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O Mecanismo: como a “ordem” baseada em regras inventadas está decaindo em selvageria

por Pepe Escobar (pt-BR) | Strategic Culture Foundation

sakerlatam.blog - 5 de abril, 2024

https://sakerlatam.blog/o-mecanismo-como-a-ordem-baseada-em-regras-inventadas-esta-decaindo-em-selvageria/

A terrível sombra de algum Poder invisível
Flutua, embora invisível, entre nós, – visitando
Este mundo variado com asas tão inconstantes
Como os ventos de verão que se arrastam de flor em flor.-
Como os raios de luar que, por trás de algum chuveiro de montanha,
Ele visita com olhar inconstante
Cada coração e semblante humano;
Como os matizes e harmonias da noite,-
Como as nuvens na luz das estrelas amplamente espalhadas,-
Como a memória da música fugida,-
Como qualquer coisa que, por sua graça, possa ser
Prezada, e ainda mais admirada por seu mistério.

Shelley, Hymn to Intellectual Beauty (Hino à Beleza Intelectual)

Enquanto a Organização de Terror do Atlântico Norte (OTAN) de fato comemora seu 75º aniversário, levando o lema de Lord Ismay a patamares cada vez mais altos (“manter os americanos dentro, os russos fora e os alemães embaixo”), aquele pedaço de madeira norueguesa que se faz passar por Secretário-Geral apresentou uma alegre “iniciativa” para criar um fundo de 100 bilhões de euros para armar a Ucrânia nos próximos cinco anos.

Tradução, em relação à frente monetária crucial no confronto entre a OTAN e a Rússia: saída parcial do Hegemon – já obcecado com a Próxima Guerra Eterna, contra a China; entra a tripulação heterogênea de chihuahuas europeus esfarrapados e desindustrializados, todos com dívidas profundas e a maioria atolada em recessão.

Alguns QIs acima da temperatura ambiente média na sede da OTAN em Haren, em Bruxelas, tiveram a temeridade de se perguntar como conseguir essa fortuna, já que a OTAN não tem nenhuma influência para arrecadar dinheiro entre os países-membros.

Afinal de contas, os europeus nunca conseguirão reproduzir a máquina de lavagem de dinheiro do Hegemon, já testada pelo tempo. Por exemplo, supondo que o pacote de US$ 60 bilhões proposto pela Casa Branca para a Ucrânia seja aprovado pelo Congresso dos EUA – e não será – nada menos que 64% do total nunca chegará a Kiev: ele será lavado dentro do complexo industrial-militar.

No entanto, a situação fica ainda mais distópica: o pedaço de madeira norueguesa, olhar robótico, braços balançando, realmente acredita que sua proposta de mudança não implicará em uma presença militar direta da OTAN na Ucrânia – ou no país 404; algo que já é um fato no terreno há um bom tempo, independentemente dos ataques belicistas de Le Petit Roi em Paris (Peskov: “As relações Rússia-OTAN descambaram para um confronto direto”).

Agora, junte o espetáculo Lethal Looney Tunes na frente da OTAN com o desempenho do porta-aviões do Hegemon no oeste da Ásia [Israel – nota do tradutor], levando consistentemente seu Projeto de Genocídio via Massacre e Inanição em escala industrial em Gaza a alturas indescritíveis – o holocausto meticulosamente documentado, assistido em silêncio contorcido pelos “líderes” do Norte Global.

A relatora especial da ONU, Francesca Albanese, resumiu tudo corretamente: a entidade de psicopatologia bíblica “matou intencionalmente os trabalhadores do WCK para que os doadores se retirassem e os civis em Gaza pudessem continuar a passar fome em silêncio. Israel sabe que os países ocidentais e a maioria dos países árabes não moverão um dedo em favor dos palestinos”.

