A lei marcial e a economia
Estará o Departamento de Segurança Interna a preparar-se para o colapso próximo da Wall Street?
Por Ellen Brown | Global Research
Resistir.info - 7 de Outubro, 2013
https://www.resistir.info/eua/brown_07out13.html
As informações são de que o Department of Homeland Security (DHS) está empenhado numa escalada militar encoberta e maciça. Um artigo da Associated Press , em Fevereiro, confirmou uma compra pública pelo DHS de 1,6 mil milhões de munições. Segundo um artigo de opinião na Forbes , isso é suficiente para aguentar uma guerra com a dimensão da do Iraque por mais de vinte anos. O DHS também adquiriu tanques fortemente blindados, os quais têm sido vistos a perambular pelas ruas. Evidentemente alguém no governo está à espera de algumas graves perturbações civis. A questão é, por que?
Declarações recentemente reveladas do antigo primeiro-ministro
britânico Gordon Brown, por alturas da crise bancária de Outubro
de 2008, podem das algumas pistas quanto à questão. Um
artigo na BBC News
de 21/Setembro/2013, retirado de uma explosiva autobiografia chamada
Power Trip,
escrita pelo relações públicas de Brown, Damian McBride,
diz que o primeiro-ministro preocupava-se com a possibilidade de a lei e a
ordem entrarem em colapso durante a crise financeira. McBride citou Brown como
tendo dito:
So os bancos começarem a fechar portas e os pontos de
distribuição de dinheiro não estiverem a funcionar e as
pessoas forem à Tesco [cadeia de mercearias] e os seus cartões
não forem aceites, a coisa todo simplesmente explodirá.
Se não puder comprar comida ou gasolina ou remédios para os seus
filhos, o povo começará a partir as vitrinas e servir-se.
E logo que as pessoas vejam isso na TV, é o fim, porque toda gente
pensará que agora isso está OK, que justamente isso que temos de
fazer. Será a anarquia. É o que poderia acontecer amanhã.
Como tratar dessa ameaça? Brown respondeu: "Temos de pensar:
teremos de toques de recolher, colocaremos o Exército nas ruas, como
conseguir a ordem outra vez?
McBride escreveu no seu livro Power Trip: "Era extraordinário ver
Gordon tão totalmente aferrado ao perigo do que ele estava prestes a
fazer, mas igualmente convencido de que tinha de ser tomada acção
decisiva de imediato". Ele comparou a ameaça à Crise Cubana
dos Mísseis.
O receio desta ameaça foi reflectida em Setembro de 2008 pelo
secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, que
confirmadamente advertiu
que o governo podia ter de recorrer à lei marcial se a Wall
Street não fosse salva do colapso do crédito.
Em ambos os países, a lei marcial foi evitada quando seus parlamentos
sucumbiram à pressão e salvaram os bancos. Mas muitos
sabichões estão a dizer que um outro colapso está
iminente; e desta vez, os governo podem não estar desejosos de
intensificar a receita.
Da próxima vez SERÁ diferente
O que disparou a crise de 2008
foi uma corrida, não no sistema
bancário convencional mas sim no sistema bancário
"sombra", um conjunto de intermediários financeiros não
bancários que proporcionam serviços semelhantes aos bancos
comerciais tradicionais mas não são regulamentados.
Eles incluem
hedge funds, money market funds, credit investment funds, exchange-traded
funds, private equity funds, securities broker dealers, securitization and
finance companies. Bancos de investimento e bancos comerciais também
podem realizar grande parte dos seus negócios nas sombras deste sistema
não regulamentado.
O casino financeiro sombra tem crescido sempre desde 2008 e, após o
próximo colapso estilo Lehman, salvamentos do governo podem não
estar disponíveis. Segundo o presidente Obama,
na suas observações de 15/Julho/2010 sobre a Lei Dodd-Frank
, "Devido a esta reforma, ...
não haverá mais salvamentos financiados pelo contribuinte
ponto".
Governos na Europa também estão a afastar-se de novos
salvamentos. O Financial Stability Board (FSB) na Suíça exigiu
portanto aos bancos sistemicamente sob risco que concebessem "testamentos
vitais"
("living wills")
estabelecendo o que farão no caso de insolvência. O modelo
estabelecido pelo FSB exige deles que "salvem"
(bail-in)
através dos seus credores; e
os depositantes, afinal de contas, são a maior classe de credores de um
banco. (Para uma discussão completa, ver meu artigo anterior
aqui
.)
Quando depositantes não puderem ter acesso a suas contas
bancárias para sacar o dinheiro da comida das crianças,
poderão começar a partir vitrinas e servirem-se a si
próprios. Pior, eles podem conspirar para derrubar o governo controlado
pelas finanças. Basta a ver a Grécia, onde a crescente
desilusão com a capacidade do governo para resgatar os cidadãos
da pior depressão desde 1929 tem precipitado
tumultos e ameaças de derrube violento
.
O medo desse resultado poderia explicar a espionagem maciça, autorizada
pelo governo, dos cidadãos americanos, a utilização
interna de drones e a eliminação de procedimentos legais e do
"posse comitatus"
(a lei federal proibindo os militares de aplicarem "lei e ordem"
sobre propriedade não federal). Protecções constitucionais
estão a ser defenestradas para proteger a classe da elite no poder.
