por Tom Engelhardt
ODiario.info - 19 de Setembro de 2009
Este é talvez o mais estranho facto do nosso mundo americano: pelo menos três administrações norte-americanas (Ronald Reagan, George W. Bush e agora Barack Obama) desenharam o perímetro de «defesa» dos EUA até Hindu Kush; isto é, até às terras árduas e montanhosas do Afeganistão. Dito de outro modo, enquanto os norte-americanos discutem fervorosamente donde virá o dinheiro, se algum há, para investir em cuidados de saúde ou infra-estruturas degradadas ou outros pontos-chave, até há pouco tempo ninguém no mainstream levantou dúvidas sobre o facto de durante quase oito anos (para não dizer grande parte das últimas três décadas) termos andado a despejar milhares de milhões de dólares, experiência militar norte-americana e vidas norte-americanas num buraco negro no Afeganistão que foi, pelo menos em significativa parte, criado por nós.
Imaginem por um momento, enquanto lêem este texto, o que poderia ter acontecido se os norte-americanos tivessem decidido usar esse mesmo dinheiro (228 mil milhões de dólares, e a aumentar rapidamente), os mesmos «apoios», o mesmo planeamento, reflexão e esforços (mas não a mesma espantosa ineficácia) para recuperar New Orleans ou Detroit, ou para planificar um futuro para os EUA na sua própria casa. Imaginem por um momento, enquanto lêem sobre os muitos milhões investidos em mais construções na Base Aérea de Bagram ou na empresa mercenária que fornece guardas do tipo “invista na sua protecção”, ao estilo «Senhor das Moscas», a diplomatas norte-americanos em mega-embaixadas colossais, ou enquanto lêem sobre os 500 milhões de dólares estoirados numas eleições afegãs corruptas e fraudulentas, imaginem o que teria significado um investimento semelhante no nosso próprio pais.
Atentem na seguinte questão: não estariam os EUA mais seguros se todo o dinheiro, esforços e planeamento tivessem sido investidos em desenvolvimento no nosso país? Ou acham que estamos mais seguros agora, com uma taxa de desemprego oficial de 9,7%, uma taxa de subemprego de 16,8% e uma taxa recorde de 25,5% de desemprego na faixa etária 13-19 anos, com despesas alarmantes de cuidados de saúde, com vastos problemas e falhas infraestruturais e endividados até ao tutano, enquanto dezenas de milhar de tropas e injecções massivas de dinheiro são ostensivamente canalizadas para combater uma organização terrorista talvez em número de umas escassas centenas de membros, no máximo uns milhares que, contas feitas, já nem sequer está sedeada no Afeganistão, e que se mostrou perfeitamente capaz de assentar em estados falidos como a Somália ou em cidades com um funcionamento regular como Hamburgo.
A medida do sucesso
Por volta do fim deste mês, a Administração Obama irá apresentar ao Congresso as “medidas” para… Bem, uma vez que já não estamos na era Bush, não podemos chamar-lhe “vitória”. Ao estilo do enviado especial na região Richard Holbrooke, vamos chamar-lhe “sucesso”. Holbrooke propôs recentemente esta definição da palavra, evidentemente baseada nos padrões do Tribunal Supremo utilizados para definir a pornografia: “saberemos quando virmos."
De acordo com Karen DeYoung do Washington Post, a Administração Obama quer rapidamente “comprar o Congresso com os seus próprios números”. Está a elaborar um documento intitulado “Plano de Implementação Estratégica” que, escreve DeYoung, “incluirá ‘indicadores’ separados de progresso divididos em nove grandes ‘objectivos’ que serão avaliados de três em três meses… Alguns dos cerca de 50 indicadores respeitarão ao desempenho dos EUA, mas a maioria avaliará os esforços afegãos e paquistaneses.” Estes deverão incluir categorias supostamente mensuráveis como os números dos recrutas do exército afegão recentemente treinados e o prazo de entrega de recursos prometidos pelos EUA.
