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O Estado Islâmico, o “Projeto do Califado” e a “Guerra Global ao Terrorismo
A lenda da Al Qaeda e a ameaça de um “Inimigo Exterior” está sendo mantida através de uma extensa propaganda da mídia e do governo
A era pós 9/11 e a ameaça terrorista vinda da Al Qaeda tem constituido o bloco básico da doutrina militar US-OTAN. Justifica – sob um mandato humanitário – a condução de operações contra-terrorismo por todo o mundo.
por Prof Michel Chossudovsky
Global Research - 4 de Julho, 2014
http://www.globalresearch.ca/o-estado-islamico-o-projeto-do-califado-e-a-guerra-global-ao-terrorismo/5389947
É sabido e documentado que entidades afiliadas Al Qaeda foram usadas pela dupla US-OTAN em inúmeros conflitos, como trunfos “activos da inteligência”, desde os dias de apogeu da guerra União Soviética-Afeganistão. Na Síria os rebeldes da Al Nusrah e da ISIS, são os soldados rasos da aliança militar ocidental, o qual superintende e controla o recrutamento e o treinamento de forças paramilitares.
Enquanto o Departamento do Estado dos Estados Unidos está acusando vários países de “abrigarem terroristas”, a América apresenta-se como o “Estado Patrocinador do Terrorismo” Nr.1 : O Estado Islâmico do Iraque e al-Sham (ISIS) – que opera tanto na Síria como no Iraque – é encobertamente apoiado e financiado pelos Estados Unidos e seus aliados, incluindo-se aqui a Turquia, a Arábia Saudita e Catar. Mais ainda, o projeto de califado sunita do Estado Islâmico do Iraque e al-Sham, coincide com uma agenda dos Estados Unidos vinda já de há muitos anos, para dividir tanto o Iraque como a Síria em diversos territórios : Um Califado Islâmico Sunita, Uma República Árabe Xiita, e a República do Curdistão, entre outras.
A Guerra Global Contra o Terrorismo (GWOT) dos Estados Unidos, constitue a pedra fundamental da doutrina militar dos mesmos. “Perseguir terroristas islâmicos” é uma parte e uma parcela da guerra não-convencional. O objetivo subjacente é o de justificar a condução de operações contra-terroristas no mundo inteiro, o que possibilita também aos Estados Unidos intervir nos assuntos internos de países soberanos.
Muitos escritores progressistas, incluindo-se aqui a mídia alternativa, ao focarem-se no desenrolar dos acontecimentos no Iraque, não conseguem entender a lógica subjacente à “Guerra Global Contra o Terrorismo”. O Estado Islâmico do Iraque e Al Cham (ISIS) é muitas vezes considerado como uma “entidade independente” em vez de um instrumento da aliança militar ocidental. Mais ainda, muitos ativistas anti-guerra, que se opõem os dogmas da agenda militar US-OTAN, irão apesar de tudo, endossar a agenda de contra-terrorismo de Washington dirigida contra a Al Qaeda:. A ameaça global do terrorismo é considerada como verdadeira ou “real”: “Nós somos contra a guerra, mas apoiamos a Guerra Global Contra o Terrorismo.”
O Projeto do Califado e o Relatório do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA
Um novo jorro propagandista foi posto em movimentação. O líder da já defunta organização do Estado Islâmico do Iraque e Al Cham (ISIS) Abu Bakr al-Baghdadi anunciou em 29 de junho de 2014, a criação de um Estado Islâmico:
Combatentes leais ao grupo proclamado como “Califa Ibrahim ibn Awwad”, ou Abu Bakr al-Baghdadi como era conhecido até a declaração de domingo, 1 de julho, foram inspirados pelo Califado Rashidun, que sucedeu o Profeta Mohammad no século VII, e que é venerado pela maioria dos muçulmanos.” (Daily Telegraph, 30 de junho de 2014)
Numa amarga ironia, o projeto do califado como um instrumento de propaganda tem estado na mesa de projetos dos serviços de inteligência dos Estados Unidos há mais de dez anos. Em dezembro de 2004, na administração de Bush, o Conselho Nacional de Inteligência (NIC) fez um prognóstico de que em 2020 um Novo Califado extendendo-se do Oeste do Mediterrâneo até a Ásia Central e Sudeste da Ásia iria emergir, ameaçando a democracia e os valores ocidentais.