A “lógica” por trás do ataque deliberado de três tapas contra o comboio humanitário claramente sinalinado de trabalhadores que mitigavam a fome em Gaza era eviscerar do noticiário um episódio ainda mais horrendo: o genocídio dentro de um genocídio do hospital al-Shifa, responsável por pelo menos 30% de todos os serviços de saúde em Gaza. O Al-Shifa foi bombardeado, incinerado e teve mais de 400 civis mortos a sangue frio, em vários casos literalmente esmagados por escavadeiras, incluindo médicos, pacientes e dezenas de crianças.

Quase simultaneamente, a gangue da psicopatologia bíblica eviscerou completamente a Convenção de Viena – algo que nem mesmo os nazistas históricos fizeram – atacando a missão consular/residência do embaixador do Irã em Damasco.

Esse foi um ataque com mísseis a uma missão diplomática, que goza de imunidade, no território de um terceiro país, contra o qual o grupo não está em guerra. E ainda por cima, matando o general Mohammad Reza Zahedi, comandante da Força Quds do IRGC na Síria e no Líbano, seu vice Mohammad Hadi Hajizadeh, outros cinco oficiais e um total de 10 pessoas.

Tradução: um ato de terror contra dois Estados soberanos, a Síria e o Irã. Equivalente ao recente ataque terrorista ao Crocus City Hall em Moscou.

A pergunta inevitável ressoa em todos os cantos das terras da Maioria Global: como esses terroristas de fato conseguem se safar de tudo isso, repetidamente?

Os pilares do totalitarismo liberal

Há quatro anos, no início do que mais tarde qualifiquei como os Raging Twenties, estávamos começando a observar a consolidação de uma série de conceitos entrelaçados que definiam um novo paradigma. Estávamos nos familiarizando com noções como circuit breaker, loop de feedback negativo, estado de exceção, necropolítica e neofascismo híbrido.

À medida que a década avança, nossa situação pode, pelo menos, ter sido aliviada por um duplo vislumbre de esperança: o impulso em direção à multipolaridade, liderado pela parceria estratégica Rússia-China, com o Irã desempenhando um papel fundamental, e tudo isso aliado ao colapso total, ao vivo, da “ordem internacional baseada em regras”.

No entanto, afirmar que haverá um caminho longo e sinuoso pela frente é a mãe de todos os eufemismos.

Então, citando Bowie, o último e grande esteta: Onde estamos agora? Vamos pegar essa análise muito precisa do sempre envolvente Fabio Vighi, da Universidade de Cardiff, e ajustá-la um pouco mais.

Qualquer pessoa que aplique o pensamento crítico ao mundo ao nosso redor pode sentir o colapso do sistema. É um sistema fechado, facilmente definível como Totalitarismo Liberal. Cui bono? Os 0,0001%.

Não há nada de ideológico nisso. Siga o dinheiro. O loop de feedback negativo definidor é, na verdade, o loop da dívida. Um mecanismo criminalmente antissocial mantido em vigor por – o que mais – uma psicopatologia, tão aguda quanto a exibida pelos genocídas bíblicos na Ásia Ocidental.

O mecanismo é aplicado por uma tríade.

1. a elite financeira transnacional, as superestrelas do 0,0001%.

2. logo abaixo, a camada político-institucional, desde o Congresso dos EUA até a Comissão Europeia (CE) em Bruxelas, bem como os “líderes” da elite compradora no Norte e no Sul Global.

3. a antiga “intelligentsia”, que agora é essencialmente composta por pessoas contratadas, da mídia à academia.

Essa hipermediatização institucionalizada da realidade é (itálico meu), de fato, O Mecanismo.

Foi esse mecanismo que controlou a fusão da “pandemia” pré-fabricada – completa com a engenharia social hardcore vendida como “bloqueios humanitários” – em, mais uma vez, guerras eternas, desde o Projeto Genocídio em Gaza até a obsessão da cultura de cancelamento/russofobia embutida no Projeto Guerra por Procuração na Ucrânia.

