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O narco-Estado afegão

Por Pedro Campos

Avante - 1 de Maio, 2006

http://www.avante.pt/pt/1779/internacional/22826/

Com a desculpa do ataque terrorista contra as Torres Gémeas – algo que algum dia porá formalmente no banco dos réus os círculos mais reaccionários de Estados Unidos – George W. Bush apontou o melhor do seu material bélico contra o Afeganistão, que nada tinha a ver com o assunto. Passados vários anos sobre a invasão do martirizado país asiático temos um balanço que os grandes meios de comunicação, salvo uma ou outra excepção isolada, se negam a registar.

O Afeganistão está à beira de se transformar num narco-Estado com cartéis da droga que supõem uma ameaça maior do que os insurgentes talibãs – lembremos que o regime talibã foi imposto por Washington – para o futuro do país. A afirmação é de um tal James Jones. Se o nome pouco ou nada diz ao leitor, acrescentamos que se trata do comandante da NATO na Europa. Numa entrevista dada ao International Herald Tribune [1] afirmou textualmente «que não é o ressurgimento dos talibãs, mas sim o vínculo da economia com a produção da droga, o crime, a corrupção e as actividades do mercado negro o que impõe um maior perigo para o Afeganistão».

Ao fim de uns quantos anos da invasão que supostamente ia salvar o país de não se sabe muito bem o quê, a política de Bush conseguiu alguns resultados «heróicos». Em 2005, a produção de heroína chegou às 4500 toneladas e o Afeganistão tem o duvidoso registo de ser o país de onde sai 95% da heroína que anda pelo mundo... incluindo, claro está, os Estados Unidos. Curiosamente, os talibãs tinham acabado com o cultivo da papoila – ponto de partida para a produção de heroína – mas hoje em Kandahar, região a cerca de mil metros de altitude e a 400 km de Cabul, semear papoila é o negócio do momento, no qual estão envolvidas milhares de crianças porque o fruto da papoila lhes fica comodamente à altura da cabeça. Esta actividade é praticamente a única da região e a miudagem trabalha ao lado dos pais para que a família ganhe mais uns tostões. Bush deve estar satisfeito com a obra conseguida.

Quem sai aos seus...

Bush é aquilo que se sabe – e talvez ainda haja muito que não sabemos – mas tem raízes profundas para o ser. Não é preciso recuar muito no passado para encontrar um mestre do fascista cada vez mais descarado que as multinacionais colocaram na Casa Branca com a esperança de conseguir um controlo total do mundo.

O vovô do Bush dos nossos dias respondia ao nome de Prescott Bush e tinha como genro George Herbert Walker, um dos mais ardentes partidários de Hitler nos Estados Unidos, que pela relação familiar conseguiu um lugar de director num banco de Wall Street, o Union Banking Corporation, propriedade do sogro. Entre 1924 e 1936, o banco deste Bush financiou o regime nazi através de diferentes tipos de operações financeiras que totalizaram 50 milhões de dólares, quando esta moeda não estava tão de capa caída como nos nossos dias. Segundo a causa n.º 248 do governo dos Estados Unidos, uma boa parte dos activos do banco serviu para apoiar o esforço de guerra nazi, o que levou posteriormente a que a Allien Property Custodian embargasse os fundos correntes do banco do velho Bush e iniciasse duas novas causas – as 259 e 261 – para fazer o mesmo com outras duas instituições do Union Bank Corporation, igualmente sob influência nazi: a Holland American Trading Corporation e a Seamless Steel Equiment Corporation. Não é novidade que várias grandes firmas norte-americanas tiveram excelentes relações com os nazis, mas poucas como as de Bush e do seu genro colaboraram com Hitler mesmo depois de Pearl Harbour.

O papá Bush não andava muito longe do seu progenitor. Em 1988, quando ainda não era mais do que a mão direita de outra figura trágica – Ronald Reagan – Bush pai, o da primeira invasão ao Iraque, teve de riscar da equipa de promoção presidencial várias figuras de proa porque o Washington Jewish Weekly descobriu que havia lá figuras graúdas do movimento neonazi dos Estados Unidos, entre eles Jerome Brentar, revisionista do holocausto que negava a existência das câmaras de gás, e Akselis Mangulis, que trabalhou sob as SS durante a II Guerra Mundial. Quando rebentou o escândalo, Bush afastou esses e outros colaboradores incómodos, mas uma vez ganhas as eleições voltaram quase todos aos seus lugares no partido Republicano. Contada esta pequena história, nada pode surpreender deste Bush.

http://www.avante.pt/pt/1779/internacional/22826/


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