A Administração está agora evidentemente a “reajustar” os seus números. Mas admitamo-lo: os números na guerra tornam-se invariavelmente traiçoeiros. Pensemos neles como terrenos movediços, em parte porque os números, mesmo se exactos (e muitas vezes não são), podem mentir; ou melhor, podem contar a história que queremos que contem.
A Guerra do Vietname foi um caso clássico de guerra de números. Por vezes pareceu que os EUA no Vietname nada faziam senão inventar novos modos de medir o sucesso. Houve por exemplo os dezoito índices do «Hamlet Evaluation System» [N. do T.: Durante a Guerra do Vietname o Departamento de Defesa dos EUA criou instrumentos de avaliação que procuravam medir a eficácia das operações e, como neste caso, a segurança ao nível dos hamlets, como são designados os milhares de assentamentos rurais, demasiado pequenos para serem considerados aldeias.], cada uma delas concebida para avaliar o “progresso” da “pacificação” nas 2 300 aldeias e quase 13 000 assentamentos rurais vietnamitas, com enfoque maioritariamente em “segurança rural” e “desenvolvimento”. Depois houve os muitos índices do sistema «Measurement of Progress» [N. do T.: Sistema de Avaliação Qualitativa], os seus relatórios mensais, apresentados em diapositivos, incluindo “tendências de força dos contendores, acções das forças aliadas… bases do inimigo neutralizadas”, etc. Para as visitas de delegações do Congresso, o comandante das forças dos EUA, o General William Westmoreland, tinha os seus “mapas de desgaste”, gráficos de barras coloridos ilustrando várias “tendências” de mortandade e destruição. Os comandantes no terreno tinham os seus próprios meios sofisticados para atribuir nomes de código a “cálculos de mortandade” enquanto estavam no terreno, num momento em que a contagem real tinha que ser feita em circunstâncias perigosas, tudo isto traduzido de forma particularmente cruel no MGR, ou, como os soldados por vezes diziam, o “Mere Gook Rule”: “se morreu e é vietnamita, então é um VC [Vietcong]”. Por outras palavras, quando havia pressão para “contar os mortos”, qualquer um servia.
O problema é que nenhuma das contagens oficiais conseguiu avaliar o mais importante no Vietname. A história pode não se repetir simplesmente, mas há boas razões para desconfiar de qualquer que seja o tipo de avaliação que a Administração Obama conceba. Afinal, como no Vietname, também os homens de Obama arranjarão números à procura do “sucesso”; também eles irão avaliar o “progresso”. E esses números (como a contagem das baixas na guerra do Vietname) terão de subir (dadas as pressões em jogo). Quando chegarem a Washington serão com toda a probabilidade muito bem tratados.
Estando aparentemente próxima a entrega dessas novas avaliações ao Congresso, pensei em propor o meu próprio sistema de avaliação para o Afeganistão para o pior ano da guerra em curso. Considerem isto como matemática elementar para americanos (todos os números infracitados têm ligação às fontes; se um número não tiver ligação, basta aceder à ligação antecedente mais próxima.)
Custos
Financiamento anual para operações de combate dos EUA no Afeganistão em 2002: 20,8 mil milhões de dólares.
Financiamento anual para operações de combate dos EUA no Afeganistão em 2009: 60,2 mil milhões de dólares.
Financiamento total para operações de combate dos EUA no Afeganistão de 2002 a 2009: 228,2 mil milhões de dólares.
Financiamento de guerra pedido pela Administração Obama para 2010: 68 mil milhões de dólares (um número que irá, pela primeira vez desde 2003, exceder o financiamento pedido para o Iraque).
Financiamento recentemente pedido pelo embaixador dos EUA Karl Eikenberry para despesas não militares no Afeganistão em 2010: 2,5 mil milhões de dólares.
Financiamento gasto desde 2001 em “reconstrução” no Afeganistão: 38 mil milhões (“mais de metade dos quais em treino e equipamento de forças de segurança afegãs”).
Percentagem do financiamento dos EUA para o Afeganistão usado para fins militares: quase 90%.