Os “resultados do inquérito” do Conselho Nacional de Inteligência foram publicados num relatório não-classificado de 123 páginas intitulado “Mapping the Global Future”. – Delineando o Mapa do Futuro numa perspectiva Global.
“Um Novo Califado é um exemplo de como um movimento global propalado por identidades político-religiosas radicais poderia constituir um desafio às normas e valores ocidentais como fundamento do sistema global” (ênfases acrescentadas)
Esse relatório da NIC de 2004 é quase ridículo; não reflete nada inteligente, e carece de análise histórica ou geopolítica. É uma falsa narrativa do califado, e apesar de tudo, apresenta-se como astuta e prudente, e assemelha-se muito com o publicado PR da proclamação da criação do califado pelo líder da ISIS, Abu Bakr al-Bagdadi.
O relatório da NIC apresenta um chamado “cenário ficticio. Trata-se de uma carta vinda de um fictíco neto de Bin Laden para um parente também imaginário, em 2020.” Seria baseado nesse processo imaginário que as predições para 2020 foram feitas. O relatório baseia-se num inventado neto de Bin Laden, escrevendo uma narrativa numa carta, em vez de se basear em inteligência e em análises empíricas. De qualquer forma, os serviços de inteligência concluem que o califado constitui perigo real para o mundo e para a civilização ocidental.
De um ponto de vista propagandístico, o objetivo subjacente ao projeto do Califado – como descrito pelo NIC – é o de demonizar os muçulmanos tendo em vista a justificação de uma cruzada militar:
“O fictício cenário apresentado abaixo dá um exemplo de como um movimento global propalado por uma identidade religiosa radical poderia emergir”.
Nesse cenário um novo Califado é proclamado e consegue apresentar uma poderosa contra-ideologia com uma capacidade de atração muito abrangente.
Ele é representado na forma de uma hipotética carta de um imaginado neto de Bin Laden para um parente em 2020.
Nessa carta o imaginado neto de Bin Lado contaria em pormenores as lutas do Califa, tentando tirar o controle de regimes tradicionais, e o conflito e confusão que seguiria tanto no mundo muçulmano, assim como fora dele. O conflito seria então entre muçulmanos, os Estados Unidos, a Europa, a Rússia e a China. Enquanto o sucesso do Califa quanto a mobilizar apoio varia nessa narrativa, lugares muito longe do centro muçulmano no Oriente Médio-na África e na Ásia- ficariam em convulsão como resultado da atração que o Califa e ou o califado exercia.
“O cenário descrito termina antes que o Califa consiga estabelecer uma tanto espiritual como temporal autoridade sobre um território – o que historicamente foi o caso com os Califados anteriores. No final do cenário, nós identificamos lições a serem tiradas.” (“Mapping the Global Future”. p. 83)
página 90 do relatório
Esse “autoritativo” – “Mapping the Global Future” – relatório da NIC, relata não só o que foi apresentado na Casa Branca, no Congresso e no Pentágono. Ele foi também mandado para os aliados dos Estados Unidos. A “ameaça emanando do Mundo Muçulmano” referido no relatório do NIC (incluindo a secção do projeto do califado) está firmemente entrincheirada na doutrina militar US-OTAN.
Tinha-se em vista que o documento do NIC seria lido por oficiais de alto escalão. Falando de uma maneira geral ele faz parte do “Top official” (TOPOFF) campanha de propaganda que tem em vista senior-representantes da política exterior, e militares em altas posições, já para nem se mencionar aqui acadêmicos, pesquisadores e “ativistas” das Organizações Não Governamentais, ONGs. O objetivo é o de garantir que “oficiais de altos escalões” continuem a acreditar que terroristas islâmicos estão ameaçando a segurança do Mundo Ocidental.
