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A origem privada dos bancos centrais

Um dos segredos mais bem guardados é a origem privada dos bancos centrais. Tanto a Reserva Federal, como o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu ou o Banco de Pagamentos Internacionais são instituições privadas.

Por Marco Antonio Moreno | El Blog Salmón

Esquerda.net - 23 de Dezembro, 2013

http://www.esquerda.net/artigo/origem-privada-dos-bancos-centrais/30702

Um dos segredos mais bem guardados é a origem privada dos bancos centrais. Esta é a chave do nascimento do sistema financeiro que hoje tem o mundo de joelhos. E, de facto, tanto a Reserva Federal, como o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu ou o Banco de Pagamentos Internacionais são instituições privadas.

Como assinalávamos no post anterior, o primeiro Banco Central dos Estados Unidos (1791-1811) nasceu para fazer frente às dívidas de guerra. Este banco foi criado por Alexander Hamilton, Secretário do Tesouro do Presidente George Washington, que aplicou a experiência desenvolvida na fundação do New York Bank em 1784.

Este primeiro banco central dos Estados Unidos fundou-se com um capital inicial de 10 milhões de dólares, financiados pela venda de ações. O governo federal era proprietário da quinta parte, enquanto os restantes 8 milhões de dólares pertencia a investidores privados. O objetivo de Hamilton era fazer deste banco central um grande banco comercial que ajudasse ao desenvolvimento da nação. A sua ideia era dispor de um importante volume de capital para facilitá-lo a novas empresas e, por isso, este banco foi um sucesso. Não só permitiu pagar as dívidas da guerra senão que gerou importantes operações comerciais, muito maiores do que as atividades públicas.

Hamilton foi um grande condutor da política económica no nascente Estados Unidos num momento em que o país estava assolado pelas dívidas. O seu lema era que a única forma de superar a situação económica era gerar crescimento e confiança e assegurou que toda a dívida seria cancelada. Com isto apoiou os interesses da banca que passou a converter-se no motor da economia.

No entanto, este banco foi acusado de inconstitucional por alguns heróis da independência, dado que a Constituição desse momento outorgava a potestade de imprimir dinheiro só ao Congresso, não a uma empresa privada. Além disso, muitos argumentaram que dado que as dívidas de guerra já tinham sido canceladas, não havia necessidade de um banco central de carácter privado. Em 1811, quando era necessário renovar os estatutos deste banco, o Congresso recusou, por um voto, a sua renovação e o banco deixou de funcionar.

Em 1812, quando a nova dívida gerada pela guerra desse ano começou a tornar-se insustentável, a maioria dos bancos privados que emitiam a sua própria moeda entraram em falência. Com este facto, a opinião pública voltou a ser favorável à criação de um banco central a cargo do governo, e o Congresso promoveu a ideia de uma moeda uniforme conseguindo que os bancos privados retomassem os seus pagamentos.

Um banco com más práticas

Este segundo banco central dos Estados Unidos começou a operar em 1816 e funcionava como um centro de informação financeira, vigiando a sobre-emissão de dinheiro que criava a banca privada e castigando os bancos que se excediam na criação de papel moeda. Este foi o primeiro banco central que funcionou como um regulador da banca, para dissuadir as más práticas na geração de crédito, ainda que sucumbiu pelas suas próprias más práticas no uso da informação.

Este segundo banco central nasceu com um capital de 35 milhões de dólares em ações, e novamente o governo era dono apenas da quinta parte, com investidores privados donos do 80 por cento do capital. Ao contrário do primeiro banco central presidido por Alexander Hamilton, este banco foi muito mal gerido e antes de cumprir dois anos estava à beira da bancarrota. A presidência de Langdon Cheeves, em 1819, e depois de Nicholas Biddle, em 1822, salvaram este banco central do colapso.

As más práticas do nascente sistema financeiro nos Estados Unidos levaram muitos políticos a uma guerra declarada contra a banca. O caso mais emblemático foi o de Andrew Jackson. Quando Jackson assumiu a presidência dos Estados Unidos (1929), iniciou uma forte oposição a este banco central privado pelas suas ações de grande alcance suscetíveis à corrupção e muito difíceis de controlar. Jackson não esquecia as operações do primeiro banco central e os atos de corrupção nos inícios do segundo banco central e por isso foi um dos seus mais tenazes opositores. A tensão recrudesceu quando Jackson quis fechar o banco e Nicholas Biddle começou a utilizar os recursos do banco contra Jackson. A batalha tornou-se cruenta e Jackson negou-se a renovar os estatutos do banco, que ficou paralisado até que sucumbiu em 1836.