Estimativa de financiamento dos EUA necessário para apoiar e melhorar as forças afegãs para a próxima década: 4 mil milhões de dólares por ano (“com uma quantia semelhante para o desenvolvimento”) de acordo com o antigo Secretário-adjunto da Defesa, Bing West (de acordo com Michael O’Hanlon da Brookings Institution “é uma previsão razoável esperar que durante 20 anos tenhamos que financiar metade do orçamento para o Afeganistão.”)
Produto interno bruto afegão: 23 mil milhões de dólares (semelhante ao da cidade de Boise em Idaho, escreve o jornalista George Will); destes, cerca de 3 mil milhões provenientes da produção de ópio.
Orçamento anual do Governo Afegão: 600 milhões de dólares.
Custos de manutenção para a força de 450 000 soldados e polícias afegãos que os generais dos EUA sonham criar: aproximadamente 500% do orçamento afegão.
Quantia despendida no “ensino e treino” da polícia desde 2001: 10 mil milhões de dólares.
Percentagem das mais de 400 unidades da Polícia Nacional Afegã “ainda incapazes de levar a cabo as suas operações de forma independente”: 75% (números de 2008).
Custo das últimas melhorias da Base Aérea de Bagram (uma velha base soviética que se tornou a maior base norte-americana no Afeganistão): 220 milhões de dólares.
Custo de um único contrato recente do Pentágono com a DynCorp International Inc. e a Fluor Corporation “para construir e apoiar bases militares dos EUA por todo o Afeganistão”: até 15 mil milhões de dólares.
A guerra
Número de soldados norte-americanos mortos no Afeganistão em 2001: 12.
Número de soldados norte-americanos mortos no Afeganistão em 2009 (até 7 de Setembro): 186.
Número total de baixas na coligação (NATO e EUA) em 2009 até agora: 311, o que faz deste o ano com maior número de mortes para estas forças desde que a Guerra começou.
Número de soldados lituanos mortos no Afeganistão: 1
Dois piores meses da Guerra do Afeganistão em termos de baixas da coligação: Julho (71) e Agosto (74) de 2009.
Número de soldados dos EUA no Afeganistão em 2002: 5 200.
Número de soldados dos EUA no Afeganistão esperados para Dezembro de 2009: 68 000
Subida percentual de ataques talibã a forças da coligação que usaram Engenhos Explosivos Improvisados (EEI) em 2009 (comparada com o mesmo período de 2008): 114%.
Subida do número de baixas da Coligação provocadas por ataques EEI em Julho de 2009 (comparada com Julho de 2008): aumentou 6 vezes.
Aumento percentual dos ataques talibã nos primeiros cinco meses de 2009 (comparado com o mesmo período de 2008): 59%.
Número de centros de comando regional no Afeganistão: 4 (Kandahar, Herat, Mazar-i-Sharif e Bagram).
Número de prisões dos EUA e centros de detenção: aproximadamente 36 “lugares sobrepovoados e muitas vezes violentos” com 15 000 reclusos.
Número de bases dos EUA: pelo menos 74 só no norte do Afeganistão, com mais a serem construídas (o número total de bases dos EUA no Afeganistão parece não estar disponível).
Custo estimado (por tropa) de manutenção das forças dos EUA no Afeganistão comparado com o Iraque: 30% mais elevado.
Número de galões [N. do T: o Galão nos EUA corresponde a 3 785 litros] de combustível diários usados pelos Marines no Afeganistão: 800 000.
Custo de um único galão de gás entregue na zona de guerra no Afeganistão nas longas e duras linhas de abastecimento, perigosamente sujeitas a ataques: até 100 dólares.
Número de galões de combustível usado para manter as tendas dos Marines frescas durante o Verão afegão e quentes no Inverno: 448 000.
Número de tropas da Geórgia (o país, não o estado norte-americano) que estão a ser preparadas por treinadores Marines dos EUA para serem enviadas para o Afeganistão para combater na Primavera de 2010: 750.
