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Treinamento de terroristas, american style

Por Heather Wokusch

Resistir.info - 6 de Novembro, 2002

http://resistir.info/eua/escola_de_terroristas.html

Ao insistir em que o terrorismo global só pode ser travado pela sua “destruição onde existe”, George W. Bush esqueceu, muito convenientemente, as instalações de treino terrorista do exército americano: o infame Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança (WHISC). Localizado em Fort Benning, Geórgia, o WHISC treinou mais de 60 mil militares latino-americanos nas mais odiosas técnicas de contra-insurreição, e os seus graduados têm ido para a lista das personalidades envolvidas em golpes, caos e destruição.

É também devido ao WHISC que estão hoje em prisões dos EUA vários manifestantes não violentos. Com a maciça manifestação planeada junto às instalações do WHISC, em 15-17 de Novembro, esse número deve aumentar. Entre a iminência do protesto e um projecto da Casa Branca visando acabar com esta acção de uma vez por todas, torna-se evidente que será o próprio campo terrorista nos EUA que logo ficará em evidência. Menos certo é se o resultado será mais um capítulo brutal da nossa história secreta, ou um duplo salto mortal.

Estabelecido pelos militares americanos no Panamá em 1946, o WHISC (ou School of Americas, como era anteriormente conhecida) foi expulso e forçado a relocalizar-se em 1984. Os seus graduados têm repetidamente estado implicados em casos de tortura, massacre e assassínio – as suas vítimas são frequentemente activistas dos direitos sociais e outros civis. Poucos se admiraram quando o antigo Presidente do Panamá, Jorge Illueca, descreveu a escola como a “maior base de desestabilização na América Latina”.

Submetida à pressão da opinião pública dos EUA, em 1996 o Pentágono divulgou vários manuais de treino da Escola, onde se constatava um curriculum advogando o uso da chantagem, guerra psicológica, tortura e execução. Por volta de 2000, o aterrador nível das violações de direitos humanos cometidos por graduados da Escola da Américas levou a que alguns membros da Câmara dos Representantes tentassem encerrar a escola. Mas, pouco antes do voto decisivo do Congresso, a escola propôs um compromisso ao Departamento da Defesa: “Alguns dos vossos chefes disseram-nos que não podiam dar o apoio a qualquer coisa com o nome de 'Escola das Américas'. A nossa proposta atende a essas preocupações. Ela muda de nome.” E com isso a Escola da Américas foi fechada. O WHISC foi aberta na altura conveniente e, apesar de algumas alterações cosméticas ao curriculum, o campo de treino terrorista norte-americano continuou o seu trabalho como habitualmente.

A farsa não foi muito longe graças a Fr. Roy Bourgeois, fundador do Observatório da Escola das Américas. Trata-se de um dos notáveis padres cujo incansável activismo social vem pormenorizado em “Prophets Without Honor”, de Strabala & Palacek. Bourgeois considera que o papel dos militares latino americanos é manter “os pobres à margem e a pequena elite no poder. A Escola das Américas está ligada a isso”. Bourgeois sofreu repetidas passagens por prisões americanas devido a incursões ilegais ou “atravessamento de linha” em Fort Benning – mas ele não está só. Das 10 mil pessoas que protestaram pacificamente no WHISC em Novembro último, 36 tiveram sentenças superiores a seis meses em prisões federais, e ninguém pode adivinhar quantos outros prisioneiros políticos norte americanos resultarão do protesto que se prepara.

Um esforço bipartidário para acabar com o WHISC foi derrotado por pouco na Casa Branca no ano passado, mas um projecto de lei similar (HR1810) foi reintroduzido por Jim McGovern (D-MA). O HR1810 já conta com 112 subscritores e, se passar, não apenas encerrará a escola como também estabelecerá uma comissão conjunta da Câmara dos Representantes “para conduzir uma avaliação do tipo de educação e treino apropriado que o Departamento de Defesa deve fornecer ao pessoal militar das nações latino americanas”.

É a razão provável pela qual a administração Bush está a levar a cabo planos no sentido de instalar na Costa Rica um sucessor para o WHISC. Com milhares de milhões da ajuda militar norte americana canalizada para a guerra suja na América Latina, os militares locais precisam cumprir a agenda norte americana para o continente, e o seu treino não pode depender de ninharias como leis ou oposição pública. Questão a resolver: a Colômbia recebeu equipamento militar e $1.3 mil milhão em pacotes de ajuda – sem mencionar os mais de 250 militares norte americanos no terreno – para apoiar o Governo na luta contra os insurgentes (frequentemente camponeses ou lideres comunitários como professores, sindicalistas e religiosos). A acrescentar a isto um total de 10 mil graduados colombianos no WHISC/Escola das Américas e planos para a instalação local de uma unidade do WHISC. Assim, torna-se claro que os EUA estão não apenas a preparar-se para uma missão prolongada como a entrar num conflito sangrento e num pântano nada ético.

A escolha é nossa: ou fazemos declarações verbais quanto à luta contra o terrorismo global enquanto secretamente conduzimos treino terrorista aqui ao lado, ou em alternativa enfrentamos a besta onde quer que ela apareça, tanto lá fora como aqui dentro.

Heather Wokusch é escritora free lancer. Pode ser contactada através do seu sítio web
http://www.heatherwokusch.com .

O original deste artigo encontra-se em
http://www.guerrillanews.com/human_rights/doc801.html .

Tradução de Paulo Mauricio.

http://resistir.info/eua/escola_de_terroristas.html

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