Essa é a essência da Normalidade Totalitária: o Projeto para a Humanidade pelas terrivelmente medíocres e autonomeadas “elites” da Grande Restauração do Ocidente coletivo.

Matando-os suavemente com IA

Um dos principais vetores de todo o mecanismo é a interconexão direta e viciosa entre a euforia tecno-militar e o setor financeiro hiperinflacionário, agora em sintonia com a IA.

Entre, por exemplo, modelos de IA como o “Lavender”, testado em campo no laboratório / campo de extermínio de Gaza. Literalmente: inteligência artificial programando o extermínio de seres humanos. E isso está acontecendo, em tempo real. Chame isso de Projeto Genocídio por IA.

Outro vetor, já experimentado, está embutido na afirmação indireta da Medusa tóxica da CE, Ursula von der Lugen: essencialmente, a necessidade de produzir armas como vacinas contra a Covid.

Esse é o cerne de um plano para usar o financiamento da UE pelos contribuintes europeus para “aumentar o financiamento” de “contratos conjuntos para armas”. Esse é um desdobramento do esforço de von der Lugen para lançar vacinas contra a Covid – um gigantesco golpe ligado à Pfizer pelo qual ela está prestes a ser investigada e possivelmente exposta pelo Ministério Público da UE. Em suas próprias palavras, falando sobre o esquema de armas proposto: “Fizemos isso para vacinas e gás”.

Chame isso de Weaponization of Social Engineering 2.0 [Instrumentalização da Engenharia Social como Arma 2.0].

Em meio a toda a ação nesse vasto pântano de corrupção, a agenda do hegemon continua bastante evidente: manter sua hegemonia militar – cada vez menor – predominantemente talassocrática, custe o que custar, como base para sua hegemonia financeira; proteger o dólar americano; e proteger essas dívidas incomensuráveis e impagáveis em dólares americanos.

E isso nos leva ao modelo econômico imundo do turbo-capitalismo, conforme vendido pelos hackers da mídia coletiva do Ocidente: o ciclo da dívida, dinheiro virtual, emprestado sem parar para lidar com o “autocrata” Putin e a “agressão russa”. Esse é um subproduto importante da análise contundente de Michael Hudson sobre a síndrome FIRE (Finance-Insurance-Real Estate).

O Ouroboros intervém: a serpente morde a própria cauda. Agora, a loucura inerente do Mecanismo está inevitavelmente levando o capitalismo de cassino a recorrer à barbárie. Selvageria pura – do tipo Crocus City Hall e do tipo Projeto Genocídio de Gaza.

E é assim que O Mecanismo gera instituições – de Washington a Bruxelas, passando por centros em todo o Norte Global até a genocida Tel Aviv – reduzidas à condição de assassinos psicóticos, à mercê das Grandes Finanças/FIRE (oh, que fabulosas oportunidades imobiliárias à beira-mar disponíveis na “desocupada” Gaza).

Como podemos escapar de tal insensatez? Teremos a vontade e a disciplina para seguir a visão de Shelley e, neste “vasto vale de lágrimas”, invocar o transcendente Espírito da Beleza – e harmonia, equanimidade e justiça?

by Quantum Bird

Pepe Escobar nasceu em 1954 no Brasil, e desde 1985 trabalha como correspondente estrangeiro. Trabalhou em Londres, Milão, Los Angeles, Paris, Cingapura e Bangkok. A partir do final dos anos 1990s, passou a cobrir questões geopolíticas do Oriente Médio à Ásia Central, escrevendo do Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, repúblicas da Ásia Central, EUA e China. Atualmente, trabalha para o jornal Asia Times que tem sedes em Hong Kong/Tailândia, como “The Roving Eye”; é analista-comentarista do canal de televisão The Real News, em Washington DC, e colaborador das redes Russia Today e Al Jazeera. É autor de três livros: Globalistan. How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge e Obama does Globalistan.

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