Número de comandos colombianos a enviar para o Afeganistão: desconhecido, mas os comandos colombianos, treinados pelas foras especiais dos EUA e financiados pelo Governo dos EUA, estão alegadamente a ser enviados para aqui para combater ao lado das tropas dos EUA (note-se que quer a Geórgia quer a Colômbia dependem da ajuda e apoio dos EUA; note-se também que nem os georgianos nem os colombianos estariam dispostos a assumir o tipo de normas de combate restritivas que limitam as acções de algumas forças da NATO no Afeganistão).
Percentagem de aviões espiões dos EUA e aviões não tripulados agora destinados ao Afeganistão: 66% (33% estão no Iraque).
Número de bombas dos EUA lançadas no Afeganistão nos primeiros seis meses de 2009: 2 011 (uma descida de 24% em relação ao ano anterior, graças evidentemente a uma directiva do Comandante-general no Afeganistão Stanley A. McChrystal limitando os ataques aéreos quando podem estar presentes civis).
Número de baixas civis afegãs registadas pelas Nações Unidas de Janeiro a Julho de 2009: 1 013, uma subida de 24% relativamente ao mesmo período de 2008 (infelizmente, as baixas afegãs são geralmente registadas em separado, incidente por incidente, como nas mortes de uma família afegã que viajava para uma festa de casamento em Agosto, supostamente devidas a um EEI planeado pelos Talibã, ou o recente bombardeamento controverso de dois camiões cisterna roubados na Província de Kunduz no qual muitos civis terão morrido. Qualquer coisa que se pareça com o número total de afegãos mortos nestes anos permanece desconhecida, os números que temos pecam sem dúvida por defeito).
Em escalada
Número de tropas adicionais que se prevê que o General McChrystal recomende ao Presidente Obama que se enviem para o Afeganistão nos próximos meses: 21 000 a 45 000, de acordo com os Jornais da McClatchy; 10 000 a 15 000 (“referido como uma opção de alto risco”), 25 000 (“uma opção de médio risco”), 45 000 (“uma opção de baixo risco”), de acordo com o The New York Times; menos de 10 000 de acordo com a Associated Press.
Número de tropas de apoio que os oficiais do Departamento de Defesa planeiam substituir com atiradores (tropas de combate) nos próximos meses, que constitui de facto uma escalada: 6 000 – 14 000. (“as mudanças não irão anular a necessidade eventual de tropas adicionais no futuro, mas poderão reduzir o volume de qualquer pedido… disseram as autoridades oficiais”).
Número de forças da NATO adicionais que o General McChrystal irá alegadamente pedir: 20 000.
Número óptimo de tropas adicionais do Exército Nacional Afegão (ENA) que deverão estar treinadas em 2012, de acordo com relatórios sobre o plano do General McChrystal: 162 000 (de acordo com o Professor Thomas H. Johnson, da Naval Postgraduate School e o oficial reformado do Serviço de Estrangeiros M. Chris Mason, “O Exército dos EUA dá 91 000 soldados do ENA por ‘treinados e equipados’, sabendo perfeitamente que apenas uns 39 000 estão ainda nas fileiras e capazes de se apresentar ao dever.”)
A opinião pública
Percentagem de norte-americanos que se opõem à guerra no Afeganistão: 57%, de acordo com a última sondagem da CNN, uma subida de 11% desde Abril. Apenas 42% apoiam agora a Guerra.
Percentagem de Republicanos que apoiam a Guerra: 70%, de acordo com a última sondagem Washington Post-ABC News.
Percentagem de norte-americanos que concordam com o modo como o Presidente Obama tem gerido a Guerra: 48%, de acordo com a última sondagem da CBS, uma queda de 8% desde Abril (os que apoiam o aumento do número de tropas no Afeganistão são agora apenas nos 25%, caiu 14% desde Abril.)
Percentagem de ingleses que acha que as suas forças deviam retirar do Afeganistão: 59%.
Percentagem de alemães que se opõem ao compromisso deste país de ter 4 000 tropas no Afeganistão: mais de 70%.