A aproximação da crise do tecto da dívida
A crise seguinte na agenda parece ser a data final de 17 de Outubro para
acordar um orçamento federal ou
correr o risco de incumprimento
de
empréstimos governamentais. Pode ser apenas coincidência, mas dois
ensaios [de ataque] em grande escala estão programados para o mesmo dia,
o
"Great ShakeOut Earthquake Drill"
e o
"Quantum Dawn 2 Cyber Attack Bank Drill"
. Segundo uma notícia da Bloomberg sobre o ensaio
bancário, os ensaios são preparados por hackers, espionagem com
patrocínio estatal e crime organizado (fraude financeira). Uma
entrevista declarou: "Você pode experimentar que o seu banco online
está fora de serviço ... Você pode experimentar não
poder conectar-se
(log in)
". Isto soa como um ensaio geral para o Grande Salvamento Interno
Americano
(Great American Bail-in).
Por mais sinistro que seja tudo isto, há um aspecto brilhante.
Salvamentos internos
(bail-ins)
e lei marcial podem ser encarados como o último estertor desesperado de
um dinossauro. O esquema de exploração financeira
responsável por expulsar milhões dos seus empregos e das suas
casas atingiu o fim a linha. A crise no sistema actual significa oportunidade
para aquelas soluções mais sustentáveis prontas a serem
usadas.
Outros países confrontados com um colapso nas suas divisas baseadas em
dívida, pois tomadas emprestadas, sobreviveram e prosperaram ao emitirem
por si próprios. Quando a divisa ligada ao dólar entrou em
colapso na Argentina em 2001, o governo nacional retornou à
emissão dos seus próprios pesos; governos municipais pagaram com
"títulos de cancelamento de dívida" que circulavam como
divisa; e certas regiões comerciavam com divisas da comunidade. Depois
de a divisa da Alemanha ter entrado em colapso na década de 1920, o
governo deu a volta à economia na década de 1930 através
da emissão de títulos "MEFO" que circulavam como
divisa. Quando a Inglaterra ficou desprovida de ouro em 1914, o
governo emitiu "Bradbury pouds"
semelhantes aos Greenbacks emitidos por Abraham
Lincoln durante a Guerra Civil dos EUA.
Hoje o nosso governo podia evitar a crise do tecto da dívida fazendo
algo semelhante: podia simplesmente cunhar alguns milhões de
milhões de moedas de dólar e depositá-las numa conta. Essa
alternativa podia ser tomada pela Administração no imediato, sem
ir ao Congresso ou mudar a lei, como discutido no meu artigo anterior
aqui
. Ela
não tem de ser inflacionária, uma vez que o Congresso ainda podia
gastar apenas o que aprovou no seu orçamento. E se o Congresso
expandisse o seu orçamento para infraestrutura e criação
de emprego, isso realmente seria bom para a economia, uma vez que
entesourar dinheiro e pagar empréstimos à vista
tem contraído
significativamente a oferta monetária em circulação.
Comércio e bancos públicos entre iguais
(peer-to-peer)
Ao nível local, precisamos estabelecer um sistema alternativo que
proporcione segurança para os depositantes, fundos para os
negócios de pequena e média dimensão e atenda às
necessidades da comunidade.
Muito progresso já foi alcançado nessa frente da economia
peer-to-peer. Num artigo de 27 de Setembro com o título
"Peer-to-Peer Economy Thrives as Activistas Vacate the System"
["A economia entre iguais prospera quando activistas se afastam do
sistema"], Eric Blair informa que o Movimento Occupy está empenhado
numa revolução pacífica na qual o povo está a
abandonar o sistema estabelecido em favor de uma "economia
partilhada". O comércio ocorre entre indivíduos, sem
impostos, regulamentações ou licenças e, em alguns casos,
sem a divisa emitida pelo governo.
O comércio peer-to-peer acontece amplamente na Internet, onde
opiniões de clientes ao invés de regulamentação
mantêm honestos os vendedores. Isso começou com eBay e Craiglist e
tem crescido exponencialmente desde então. A Bitcoin é uma divisa
privada fora dos olhares intrometidos de reguladores.
Está a ser concebido software para contornar a espionagem da NSA
. Empréstimos
bancários estão a ser evitados em favor do financiamento
colectivo
(crowfunding).
Cooperativas locais de alimentação também são uma
forma de optar por não fazer parte do sistema corporativo-governamental.
O comércio peer-to-peer funciona para o intercâmbio local, mas
também precisamos de proteger nossos dólares, tanto
públicos como privados. Precisamos dólares pelo menos para pagar
algumas das nossas contas e os negócios precisam deles para adquirir
matérias-primas. Também precisamos de um meio para proteger
nossas receitas públicas, as quais actualmente estão depositadas
e investidas em bancos da Wall Street que têm uma pesada
exposição a derivativos.
Para atender a estas necessidades, precisamos estabelecer bancos de propriedade
pública de acordo com o modelo o Bank of North Dakota, actualmente nosso
único estado que possui um banco de depósitos. O BND está
mandatado por lei para receber todos os depósitos do estado e servir o
interesse público. Idealmente, todo estado teria um destes
"mini-Feds". Distritos e cidades também poderiam tê-los.
Para mais informação, ver
PublicBankingInstitute.org
.
Preparativos para lei marcial têm sido relatados durante décadas,
e isto ainda não aconteceu. Esperançosamente, podemos
esquivar-nos a esse perigo movendo-nos para um sistema mais saudável,
mais sustentável, que torne desnecessária a acção
militar contra cidadãos americanos.
Ellen Brown é presidente do Public Banking Institute e autora de doze livros, incluindo o best-seller Web of Debt. Em The Public Bank Solution, seu livro mais recente, ela examina historicamente e globalmente modelos de banca pública. Seus artigos estão no blog ellenbrown.com.
https://www.resistir.info/eua/brown_07out13.html