheney, havia elaborado dois mapas dos campos de petróleo, oleodutos, refinarias e terminais, bem como dois mapas detalhando os projetos e as companhias que pretendiam executá-los. [24] Depois da invasão pelos Estados Unidos, em 2003, os geólogos das companhias multinacionais realizaram pesquisas e estimaram que nos territórios relativamente inexplorados, os desertos do oeste e sudeste do país, podiam conter reservas adicionais de 45 a 100 bilhões de barris (bbls) de petróleo recuperável.[25] E, em 19 de junho de 2008, The New York Times publicou um artigo intitulado "Deals With Iraq Are Set to Bring Oil Giants Back”, comprovando que a ocupação do Iraque visou realmente a capturar os campos de petróleo. Com base em informações de funcionários do ministério responsável pelo petróleo no Iraque e de um diplomata americano, mantido no anonimato, o jornalista Andrew Kramer, no artigo, escreveu que a "Exxon Mobil, Shell, Total and BP ... along with Chevron and a number of smaller oil companies, are in talks with Iraq's Oil Ministry for no-bid contracts to service Iraq's largest fields." [26] De acordo com o Oil and Gas Journal, as reservas de petróleo provadas existentes no Iraque eram de 115 bilhões barris, em 2001, mas possivelmente o número seria muito maior ainda.

O controle dessas e outras reservas de petróleo tornou-se cada vez mais fundamental para os Estados Unidos, porquanto suas importações totalizaram US$ 327 bilhões em 2007 e, de acordo com as estimativas, alcançariam US$ 400 bilhões, em 2008, o que representava um incremento de 300%, com relação a 2002. A conta do petróleo respondeu por 35% a 40% de todo o déficit comercial dos Estados, em 2006, um percentual muito maior do que em 2002, que foi de apenas 25%.[27] Em 2007, o total do déficit comercial dos Estados Unidos foi de US$ 708,5 bilhões[28]. Embora fosse cerca de US$ 50 bilhões menor do que no ano anterior, 2006, graças à desvalorização do dólar e, conseqüentemente, ao aumento das exportações, a tendência, no entanto, era aumentar cada vez mais. Não sem razão, o presidente George W. Bush, na State of Union de 2006, advertiu que os Estados Unidos, para manter sua produção competitiva, requeria recursos energéticos baratos e aí estava o grave problema: “America is addicted to oil, which is often imported from unstable parts of the world”.[29]

Os Estados Unidos, a fim de manter a posição de potência mundial, que há mais de um século alcançaram, dependem mais e mais de fontes de energia confiáveis, especialmente petróleo, cujas importações, sobretudo da região do Golfo Pérsico, tendem a crescer, significativamente, nas próximas décadas. A expectativa era a de que a demanda mundial de petróleo saltaria de 82 milhões de bpd, em 2004, para 111 milhões bpd em 2025, o que representaria um aumento de 35%. E a Energy Information Administration (EIA), de acordo com o Annual Energy Outlook, previa um incremento ainda maior da demanda de suprimentos de petróleo pelos Estados Unidos e pelos países emergentes da Ásia – notavelmente a China – e, conseqüentemente, o aumento do preço, por volta de/até 2030. Destarte, a segurança nacional dos Estados Unidos passou a significar, também, segurança energética, elemento central da sua política externa, e o Great Game[30], o jogo de poder, intensificou-se no heartland da Eurásia, devido à emergência da China e à recuperação econômica da Rússia, envolvendo os países islâmicos, com reflexos diretos sobre o teatro de guerra no Oriente Médio. Abre-se assim novo capítulo nas relações internacionais.


O teatro de Guerra no Oriente Médio - Fonte: Centre for Research on Globalisation

Great Game

Os Estados Unidos, desde o fim da Guerra Fria, haviam avançado decididamente sobre o Usbekistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Kazaquistão, países à margem oriental da baía do Mar Cáspio. Eram as repúblicas mais pobres da extinta União Soviética, mas possuíam vastas reservas de petróleo, iguais ou maiores do que as da Arábia Saudita, e as mais ricas reservas de gás natural do mundo, comprovadamente mais de 236 trilhões de metros cúbicos, praticamente fechadas. O total das reservas de petróleo de toda a região poderia ultrapassar a casa de 60 bilhões de barris, chegando a atingir 200 bilhões, conforme revelou John J. Maresca, vice-presidente de relações internacionais da Unocal Corporation, em depoimento prestado ao Subcommittee on Ásia and Pacific e ao Committee on International Relations da House of Representatives, em 12 de fevereiro de 1998. E as companhias ocidentais tinham condições de aumentar em mais de 500% a produção, da ordem de apenas 870.000 barris em 1995, até 4,5 milhões, em 2010, o equivalente a 5% da produção mundial de petróleo.[31]

A estimativa da administração do presidente Bill Clinton, de acordo com a National Security Strategy, era a de que havia reservas de 160 bilhões de barris na bacia do Mar Cáspio, reservas que desempenhariam importante papel na crescente demanda mundial de energia.[32] Para manter o controle e a segurança dessas fontes de energia e dos dutos que transportam gás e petróleo, os Estados Unidos começaram então a implementar a militarização do corredor da Eurásia, desde o leste do Mediterrâneo, à margem da fronteira ocidental da China, para vencer o "Great Game" no heartland da Eurásia. Daí que o documento A National Security Strategy for a New Century previa que, “to deter aggression and secure our own interests, we maintain about 100,000 military personnel in the region”.[33] E mais adiante:

“A stable and prosperous Caucasus and Central Asia will facilitate rapid development and transport to international markets of large Caspian oil and gas resources with substantial US commercial participations. Resolution of regional conflicts such as Nagorno-Karabakh and Abkhazia is important for creating the stability necessary for development and transport of Caspian resources”.[34]


Projeções geopolíticas do Mar Cáspio

Em 1999, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Silk Road Strategy (SRS), renovando o Foreign Assistance Act of 1961, com o objetivo de dar maior assistência e apoio econômico e independência política aos países do sul do Cáucaso e da Ásia Central, avançar seus interesses geoestratégicos na região e opor-se à crescente influência política de potências regionais como a China, Rússia e Irã. [35] Conforme explicitado na Silk Road Strategy, esta região sul do Cáucaso e Ásia Central podia produzir petróleo e gás em suficientes quantidades para reduzir a dependência dos Estados Unidos em relação às voláteis fontes de energia do Golfo Pérsico.[36] Alguns cálculos indicavam que, por volta de 2050, a “landlocked” Ásia Central proveria mais do que 80% do petróleo importado pelos Estados Unidos e daí a premente necessidade de controlar as reservas de petróleo da região e os oleodutos através do Afeganistão e da Turquia, principal objetivo da invasão do Afeganistão em 2001.

Os Estados Unidos, contudo, não mais são o lonely power, que predominou, como um global cop, ao longo dos anos 1990, após o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria. A China emergiu como potência econômica, política e militar cada vez mais poderosa. E a Rússia, como sucessora jurídica, herdou todo o poderio bélico da extinta União Soviética, que não fora, militarmente, derrotada na Guerra Fria, recuperou-se, beneficiada, em larga medida, pela alto dos preços de energia e matérias primas, e tornou-se a décima economia mundial, com um PIB da ordem de US$ 2 trilhões (est. 2007), segundo método da purchasing power parity.[37] E não está disposta a permitir que os Estados Unidos ampliem sua presença na Ásia Central e no Cáucaso, ameaçando sua segurança.

No início de 2007, o então presidente da Rússia, Vladimir Putin, advertiu que “os Estados Unidos haviam ultrapassado suas fronteiras nacionais em todos os setores”, o que era “muito perigoso”, e mostrou-se contrário à expansão da OTAN, “uma organização político-militar que reforça sua presença em nossas fronteiras”. E acrescentou: “Um erro” [38]. O presidente Vladimir Putin sempre deixou clara a decisão de não tolerar que a OTAN estendesse sua máquina de guerra às fronteiras da Rússia, ameaçando sua posição estratégica, nem o estacionamento do escudo antimísseis, nos territórios da Polônia e da República Tcheca, conforme pretendido pelo presidente George W. Bush, bem como não aceitava a independência de Kosovo, conforme o plano do ex-presidente da Finlândia e mediador da ONU, Martti Ahtisaari, que previa o reconhecimento de uma soberania parcial da região, sob vigilância internacional. A Rússia, ao perceber a ameaça implícita nas iniciativas militares dos Estados Unidos, deu uma demonstração de força. Restaurou outra vez sua frota no Atlântico e no Mediterrâneo, bem como tratou de transformar o porto de Tartus, na Síria, em base naval para a sua frota no Mar Negro, juntamente com a instalação de um sistema de defesa antiaérea, com mísseis balísticos S-300PMU-2 Favorit, capazes de alcançar 200 km. Ao mesmo tempo, reativou os vôos de patrulha por bombardeiros atômicos, suspendidos desde 1992.

O Ocidente em xeque

Os objetivos estratégicos dos Estados Unidos e da União Européia, na Ásia Central, colidem com os interesses geopolíticos da Rússia, que se sente gravemente afetada com o avanço da OTAN. E o duro ataque militar desfechado em agosto de 2008 contra as forças da Geórgia, que invadiram a região separatista da Ossétia do Sul, constituiu séria advertência de que aquela região, no Cáucaso, à margem do Mar Negro, está na sua esfera de influência e não permitirá maior penetração dos Estados Unidos e das potências industriais do Ocidente. Assim, com a invasão da Geórgia para defender a autonomia da Ossétia do Sul, a Rússia retaliou o apoio que os Estados Unidos e a União Européia deram à independência do Kosovo, instrumentalizando a OTAN (Operation Allied Force) para bombardear a Iugoslávia em 1999. E demonstrou, como exemplo, o que poderá ocorrer se a Polônia e a República Tcheca permitirem a instalação, no seu território, das bases antimísseis pretendida pelo presidente George W. Bush. A Rússia pôs os Estados Unidos e as potências ocidentais em xeque.