A eleição presidencial
Custo estimado das eleições presidenciais de 2009 no Afeganistão: 500 milhões de dólares.
Número de queixas de irregularidades nas Eleições: mais de 2 500 e ainda a subir, 691 das quais descritas como “acusações graves”.
Número de membros da “Comissão Eleitoral Independente” não nomeados pelo Presidente Afegão (e candidato presidencial) Hamid Karzai: 0.
Custo dos boletins para registo de eleitor na província de Ghazni em Maio de 2009: 200 dólares por 200 boletins.
Custo de um desses boletins adquirido por “um jornalista afegão infiltrado ao serviço da BBC”: 8 dólares.
Número de cartões para registo de eleitor (sem incluir os falsos) alegadamente distribuídos pelo país: 17 milhões, ou seja, quase o dobro do número estimado de eleitores.
Número de boletins de voto expressos na assembleia de voto da Escola Secundaria Hajji Janat Gul, a meia hora do centro de Cabul: 600.
Número de votos registados a favor de Karzai nessa assembleia de voto: 996 (número de votos a favor de outros candidatos: 5.)
Número de boletins de voto expressos a favor de Karzai e enviados para Cabul de 45 assembleias de voto no distrito de Shorabak no Sul do Afeganistão que foram fechadas pelas autoridades locais ligadas a Karzai antes da votação poder começar: 23 900.
Número de assembleias de voto falsas montadas por apoiantes de Karzai onde ninguém votou mas em que centenas de milhar de votos foram registados: cerca de 800, de acordo com o The New York Times (outras 800 assembleias verdadeiras foram ocupadas por apoiantes de Karzai “para registar de modo fraudulento dezenas de milhar de votos adicionais para o Sr. Karzai.”)
Número de boletins na província natal de Karzai, Kandahar, onde uns estimados 25 000 afegãos realmente votaram, submetidos a contagem: aproximadamente 350 000.
Empreiteiros privados
Número de empreiteiros militares contratados pelo Pentágono no Afeganistão pelo fim de Junho de 2009: quase 74 000, perto de dois terços dos quais foram contratações locais, uma subida de 9% relativamente aos anteriores três meses.
Percentagem da força do Pentágono no Afeganistão constituída por empreiteiros em Março de 2009: 57%.
Posição da percentagem de empreiteiros usada pelo Pentágono no Afeganistão: a mais alta de qualquer conflito na história dos EUA.
Diplomatas e apoios
Custo do novo programa “de choque” para aumentar a “presença diplomática” dos EUA no Afeganistão e no Paquistão: mil milhões de dólares (736 milhões dos quais foram designados para a construção de uma enorme nova embaixada / sede regional em Islamabad, no Paquistão.)
Número de pessoal adicional do Governo dos EUA alegadamente designado para ser enviado para o Paquistão para aumentar o número de civis (750) que já lá estão: 1 000.
Número estimado de civis do Governo dos EUA a enviar para a Embaixada dos EUA em Cabul, no Afeganistão, pelo fim de 2009: 976 (havia 562 no fim de 2008 e agora há alegadamente mais de 1 000 diplomatas, staff, e cidadãos afegãos que já ali trabalham.)
Número total estimado de civis a seleccionar para a embaixada dos EUA em Cabul como parte de um proposto apoio em 2011: 1 350 (800 a enviar para Cabul, 550 para fora da Capital.)
Custo do contrato de 5 anos do Departamento de Estado com a Xe Services (antiga Blackwater) para fornecer segurança aos diplomatas dos EUA no Afeganistão: 210 milhões de dólares.
Custo do contrato do Departamento de Estado com a ArmorGroup North America, uma subsidiária da Wackenhutt Services Inc. com sede nos EUA, para vigiar a Embaixada dos EUA em Cabul: 189 milhões.
Número de seguranças privados fornecidos pela ArmorGroup North America: 450, com base em Camp Sullivan, a vários quilómetros do complexo da embaixada onde alegadamente se envolveram num comportamento estilo “Senhor das Moscas”.