Os capitais estrangeiros na banca central

Um dos tópicos que incomodava Jackson era a forte presença de capitais estrangeiros (na maioria ingleses) no banco central dos Estados Unidos, que prestavam dinheiro à nação com juros. Desde 1836 e até o início da Guerra Civil, os Estados Unidos viveram um período sem banca central, numa etapa que se conhece como a banca livre. O governo aprovou a existência de uma grande quantidade de bancos privados, o que facilitou a concorrência e diminuiu os ganhos dos banqueiros, provocando também numerosas quebras bancárias e dando conta da fragilidade do sistema.

O estalar da guerra civil em 1863 e a necessidade de financiar os seus custos renovou o entusiasmo por criar um banco central público e de capital próprio afastado dos interesses privados. Lincoln assinalava

“tenho dois grandes inimigos: O Exército do Sul à minha frente e banqueiros atrás. Dos dois, o que está atrás é meu maior inimigo”.

Abraham Lincoln desafiou os interesses dos Rothschild e o cartel bancário que queriam envolver-se no financiamento da guerra civil. No entanto, os interesses de Rothschild tiveram sucesso graças ao trabalho de Salmon P. Chase como Secretário do Tesouro. Rothschild estava envolvido financeiramente no tráfico de escravos e a abolição da escravatura infligia enormes perdas aos proprietários de escravos e clientes de Rothschild, dado que o seu valor de ativo desaparecia. Rothschild procurava compensar estas perdas com os juros gerados na criação de dinheiro que permitir-lhe-ia a posse do Banco Central do país e apostou tudo nisso. O banco central emitiria bilhetes que poderiam usar todos os bancos do país, fossem dos Estados ou Nacionais. Bem como no governo de Lincoln apareceu a primeira nota verde chamado dólar.

No entanto, mal este banco iniciou atividade, Lincoln dirigiu-se ao povo dos Estados Unidos advertindo-o:

“O poder do dinheiro aproveita-se da Nação em tempo de paz e conspira contra ela em tempo de adversidade. É mais despótico que a monarquia, mais insolente que a autocracia, mais egoísta que a burocracia. Vejo no futuro próximo uma crise que me inquieta, e me faz tremer pela segurança do nosso país. As corporações têm sido entronizadas e uma era de corrupção irá prosseguir, e o poder do dinheiro do país esforçar-se-á por prolongar o seu reinado trabalhando sobre os preconceitos das pessoas, até que a riqueza fique em poucas mãos e a República seja destruída.”

Lincoln assediado pelos Rothschild

Depois deste discurso o governo de Lincoln tomou posse do banco central e conseguiu financiar a guerra sem juros. Para o cartel bancário encabeçado pelos Rothschild este foi um duro golpe: por um lado perdiam os ganhos de juros nas operações de empréstimo ao governo; e por outro sofriam uma enorme perda com a queda no valor desse importante ativo que, nesses anos, eram os escravos. A imprensa inglesa manifestou a sua indignação em notas como a seguinte:

“Se esta malvada política financeira, consistente na criação de dinheiro pelo Estado, que se está a levar a cabo na República Norte-americana continua em vigor no fim poderá emitir seu próprio dinheiro sem lhe custar nada. Terá todo o dinheiro necessário para levar a cabo o seu comércio. Pagará todas as suas dívidas e nunca mais contrai-las-á. A América do Norte converter-se-á no país mais próspero do mundo, mas ainda, a sua prosperidade não terá comparação com nada visto até hoje. Este governo (de Lincoln) deve ser destruído, ou destruir-nos-á a nós”

Lincoln foi assassinado com a cumplicidade de funcionários do exército e do governo que respaldavam os interesses da banca. Este caso voltou a repetir-se há cinquenta anos com a morte de John Fitzgerald Kennedy, que a 4 de junho de 1953, no cinquentenário da Reserva federal, tentou tirar ao banco central dos Estados Unidos a potestade de imprimir dinheiro e empresta-lo com juros ao governo. Esta foi a Ordem Executiva 11110 que procurava pôr fim à Reserva Federal e devolver a faculdade de imprimir dinheiro ao Tesouro dos Estados Unidos, sem juros. Em ambos os casos punham-se em perigo os interesses financeiros da banca e estas ideias foram arrancadas de raiz.

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