Vários e complexos fatores naturalmente concorreram para a eclosão deste conflito armado. A Geórgia, das antigas repúblicas que antes integraram a União Soviética, foi a que mais estreitamente se aliou os Estados Unidos, depois da chamada Revolução Rosa, o regime change manipulado pela CIA e pelo embaixador Richard Miles[39], em novembro de 2003. Com a ascensão ao poder do advogado Mikhail Saakashvili, que cursara a Columbia Law School e a George Washington University Law School, nos anos 1990, o governo do presidente George W. Bush, executou o Georgia Train and Equip Program (GTEP), entre 2002 e 2004, e a partir de 2005, o Georgia Security and Stability Operations Program (Georgia SSOP), enviando ao Cáucaso assessores da U.S. Special Operation Forces (Green Berets), U.S. Marine Corps e outros para o treinamento de contingentes militares da Geórgia. Estes contingentes participaram das operações em Kosovo e, depois, das guerras no Afeganistão e no Iraque. Posteriormente, em meio às tensões com a Abecásia e a Ossétia do Sul, regiões separatistas e que aspiram à integração com a Rússia, o presidente Mikhail Saakashvili, encorajado pelos Estados Unidos, solicitou a adesão da Geórgia à OTAN. O mesmo fez o presidente da Ucrânia Viktor A. Yushchenko, que em novembro de 2004 assumira o poder, mediante outra operação de regime change, a Revolução Laranja, fomentada igualmente pela CIA, tendo como vice-presidente, a bilionária Yulia Timoshenko, conhecida como a “princesa do gás”.[40]

Esses acontecimentos na Geórgia e na Ucrânia resultaram da política externa do presidente George W. Bush, orientada no sentido de promover “freedom and democracy” na Ásia Central, no Oriente Médio e em outras regiões do mundo, o que significava, de acordo com as diretrizes do Project for New American Century (PNAC), “desafiar os regimes hostis aos valores” americanos, e “preservar e estender a uma ordem internacional (friendly) à nossa segurança, nossa prosperidade e nossos princípios”.[41] Em maio de 2005, o presidente George W. Bush visitou Tblisi, capital da Geórgia, que pretendia transformar em beacon of democracy, dado que o controle do sul do Cáucaso e da Ásia Central era percebido como indispensável ao êxito da guerra no Afeganistão. Os Estados Unidos já haviam assegurado o estabelecimento de bases aéreas no Usbequistão e no Quirguistão, assentando seu poder militar no heartland da Ásia Central, e no sul do Cáucaso, principalmente na Geórgia e no Azerbaijão, cujo espaço aéreo se tornou essencial para o transporte de material bélico pesado e tropas da OTAN, com destino ao Afeganistão, primeiro campo de batalha que o presidente George W. Bush denominou de guerra contra o terrorismo. Dentro desse esquema logístico, as bases na Georgia deviam servir como backup das bases na Turquia, enquanto o Azerbaijão funcionaria como área de sustentação para eventuais operações militares dos Estados Unidos contra o Irã. O ataque para derrubar o regime de Saddam Hussein mostrou a importância do estabelecimento de tais bases nas vizinhanças do Oriente Médio, quando o Parlamento da Turquia proibiu que as tropas dos Estados Unidos abrissem uma segunda frente no nordeste do Iraque, a partir do seu território.

Contudo, apesar do empenho dos Estados Unidos, a Alemanha e demais Estados europeus entenderam que ainda não era o momento para admitir tanto a Geórgia quanto a Ucrânia na OTAN, sob o argumento de que a situação dos dois países era ainda instável. Em verdade, a Alemanha e alguns Estados europeus não quiseram provocar a Rússia e criar uma grave crise, com fortes reflexos econômicos, se a Gazprom[42], como represália, cortasse fornecimento de gás do qual enormemente dependiam e dependem[43]. Entretanto, as potências ocidentais deixaram as portas abertas à Geórgia e à Ucrânia para uma eventual admissão, futuramente, como membros da OTAN. E, se isto realmente se consumasse, os Estados Unidos e as potências ocidentais conquistariam enorme vantagem geoestratégica, cercando a Rússia com poderosa estrutura militar, ao armar os exércitos da Ucrânia e da Geórgia e instalar bases da OTAN nas suas fronteiras.

Esta possibilidade, ameaçando diretamente os interesses vitais da Rússia, tornou previsível a intervenção na Geórgia, em defesa da Ossétia do Sul. O Kremlin sinalizou que iria reagir, quando aviões de sua Força Aérea Russa entraram no espaço aéreo da Geórgia e sobrevoaram território da Ossétia do Sul, poucas horas antes da vista da secretária de Estado Condollezza Rice a Tbilisi (Tiflis) e do início (15 de julho) do exercício militar Immediate Response 2008, em que 1.000 soldados dos Estados Unidos treinariam as forças da Geórgia, Azerbaijão, a Armênia e da Ucrânia, nas imediações da base militar de Vaziani. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou então que as iniciativas de Tbilisi representavam “real ameaça à paz e segurança”, o que poderia chegar “à beira de um novo conflito armado, de conseqüências imprevisíveis”.[44] O presidente Mikhail Saakashvili sabia e declarou que a Geórgia não tinha condições de enfrentar a Rússia, porém podia usar os instrumentos políticos e diplomáticos para impedir sua intervenção. E empreendeu a aventura, com o propósito de retomar o controle da Ossétia do Sul, decerto imaginando que a Rússia não reagiria, militarmente, e esperando eventual assistência dos Estados Unidos e demais membros da OTAN, com a qual firmara o Partnership Action Plan (IPAP), para receber sua assistência, com vista a futura admissão como membro.