Os números do sucesso
Secretário da Defesa Robert Gates sobre o sucesso no Afeganistão: levaremos “alguns anos” para derrotar os Talibã e a Al-Qaeda.
Almirante “Mike” Mullen, presidente da Joint Chiefs of Staff ao programa “Meet the Press”: “acredito que temos de começar a virar isto do ponto de vista da segurança nos próximos 12 a 18 meses” (não quis dizer directamente quanto tempo).
Relatório do Comité de Relações Estrangeiras do Senado sobre a Guerra no Afeganistão: ”nenhum dos oficiais civis ou militares entrevistados no Afeganistão ou noutra parte esperavam progressos substanciais a curto prazo. Falavam em termos de 2, 5 e 10 anos… Os oficiais militares acreditam que a missão no Afeganistão apenas poderá ser bem sucedida se as tropas lá estiverem muito mais tempo (entre 5 a 12 anos).”
Peritos militares citados por Walter Pincus do Washington Post avisam: “Os EUA estão a assumir compromissos políticos e de segurança que irão durar pelo menos uma década e que terão um custo que irá eclipsar o da Guerra do Iraque.”
Anthony H. Cordesman, membro de uma “equipe” reunida pelo Comandante-general norte-americano Stanley A. McChrystal para delinear a estratégia de guerra e perito em segurança nacional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais “disse recentemente aos repórters que mesmo com avanços militares nos próximos 12 a 18 meses demoraria anos reduzir acentuadamente a ameaça dos Talibã e outras forças insurgentes.”
Robert Dreyfuss, do The Nation resumindo as opiniões de um painel de peritos na Guerra do Afeganistão, incluindo Bruce Riedel, um veterano da CIA com 30 anos de experiência e conselheiro de quatro presidentes, que presidiu ao grupo de trabalho do Presidente Obama para o Afeganistão, dois membros do grupo de trabalho de McChrystal, Kim Kagan e Cordesman, e Michael O’Hanlon da Brooking Institution: “(1) Será necessária uma escalada significativa da Guerra para evitar uma derrota completa. (2) Mesmo que dezenas de milhar de tropas sejam acrescentadas à ocupação norte-americana, não será possível determinar se o esforço dos EUA / NATO terá sucesso até 18 meses maus tarde. (3) Mesmo que os EUA invertam o curso dos acontecimentos no Afeganistão, não haverá diminuição significativa das forças dos EUA até que passem 5 anos.” (Riedel comentou: “Quem pense que em 12-18 meses vamos estar perto da vitória vive uma fantasia.”)
O novo chefe do Estado-maior do Exército Britânico, General Sir David Richards: “o papel do Exército evoluirá, mas o processo pode levar 30 ou 40 anos.” (depois de muitas críticas, retirou o que disse.)
O novo Secretário-geral da NATO Anders Fogh Rasmussen: a missão da NATO no Afeganistão irá durar “o tempo que for preciso” para garantir que o país fica seguro.
Os números do Afeganistão
Custo de uma espingarda Kalashnikov no Afeganistão hoje: 400-600 dólares.
Custo de uma Kalakov (o nome afegão para um novo modelo de Kalashnikov): 1 100 dólares (por mais 150 dólares, pode ser entregue no sul do Afeganistão.)
Custo de um quilo de heroína no Afeganistão: 2 500 dólares (custo desse mesmo quilo em Moscovo: uns estimados 100 000 dólares.)
Custo em suborno de polícias para trazer o contrabando para o Afeganistão ou daqui para fora: “20 dólares por cada arma, 100 dólares por quilo de Heroína e 1 000 dólares por cada mil quilos de haxixe.”
Posição do Afeganistão entre os “estados mais fracos” do globo, de acordo com a Brookings Institution: segundo mais fraco (também é frequentemente referido como o quarto país mais pobre do mundo.)
Taxa de desemprego no Afeganistão, de acordo com o World Factbook da CIA: 40% (números de 2008).
Ordenado mensal da Polícia Nacional Afegã: 110 dólares (menos de 4 dólares por dia).
