Avante - 16 de Maio de 2013
Nos anos 1980 Luxemburgo foi palco de dezenas de atentados a bomba. Passados quase 30 anos, dois policiais estão a ser julgados nesse país, acusados pelos atentados. Mas a informação mais quente é alvo de férrea censura midiática, apenas furada pelo jornalista Rafael Poch do catalão La Vanguardia.
Em artigo de título "A Otan tropeça de novo com o seu passado terrorista", de 14 de março deste ano, Poch conta que um historiador alemão, Andreas Kramer, declarou em tribunal que "o autor de 18 dessas 20 bombas foi seu pai, um agente dos serviços secretos alemães, BND, que agia por conta de uma estrutura secreta da Otan. […] É assim que a conspiração Gládio, relativamente bem conhecida em países como a Itália e Bélgica, desponta agora no Luxemburgo".
No enredo estaria ainda envolvido "o ex-chefe dos serviços secretos do Luxemburgo". Segundo Kramer, o seu pai também" participou no atentado a bomba mais grave da história alemã do pós-guerra, em 26 de Setembro de 1980 na Oktober Fest, a festa da cerveja de Munique, que deixou um saldo de 13 mortos e 213 feridos e que foi inverossivelmente atribuído à ação de um único neo-nazista, morto na explosão".
Kramer declarou que "os atentados eram coordenados pelo “Comitê Clandestino Aliado”, sob a direção do General alemão Leopold Chalupa […] comandante em chefe das tropas da Otan na Europa Central (CINCENT) entre 1983 e 1987".
Chamados a depor no julgamento estão "o primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Santer", um ex-ministro da Justiça e dois irmãos do Grão-Duque do Luxemburgo.
Mas, como escreve Rafael Poch em 27 de abril de 2013, passadas duas semanas "nenhum juiz alemão se interessou pelo assunto, nem chamou Kramer a depor. Ninguém o acusou de mentir, nem de ser um charlatão. Nenhum meio de comunicação importante se fez eco [das suas palavras]. Silêncio”.
É assim o "quarto poder" na "aldeia global" das "democracias ocidentais". À pergunta de como é que o seu pai justificava a "loucura", Kramer responde: "Tratava-se de tirar os comunistas do caminho […] Apenas se queria governos de direita, para ter um baluarte contra o comunismo […]. Acreditava-se que os comunistas tinham demasiada influência".
O objetivo era "criar medo e fortalecer a segurança interna. Para isso havia que encenar terrorismo. E quem fez isso foram oficiais em contato com os Estados Unidos". Um ministro do ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, Andreas von Bülow, igualmente entrevistado pelo La Vanguardia em 5 de maio de 2013, declara "quando se trata da Gládio, e é disso que se trata neste caso, como seguramente o foi no caso da Rote Armee Fraktion (Fração do Exército Vermelho, ou Baader-Meinhof, o principal grupo terrorista alemão), cala-se a imprensa em nome da razão de Estado […]. Vimo-lo no 11 de Setembro, quando se evitaram as perguntas críticas". Palavra de ex-ministro alemão!
As confissões sobre o terrorismo da Otan e dos serviços secretos imperialistas lançam luz sobre o presente. Há dias, dois atentados terroristas com carros-bomba mataram dezenas de pessoas na cidade turca de Reyhanli.
A Turquia, país membro da Otan, é a principal base dos bandos terroristas que já cometeram idênticos atentados em várias cidades sírias. Mas as autoridades turcas apressaram-se a culpar o "regime sírio" pelos atentados.
Hoje mesmo o primeiro-ministro Erdogan estará na Casa Branca a pedir uma maior intervenção dos EUA na guerra. E a comunicação social de regime nunca referirá que Antioquia, capital da província de Reyhanli, fora dias antes palco duma manifestação de milhares de pessoas pela paz e contra o envolvimento turco na agressão à Síria, organizada pelo movimento da Paz e com grande participação dos comunistas turcos.
http://www.avante.pt/pt/2059/opiniao/125127/