Barclays, Citibank e JP Morgan estão juntos na fraude da Libor
Jornal Hora do Povo - 11/07/2012
Estão envolvidos na manipulação da taxa de juros de Londres, ainda, conforme a revista “The Economist”, Citibank, JP Morgan Chase, HSBC, Deutsche Bank, UBS e RBS, entre outros bancos
http://www.horadopovo.com.br/2012/07Jul/3072-11-07-2012/P7/pag7a.htm
As cabeças rolaram no Barclays, o banco britânico flagrado mani-
pulando a principal taxa de juro de curto prazo de referência do mundo, a Libor (London interbank offered rate), e que foi multado em US$ 453 milhões pelas autoridades inglesas e norte-americanas, mas o escândalo não vai parar por aí. Estão envolvidos, ainda, conforme a revista “The Economist”, Citibank, JP Morgan Chase, HSBC, Deutsche Bank, UBS e RBS, entre outros. Também está sob investigação a manipulação com a taxa de referência europeia, a Euribor, e a japonesa, a Tibor. A manipulação da Libor, de acordo com a investigação em curso, ocorreu de 2005 a 2009, mas segundo um veterano especulador revelou, sob anonimato, já vinha sendo cometida “há quinze anos”. Apesar da multa, ninguém foi imputado criminalmente até aqui.
Usada como referência na especulação com derivativos, nas hipotecas e em empréstimos, a Libor é a taxa de empréstimos interbancária da praça de Londres, e é fixada diariamente por um cartel de 16 bancos coordenado pela Associação Britânica de Banqueiros. De acordo com o “Wall Street Journal”, “mais de US$ 800 trilhões estão vinculados à Libor, incluídos US$ 350 trilhões em swaps e US$ 10 trilhões em empréstimos”. Assim, a especulação com a Libor afeta 10 vezes o tamanho real da economia do planeta, cujo PIB é de menos de US$ 80 trilhões.
A taxa é determinada a partir do prognóstico de cada banco de quanto iria pagar de juro se pedisse um empréstimo interbancário, às 11 horas da manhã. Não é baseada em nenhum empréstimo real, mas na suposta “expectativa”. Os 25% de estimativas mais altas e mais baixas são desconsiderados e é feita uma média com os 50% restantes. Ou seja, numa ponta o cartel de bancos descarregava uma cordilheira de derivativos e, na outra, fixava os juros que definiam se ia ter lucro ou prejuízo.
BANKSTERS
Investigações estão sendo feitas em três continentes para apurar os estragos feitos pelos banksters, e os grandes bancos estão ameaçados de serem processados em massa pelos perdedores. No período anterior à crise financeira de 2008, a manipulação foi para favorecer a posição do Barclays na especulação com derivativos, com corretores combinando entre si que juro aportar ao painel de definição da Libor. As fraudes eram comemoradas, como no e-mail “Dude, eu lhe devo um ótimo tempo .... estou abrindo uma garrafa de Bollinger”. Inicialmente o banco tentou dizer que era coisa de meia dúzia de corretores párias, mas ficou insustentável. Acabou confessando “centenas” de episódios de manipulação. Naturalmente, pelo próprio método de cálculo da Libor, não seria possível uma fraude solitária.
O Barclays acabou multado em US$ 200 milhões pela Comissão de Comércio de Futuros de Commodities dos EUA, a maior que o órgão já aplicou, e em US$ 160 milhões pelo Departamento de Justiça. US$ 92,8 milhões foram pagos à Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido. Na semana passada, o executivo-chefe do banco, o norte-americano Robert Diamond, que tentara se agarrar ao cargo abrindo mão do bônus, pediu demissão e teve de comparecer ao parlamento inglês para depor. No ano passado, ele havia arrogantemente dito que era hora de acabar com “a caça às bruxas” aos banqueiros em decorrência da crise de 2008. Antes dele, fora a vez do presidente do Conselho do banco, Marcus Agius, também vice-presidente da ABB.
DERIVATIVOS
Depois de manipular a Libor para arrancar mais lucros nos derivativos, o Barclays apelou para a fraude, novamente, desta vez para se manter à tona no olho do furacão da crise de 2008, após a quebra do Lehman Brothers. Diamond alegou que não era o único. “O Barclays acreditava firmemente que os outros membros do painel [de definição da Libor] não estavam de fato se financiando a um custo mais baixo que o Barclays e ficou desapontado porque nenhuma ação efetiva [do BC inglês] foi tomada”. No dia 29 de outubro de 2008, ele recebeu um telefonema do então vice-presidente do Banco da Inglaterra (BC), Paul Tucker, sobre o patamar de cotação da Libor que vinha sendo apresentado pelo Barclays.
Em seu depoimento ao parlamento inglês, Diamond asseverou que não considerou ter recebido qualquer instrução explícita e que se limitou a encaminhar o teor da comunicação ao então executivo-chefe, John Varley, e ao presidente do Barclays Capital, Jerry de Missier. Quanto a porque este procedeu à baixa da cotação imediatamente seria uma coisa a perguntar ao próprio. O Banco da Inglaterra reagiu negando qualquer estímulo à manipulação. De acordo com o executivo-chefe de um banco multinacional ouvido pela “Economist”, o setor financeiro está prestes a viver seu momento “indústria do tobaco”, referindo-se aos processos que custaram nos EUA mais de US$ 200 bilhões em 1998. “É desse tamanho”.
ANTONIO PIMENTA
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