O corredor do petróleo

Os vínculos militares estabelecidos pelos Estados Unidos com a Geórgia, inclusive incentivando sua aspiração de ingressar na OTAN, envolvem igualmente importante interesse econômico e geoestratégico, que é garantir a segurança dos dutos de petróleo e gás, entre os quais o oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC). Este oleoduto, que passa pelo território da Turquia, permite às companhias ocidentais desviar da Rússia e do Irã o fluxo de petróleo procedente do Azerbaijão e de outras repúblicas da Ásia Central, e destarte reduzir a dependência do Golfo Pérsico. Sua construção pelas companhias BOTAS Petroleum Pipeline Corporation e Bechtel Corporation (Bechtel Group), esta última intimamente vinculada ao presidente dos Estados Unidos, começou em 2002 e terminou em 2006, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos tratavam de estreitar as relações militares com a Geórgia, mediante o envio de assessores com a missão de treinar seu exército.


Rota do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan - Fonte: BBC

Esse oleoduto, com capacidade para transportar 1,0 milhão de barris de petróleo por dia, é o segundo maior do mundo e estende-se por 1.768 km, desde os campos de petróleo de Azeri-Chirag-Guneshli, à margem do Mar Cáspio. Liga Baku, capital do Azerbaijão, passando por Tbilisi, capital da Geórgia, ao porto de Ceyhan, no sudeste do Mediterrâneo, na costa da Turquia. O oleoduto Baku-Supsa leva 150.000 barris de petróleo por dia do Mar Negro ao porto de Supsa na Geórgia. E o gasoduto Baku-Tbilisi-Erzrum (BTE transporta, por ano, 6 milhões de metros cúbicos de gás do Azerbaijão para a Turquia.


Fonte: BBC

O Azerbaijão e a Geórgia são dois países-chaves, não apenas por causa de sua produção de gás e petróleo, mas porque deles depende o estabelecimento de um corredor ligue o Cáucaso e a Ásia Central ao Ocidente, sem passar pela Rússia, e do qual a pedra fundamental foi a construção do oleoduto BTC. Este oleoduto, cujo terminal é Ceyhan, no Mediterrâneo, muda a situação do Cáucaso e não somente estabelece como consolida um vínculo estratégico entre o Azerbaijão, Geórgia, Turquia e Israel, que não apenas poderá abastecer-se, diretamente, com o petróleo do Mar Cáspio como ainda reexportá-lo para os mercados asiáticos, através do porto de Eilat.[45]Conforme explicou Michel Chossudovsky, professor de economia na Universidade de Ottawa e diretor do Centre for Research on Globalization, Israel tornou parte do eixo militar anglo-americano, que “which serves the interests of the Western oil giants in the Middle East and Central Asia”.[46] O que se projeta é ligar o BTC ao oleoduto Trans-Israel (Tipline), construído em 1968 para transportar do petróleo desde o porto de Ashkelon, no Mediterrâneo, para Eilat, no sul de Israel, no Mar Vermelho.

Entretanto, a intervenção da Rússia na Geórgia, em 8 de agosto de 2008, para defender a autonomia da Ossétia do Sul, bem como a autonomia da Abecásia, outra região separatista, mostrou que o transporte de petróleo e gás através dos dutos que atravessam a Geórgia é tão vulnerável quanto através do Golfo Pérsico. Suas tropas conquistaram a cidade de Gori, onde nasceu Stalin, e a garganta de Kodori, ocupada pela Geórgia desde 2006, e destruíram depósitos de armamentos e bases militares. Os oleodutos não foram atacados, embora fechados pelas próprias companhias, por motivos de segurança ou precaução. Mas os projetos de construção de novos dutos ou expansão do BTC ficaram aparentemente inviabilizados, em virtude da instabilidade apresentada pela região, alarmando as companhias que lá pretendiam investir. E a Rússia, por fim, reconheceram a independências das duas regiões separatistas Abecásia e Ossétia do Sul, nas vizinhanças do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), que tem capacidade de transportar 1,2 milhão barris por dia para o Ocidente.

Os limites do poderio militar

Os Estados Unidos nada puderam ou podem fazer, senão protestar e enviar ajuda humanitária à Geórgia, apesar de que o vice-presidente Dick Cheney proclamasse que a intervenção da Rússia em defesa da Ossétia do Sul "must not go unanswered”. O poderio militar, tecnológico, econômico e diplomático de que dispõem de nada valeu para defender seus interesses na Geórgia. Os Estados Unidos estão econômica e financeiramente esgotados com duas guerras perdidas, no Afeganistão e no Iraque, cujos custos, incluindo o alto preço do petróleo, as despesas de tratamento dos veteranos feridos e o pagamento dos juros do dinheiro emprestado, totalizavam, em novembro de 2007, cerca US$ 1,5 trilhão, acima de 10% do PIB (US$ 13,8 trilhões, est. 2007[47]), de acordo com estudo feito pelos representantes do Partido Democrata, integrantes da Comissão Econômica Conjunta do Congresso americano.[48] E a estimativa era de que, somente no ano de 2008, os gastos com as duas guerras ultrapassariam US$ 1,6 bilhão, o dobro de US$ 804 bilhões, anunciado pelo presidente George W. Bush.