O fortalecimento dessa construção do cenário do califado é a idéia do “Clash of Civilizations” -Confrontação das Civilizações, a qual dá a justificação, aos olhos da opinião pública dos Estados Unidos, para que venham a intervir pelo mundo todo, como parte de uma agenda contra-terrorista.
De um ponto de vista geopolítical e geográfico, o califado constitue uma grande área na qual os Estados Unidos procuram extender a sua influência econômica e estratégica. Nas Palavras de Dick Cheney pertencendo ao relatório NIC de 2004:
“Eles falam como desejando re-estabelecer o que poderia ser referido como o Califado do Século VII. Esse era o mundo como organizado nos anos D.C. 1200 – 1300, em efeito, quando o Islão ou o povo islâmico controlava tudo de Portugal a Espanha no oeste; através do Mediterrâneo à África do Norte; todo o norte da África; o Médio Oriente; até os Balcãs; as repúblicas da Ásia Central; a ponta sul da Rússia; um bom pedaço da Índia; e por volta da contemporânea Indonésia. Num sentido então de Bali e Jakarta por um lado, e Madrid do outro.” Dick Cheney (ênfases acrescentadas)
O que Dick Cheney está descrevendo no contexto de hoje em dia é uma grande região estendendo-se do Mediterrâneo a Ásia Central e Sudeste Ásia , uma região na qual os Estados Unidos e seus aliados estão envolvidos em várias operações militares e de inteligência.
O declarado objetivo do relatório do NIC era o “de preparar a próxima administração de Bush para os desafios que viriam mais a frente, através de projetar atuais tendências que poderiam ameaçar os interesses dos Estados Unidos”.
O documento de inteligência do NIC foi baseado, caso nos tenhamos esquecido, numa carta hipotética vinda de um imaginado neto de Bin Laden para um [fictício] parente no [ano] 2020 ”. “As lições aprendidas como delineadas no “autoritativo” NIC documento de inteligência foram as seguintes;
O documento refere-se a atração do califado para os muçulmanos e conclude que:
- o projeto do califado “constitue um sério desafio a ordem internacional”.
-“A revolução IT, técnica de informação, provavelmente irá aumentar a colisão entre o mundo ocidental e o muçulmano…”
“a proclamação do Califado provavelmente não iria diminuir a probabilidade do terrorismo e da provocação de novos conflitos”. [sic]
A análise do NIC sugere que a proclamação do califado irá gerar uma nova onda de terrorismo emanando de países muçulmanos, e portanto justificando uma escalação da “Guerra Global Contra o Terrorismo (GWOT):
Depois tem-se que a proclamação do Califado… poderia propalar uma nova geração de terroristas tendo em vista o atacar aqueles opostos ao califado, dentro ou fora do Mundo Muçulmano.” (ênfases acrescentadas)
O que o relatório do NIC não sucedeu em mencionar foi que o serviço de inteligência dos Estados Unidos em ligação com os serviços de inteligência, ou secretos, do MI6 britânico e do Mossad de Israel, estavam encobertamente envolvidos em apoiar tanto os terroristas, como o projeto do califado.
Por seu turno a mídia embarcou numa nova onda de mentiras e fabricações, focando numa “nova ameaça terrorista” emanando não só do Mundo Muçulmano, mas de “terroristas islamitas domésticos” na Europa e nos Estados Unidos, ou seja, de jovens muçulmanos tendo vivido toda a sua vida na Europa, e nos Estados Unidos.
Traduzido por Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.com, para Mondialisation.ca
http://www.globalresearch.ca/o-estado-islamico-o-projeto-do-califado-e-a-guerra-global-ao-terrorismo/5389947
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