Vencimento diário que os Talibã alegadamente pagam aos seus combatentes: 4-8 (muitas vezes é o único “trabalho” disponível).
Quanto tempo pode demorar levar um caso a tribunal do governo (com favorecimentos): 4-5 anos.
Quanto tempo pode demorar levar um caso a tribunal dos Talibã (sem favorecimentos): 1 dia.
Número de refugiados afegãos registados ainda no Irão e no Paquistão: 3 milhões.
Número de campos da Al-Qaeda que se estima existirem hoje no Afeganistão: 0 (todos os peritos reputados parecem de acordo quanto a isto).
A próxima guerra
Preço que o Gabinete do Orçamento da Administração Obama alegadamente atribuiu a futuras guerras dos EUA em cada ano até 2019: mais de 100 mil milhões por ano.
Custo de equipar sete brigadas militares com um avançado sistema coordenado de veículos aéreos não tripulados da Boeing, robots, sensores, e outro equipamento de vigilância para o terreno de batalha nos próximos dois anos: 2 mil milhões de dólares.
Data em que todas as 73 brigadas activas e de reserva estarão equipadas com o sistema: 2025.
O que não se pode medir
Eis um enigma a considerar e arquivar na rubrica “impossível mensurar”, à medida que deixamos o mundo dos números da Guerra do Afeganistão: os EUA continuam a esforçar-se para treinar a polícia e os soldados afegãos para se apresentarem e lutarem com disciplina (ver acima). Entretanto, como indicou um artigo de Karen DeYoung no Washington Post, os Talibã regularmente preparam combatentes que alegadamente usam técnicas cada vez mais sofisticadas e ousadas do tipo “fire-and-maneuver” [N. do T.: uma equipa “fire and maneuver” é a mais pequena unidade militar depois do soldado; é constituída por dois soldados em que um deles protege o outro enquanto este avança para outra posição] contra o extraordinário poder de fogo das forças dos EUA e da NATO (“para muitos norte-americanos, parecia que os insurgentes tinham andado numa coisa parecida com a Escola dos Rangers do Exército Norte-americano, que ensina os soldados a lutar em grupos pequenos em ambientes austeros.”)
Ambos os grupos são, é claro, afegãos. Pode valer a pena pensar por que razão “os deles” são os ferozes combatentes dos livros de história e da lenda e os nossos, apesar de milhares de milhões de dólares e acções de treino, não são. Este enigma teve o seu paralelo no Vietname há décadas atrás, quando conselheiros militares norte-americanos frequentemente se queixavam de que trocariam uma divisão de forças sul-vietnamitas treinadas pelos EUA por um único batalhão de Vietcongs.
Ora aqui está uma coisa para recordar: a vida é invariavelmente difícil quando se têm embaixadas gigantescas, centros de comando regional, conselheiros eleitorais, seguranças privados, instrutores e conselheiros militares, diplomatas e dinamizadores e se tenta então encontrar uma fórmula para motivar os locais para fazer o que nós queremos que eles façam.
Tom Engelhardt, co-fundador do American Empire Project, dirige o TomDispatch.com do Nation Institute. [Nota do autor: agradecimentos na pesquisa para este artigo são devidos, acima de tudo, a Nick Turse – com uma pequena vénia também a Frida Berrigan. Sítios electrónicos fundamentais, se quiserem estar actualizados sobre o Afeganistão, incluem o Juan Cole’s Informed Content, que recentemente aplicou a sua cada vez mais detalhada análise aos acontecimentos naquele país, o inestimável Antiwar.com (em especial os sumários diários de Jason Ditz), the War in Context (a não perder, mais genericamente, sobre “o Grande Médio Oriente”); Rethink Afghanistan, e o Af/Pak da Foreign Policy. Se quiser descarregar um contador electrónico de “custos de guerra”, visite a página do National Priorities Project.]
Este texto foi divulgado em www.tomdispatch.com
Tradução: André Rodrigues P. da Silva
http://www.odiario.info/?p=1303