Com tais gastos, a dívida pública dos Estados Unidos saltou de US$ 5,6 trilhões, no ano 2000, para um total de aproximadamente US$ 9.5 trilhões em abril de 2008[49]. E a dívida nacional (externa e interna) continua a crescer cerca de US$ 1,82 bilhão por dia, desde 2007. Em dezembro de 2007, a China possuía reservas em dólar da ordem de US$ 1,5 trilhão (10% do PIB americano), dos quais os títulos (securities) do Tesouro americano, em junho de 2007, totalizavam mais de US$ 922 bilhões, superando em 61% o Japão como o maior credor dos Estados Unidos.[50] De acordo com o Fundo Monetário Internacional, essas reservas representavam 23,9% das reservas em dólares mantidas por todos os países, cujo total era de US$ 6,4 trilhões.[51] Isto significa que o valor do dólar poderia cair dramaticamente se a própria China, que é o maior comprador de títulos dos Estados Unidos, inclusive da dívida pública, colocasse no mercado mundial grande parte das reservas que mantém.[52] E já ameaçou fazê-lo.

Os Estados Unidos estão a depender pesadamente do influxo de capitais de outros países, sobretudo da China, a fim de ajudar o desenvolvimento de sua economia e cobrir o déficit fiscal. São uma potência, virtualmente, falida. Ainda não ocorreu o default porque o dólar, no atual esquema de fiat money, é moeda fiduciária e o governo está livre para imprimir a quantidade que quiser. Isto não significa que o governo de Washington possa continuar emitindo dólares sem lastro, indefinidamente. Ao contrário da China e do Japão, os Estados Unidos são atualmente devedores e necessitam manter a confiança dos investidores estrangeiros. Porém, mais cedo ou mais tarde, essa bolha vai estourar, como ocorreu com os financiamentos subprime, a bolha imobiliária. Ela conjuga-se com a fragilidade do sistema financeiro, gerando enormes riscos não só para os Estados Unidos como também para todos os demais países. E o governo de Washington somente terá condições de evitar uma grande explosão, se cortar os gastos militares e, por conseguinte, reduzir seu aparato bélico e sua presença em todas as regiões, algo extremamente difícil, dados os interesses econômicos e financeiros implicados.

De qualquer forma, o fato é que os Estados Unidos passaram a depender da China, assim com a Grã-Bretanha, para vencer na Segunda Guerra Mundial, passou a depender financeiramente dos Estados Unidos, declinando, a ponto de tornar-se seu satélite, conforme concluiu Correlli Barnett.[53] Sem os investimentos de outros países, como o Japão e, sobretudo, a China, que compram títulos do Tesouro americano, os Estados Unidos não podem sustentar as guerras no Afeganistão e no Iraque, duas guerras perdidas. E, econômica e financeiramente constrangidos, sofreram forte revés político e estratégico com a intervenção da Rússia em defesa da Ossétia do Sul e da Abecasia. Não podiam correr o risco de mandar tropas para a Georgia, a fim de assumir o controle dos portos e aeroportos do país, conforme anunciado pelo governo de Tblisi, e escalar o conflito, que poderia resultar em confrontação armada com a Rússia. A dificuldade de recrutar jovens – homens e mulheres – para servir como soldados nas Forças Armadas tornou-se cada vez maior, depois da invasão do Iraque.[54] A crescente oposição interna à Guerra no Iraque, assim como o medo da morte ou da invalidez causada pelos ferimentos, produziu efeitos sobre as Forças Armadas e a Guarda Nacional, uma vez que o Pentágono desde então não consegue atingir suas metas anuais de recrutamento[55].

Em 2007, a exaustão e a fadiga estavam a abater as tropas dos Estados Unidos no Iraque e as deserções aumentavam.[56] Seria difícil para Washington deflagrar e sustentar outra guerra convencional. E o impasse existente entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, que culminou dramaticamente com a crise dos mísseis instalados em Cuba (1962), demonstrou que uma guerra nuclear, conforme o então secretário de Defesa, Robert McNamara, admitiu, era “unthinkable”[57]. Não haveria vencedor. Não haveria benefícios para nenhuma das potências. Somente custos imensos, incalculáveis, em vidas e propriedades. Com razão Zbigniew Brzezinski observou que as armas nucleares reduziram praticamente a utilidade da guerra como instrumento da política ou mesmo como ameaça[58].

A Segunda Guerra Fria

Diante de tal situação, o poderio militar dos Estados Unidos, por maior que seja, tem limites. Washington não atentou para o fato de que a Rússia permanecera como poderosa potência militar e que a paridade estratégica não havia acabado, não obstante a desagregação da União Soviética, em 1991 A Rússia atualmente conta com 1,2 milhão de efetivos nas suas Forças Armadas, um total 14.000 ogivas nucleares, das quais cerca de 5.192 em estado operacional, enquanto os Estados Unidos possuem 1,3 milhão de militares na ativa, 5.400 ogivas, das quais 4.075 ativas, ademais de 3.575 estratégicas e 500 não-estratégicas (est) e estoque um adicional de 1.260 inativas.[59] No total, a Rússia possui 62.500 armas nucleares e os Estados Unidos, 33.500.[60] Tanto os Estados Unidos quanto da Rússia pouco fizeram para reduzir o inventário de armamentos nucleares, remanescentes da Guerra Fria, e que permaneceu, desnecessariamente mais alto dos que as necessidades de segurança das duas potências.

Entretanto, o presidente George W. Bush, como antes o presidente Bill Clinton, continuou a provocá-la, humilhando-a. Logo após assumir o governo, em 2001, retirou os Estados Unidos do Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), celebrado em 1972 com a União Soviética, a fim de implementar o projeto de construção do sistema de defesa antimísseis, e empenhou-se não somente em estabelecer bases antimísseis na Polônia e na República Tcheca como também levar a OTAN às fronteiras da Rússia, através da Ucrânia e da Geórgia. Ainda se recusou a ratificar o Tratado de Proibição Total de Testes, de 1996, e as mudanças no SALT 2, sobre a limitação e a redução dos armamentos estratégicos. E ordenou a invasão do Iraque, como iniciativa unilateral, desrespeitando o Conselho de Segurança da ONU. O presidente George W. Bush derrubou todos os fundamentos da ordem internacional e, conseqüentemente, da paz, que possibilitou o fim da Guerra Fria. Porém, não conseguiu desfazer o equilíbrio de poder global, objetivo do projeto de instalar as bases do sistema de defesa antimísseis na Polônia e na República Tcheca. Como o próprio Mackinder havia ressaltado, a Rússia é um player state e não um Estado periférico.[61] Está diretamente dentro da pivot area da Eurásia. Pode usar sua influência e dinheiro, dificultar ou mesmo suspender o fornecimento de energia (gás e petróleo), de que a União Européia tanto necessita, bem como solapar os interesses dos Estados Unidos no Oriente Médio e em outras regiões, vendendo armamentos à Síria, Irã etc., além de exercer seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. A Rússia tem mais condições de afetar o Ocidente, que precisa mais da Rússia, do que o Ocidente, de afetar a Rússia, que não precisa tanto do Ocidente. Assim, econômica e financeiramente recuperada, ela voltou a participar do Great Game, o jogo de poder na Ásia Central. A Segunda Guerra Fria efetivamente começou.

Luiz Alberto Moniz Bandeira é cientista político, professor titular de história da política exterior do Brasil, na Universidade de Brasília (aposentado) e autor de mais de 20 obras, entre as quais Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), pela qual recebeu o Troféu Juca Pato, eleito pela União Brasileira de Escritores (UBE) Intelectual do Ano 2005.

Notas

[1] BRZEZINSKI, Zbigniew. The Grand Chessboard. American Primacy ant its Geostrategic Imperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 35.
[2] “The heartland for the purpose of strategic thinking, includes the Baltic Sea, Asia Minor, Armenia, Persia, Tibet, and Mongolia. Within it, therefore, were Brandenburg-Prussia and Austria-Hungary, as well as Russia – a vast triple base of man-power, which was lacking to the horse-riders of history”. MACKINDER, Sir Halford John. Democratic Ideals and Reality. Westport Connecticut: Greenwood Press, Publisher, 1981, p. 110.
[3] MACKINDER, Sir Halford John. “The Geographical Pivot of History”, Geographical Journal, Royal Geographical Society London, April 1904, vol. XXIII pp. 421-444.
[4] The over setting oft he balance of power in favor of the pivot states, resulting in ist expansion on the marginal lands of Euro-Asia, would permit the use of vast continental resources for fleet-building, and the empire of the world would the be in sight”. Id., ibid., p. 436.
[5] BRZEZINSKI, Zbigniew K. The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 31.
[6] A cor verde é símbolo da bandeira do Islã.
[7] BRZEZINSKI, Zbigniew. Power and Principle - Memoirs oft he National Security Adviser (1977-1981). Nova York: Farrar-Straus-Girox, 1983, p. 226. Mais detalhes vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2ª edição, 1986, pp. 377-402.
[8] BRZEZINSKI, Zbigniew K. Game Plan – How to Conduct U.S-Soviet Contest. Nova York: The Atlantic Monthly Press, 1986, p. 16.
[9] George Friedman. “Georgia and Kosovo: A Single Intertwined Crisis”. Stratfor, August 25, 2008.
[10] POWELL, Colin L. – The Military Strategy of the United States – 1991-1992, US Government, Printing Office, ISBN 0-16-036125-7, 1992, p 7. Draft Resolution - 12 “ Cooperation for Security in the Hemisphere, Regional Contribution to Global Security - The General Assembly, recalling: Resolutions AG/RES. 1121 (XXX- 091 and AG/RES. 1123 (XXI-091) for strengthening of peace and security in the hemisphere, and AG/RES. 1062 (XX090) against clandestine arms traffic.
[11] Id. Ibid., p. 7.
[12] GUIMARÃES, Samuel Pinheiro – “Esperanças e Ameaças: notas preliminares”. 23.10.1995. Original. Rio de Janeiro:
[13] Os comandos militares, instituídos pelos Estados Unidos, com jurisdição sobre continentes e determinadas áreas são: Northern Command (NORTHCOM) (Peterson Air Force Base, Colorado), the Pacific Command (Honolulu, Hawaii), the Southern Command (Miami, Florida – Map 5), The Central Command (CENTCOM) (MacDill Air Force Base, Florida), the European Command (Stuttgart-Vaihingen, Germany), the Joint Forces Command (Norfolk, Virginia), the Special Operations Command (MacDill Air Force Base, Florida), the Transportation Command (Scott Air Force Base, Illinois) and the Strategic Command (STRATCOM) (Offutt Air Force Base, Nebraska).
[14] The White House – Office of the Press Secretary - Fact Sheet - Counter-Terrorism - The White House's Position on Terrorism - State Fair Arena, Oklahoma City, Oklahoma April 23, 1995
[15] PFAFF, William – “Empire isn't the American way –Addiction in Washington”, International Herald Tribune 09.04.2002
[16] JOHNSON, Chalmers. The Sorrows of Empire. Militarism. Secrecy, and the End of the Republic. Nova York: Metropolitan Books – Henry Holt and Company, 2004, pp. 151-161.
[17] Id. Ibid. p. 154. Department of Defense - http://www.defenselink.mil/news/Jun2003/basestructure2003.pdf
http://www.globalpolicy.org/empire/tables/2005/1231militarypersonnel.pdf
[18]PFAFF, William – “Empire isn't the American way –Addiction in Washington”, International Herald Tribune 09.04.2002.
[19] BARBOSA, Rui – Obras Completas. Vol. XXXIV, 1907 - Tomo II - A Segunda Conferência de Haia. Rio de Janeiro:Ministério da Educação e Cultura, 1966, pp. 251-268. Vide também CARDIM, Carlos Henrique. A raiz das coisas. Rui Barbosa: O Brasil no mundo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007, pp. 115-149, pp. 124-135.
[20] BRZEZINSKI, Zbigniew. Power and Principle - Memoirs oft he National Security Adviser (1977-1981). Nova York: Farrar-Straus-Girox, 1983, pp. 443-446.
[21] The National Security Strategy of the United States of America” - White House – President George W. Bush - http://www.whitehouse.gov/nsc/nss.html
[22] “Overview Reliable, Affordable, and Environmentally Sound Energy for America’s Future” - Sandia National Laboratories & U.S. Department of Energy, Energy Information. http://www.whitehouse.gov/energy/Overview.pdf
[23] Simon Davis & Ben Fenton - “New York is next for blackouts, warns Bush in Los Angeles” 29 Jun 2001 – Telegraph.co.uk - http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/northamerica/usa/1327358/New-York-is-next-for-blackouts,-warns-Bush.html - Michael Klare. “US: Procuring the world's oil” - Asia Times - Global Economy. Apr 27, 2004.
[24] H. Josef Hebert – “Group: Cheney Task Force Eyed on Iraq Oil”. Associated Press July 18, 2003
[25] Energy iInformation Administration – Official Energy Statistics from the U.S. Government. – Iraq - http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/Iraq/Oil.html [26] Andrew E. Kramer. “Deals With Iraq Are Set to Bring Oil Giants Back”. The New York Times, June 19, 2008.
[27] “The Global Energy Market: Comprehensive Strategies to Meet Geopolitical and Financial Risks – The G8, Energy Security, and Global Climate Issues” Baker Institute Policy Report (Published by the James A. Baker Institute for Public Policy of Rice University. Number 37 – July 2008.
[28] U.S. Bureau of Economic Analysis, "U.S. International Trade in Goods and Services, Exhibit 1", March 11, 2008. News Release: U.S. International Transactions. Bureau of Economic Analysis – International Economic Accounts – U.S. International Transactions: First Quarter 2008 Current Account
U.S. Departament of Commerce ­http://www.bea.gov/newsreleases/international/transactions/transnewsrelease.htm
[29] President Bush Delivers State of the Union Address United States Capitol Washington, D.C. Office of the Press Secretary - January 31, 2006
[30] A expressão Great Game foi usada , no século XIX, com referência aos esforços da Grã-Bretanha, na Ásia Central e na Índia, para impedir a predominância da Rússia, que firmou com a Pérsia, em 1813, um tratado de paz (Tratado de Gulistan), mediante o qual anexou o Azerbaijão, Daguestão e a Geórgia oriental. Tudo indica que o primeiro a usar essa expressão “Great Game” foi Arthur Conolly, oficial do serviço de inteligência da Sixt Bengal Light Cavalry. E celebrizada pelo escritor inglês Rudyard Kipling na obra Kim, publicada em 1901.
[31] MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2ª. ed., p. 585-586.
[32] A National Security Strategy for a New Century - The White House - December 1999. http://clinton4.nara.gov/media/pdf/nssr-1299.pdf
[33] Ibid.
[34] Ibid.
[35] Silk Road Strategy Act of 1999, 106th CONGRESS - 1st Session - S. 579.
[36] Ibid.
[37]CIA – Fact Book - https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/br.html
[38] La Nación, Buenos Aires, 11/02/2007.
[39] O embaixador Richard Miles havia desempenhado importante papel na derrubada do presidente da Sérbia Slobodan Milosevic, quando chefiara a Missão Diplomática dos Estados Unidos, em Belgrado, entre 1996 e 1999.
[40] Ian Travnor. “US campaign behind the turmoil in Kiev”, The Guardian, November 26 2004. F. William Engdahl. “Revolution, geopolitics and pipelines” – Asia Times, June 30, 2005.
[41] Detalhes vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2ª. ed., 2006, p. 571.
[42] A Gazprom é a maior empresa de energia da Rússia, controlada pelo Estado, e conta com a participação acionária das empresas alemãs E.On e BASF-Wintershall,
[43] A Gazprom fornece 60% do gás natural consumido na Áustria, 35% da Alemanha e 20% da França. Também fornece gás a outros países, como a Ucrânia, Estónia, Lituânia e Finlândia. Em 2006, a Gazprom cortou o fornecimento à Ucrânia por causa de uma divergência em torno de o aumento de preços, o que afetou países da União Européia.
[44] BBC News - Page last updated at 15:52 GMT, Wednesday, 9 July 2008 16:52 UK
[45] Michel Chossudovsky. “The Eurasian Corridor: Pipeline Geopolitics and the New Cold War” Global Research, August 22. 2008. In: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=9907
[46] Ibid.
[47] CIA – Fact Book - https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/us.html
[48] Josh White “Hidden Costs' Double Price Of Two Wars, Democrats Say”. The Washington Post, November 13, 2007, p. A14
[49] The Government Section of TreasuryDirect http://www.treasurydirect.gov/govt/resources/faq/faq_publicdebt.htm
William F. Shughart II. "Spending Addicts”. The Washington Times, 7/20/08). U.S. National Debt Clock - The Outstanding Public Debt as of 18 Aug 2008 at 08:45. http://www.brillig.com/debt_clock/
[50] Congressional Research Service Report for Congress. China´s Holdings of U.S. securities – Implications for the U.S. Economy. Updated May 19, 2008.
[51] IMF, International Financial Statistics, November 2007; IMF Currency Composition of Official Foreign Exchange Reserves.
[52] Federal Reserve Statistical – Money Stock Measures http://www.federalreserve.gov/releases/h6/current/
[53] BARNETT, Correlli. The Collapse of British Power.Gloucester (Inglaterra): Alan Sutton Publisher, 1987, pp. 585-593.
[54] Robert Hodierne Concern over US army recruitment. BBC News- Last Updated: Wednesday, BBC Radio 4's Crossing Continents 23 August 2006, 22:48 GMT 23:48 UK.
[55] Ann Scott Tyson “Army Having Difficulty Meeting Goals In Recruiting Fewer Enlistees Are in Pipeline; Many Being Rushed Into Service”. Washington Post, February 21, 2005, p. A01
[56] Peter Beaumont. “Fatigue cripples US army in Iraq”. The Observer, August 12 2007.
[57] Apud KISSINGER, Henry. Diplomacy. Nova York Touchstone Book, 1994, p. 644.
[58] BRZEZINSKI, Zbigniew. The Grand Chessboard. American Primacy ant its Geostrategic Imperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 36.
[59] Center for Strategic and International Studies (CSIS). Western Military Balance and Defense Efforts. A Comparative Summary of Military. Expenditures; Manpower; Land, Air, Naval, and Nuclear Forces - Anthony H. Cordesman & Arleigh A. Burke Chair in Strategy with the Assistance of Jennifer K. Moravitz - CSIS January, 2002. http://www.csis.org/media/csis/pubs/westmb012302%5B1%5D.pdf
NORRIS, Robert S., and M. KRISTENSEN, "Russian nuclear forces, 2008", Robert S. Norr is & Hans M. Kristensen. “Russian nuclear forces, 2008”. Nuclear Notebook - Bulletin of the Atomic Scientists. May / June 2008 Vol. 64, No. 2, p. 54-57, 62 DOI: 10.2968/064002013. Robert S. Norr is & Hans M. Kristensen. “U.S. nuclear forces, 2008”. Nuclear Notebook - Bulletin of the Atomic Scientists. May / June 2008 Vol. 64, No. 2, p. 54-57, 62 DOI: 10.2968/064002013 http://thebulletin.metapress.com/content/pr53n270241156n6/fulltext.pdf -Department of Defense – Active Duty Military Personal by Rank Grade – August 2007.
http://siadapp.dmdc.osd.mil/personnel/MILITARY/rg0708.pdf
[60] Ibid.
[61] MACKINDER, Sir Halford John. “The Geographical Pivot of History”, Geographical Journal, Royal Geographical Society London, April 1904, vol. XXIII pp. 436.

http://www.espacoacademico.com.br/090/90bandeira.htm

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