Numa amarga ironia, vários líderes mundiais que estavam a comemorar “pacificamente” o fim da Primeira Guerra Mundial em Paris, incluindo Trump, Netanyahu, Macron e May são os protagonistas de guerras no Afeganistão, Palestina, Síria, Líbia, Iraque e Iémen.
Para colocar o assunto sem artifícios, eles são criminosos de guerra de acordo com o direito internacional: Têm sangue nas mãos. Que diabo estavam eles afinal a comemorar?
Nas palavras de Hans Stehling: “Assim como honramos os 15 milhões de mortos de 1914-1918, um Presidente dos EUA em demência entra em Paris com planos de atacar o Irão” [com armas nucleares] (Global Research, 12 de novembro de 2018)
Para que não nos esqueçamos: a guerra é o crime máximo, “o crime contra a Paz”, conforme definido no Julgamento de Nuremberga.
Os EUA e seus aliados embarcaram no crime de guerra fundamental, uma aventura militar a nível mundial, “uma longa guerra”, que ameaça o futuro da humanidade. O projeto militar global do Pentágono é o da conquista mundial.
A guerra para acabar com todas as guerras???
Cem anos depois: o que está a acontecer AGORA, em Novembro de 2018?
Grandes operações militares e de serviços secretos foram lançadas no Médio Oriente, Europa Oriental, África Subsariana, Ásia Central e Extremo Oriente. A agenda militar dos EUA combina quer operações de teatro de guerra, quer ações secretas organizadas para desestabilizar Estados soberanos, além da guerra económica.
Ao longo dos últimos 17 anos, logo após o 11 de Setembro, uma série de guerras lideradas pelos EUA e pela NATO foram lançadas: Afeganistão, Iraque, Líbano, Líbia, Síria e Iémen, resultando em milhões de mortes de civis e inúmeras atrocidades. Essas guerras foram lideradas pelos EUA e seus aliados da NATO.
É tudo por uma boa causa: “Responsabilidade de Proteger” (R2P), “Ir atrás dos “maus”, “Travar uma Guerra Global contra o Terrorismo”.
Acontece que “o inimigo externo número um”, Osama bin Laden, foi recrutado pela CIA. E as famílias Bush e Bin Laden são amigas.
Tal foi confirmado pelo Washington Post: o irmão de Osama, Shafiq bin Laden , teve um encontro com o pai de George W Bush, George H. Walker Bush , numa reunião de negócios com a empresa Carlyle no Ritz Carlton Hotel de Nova York em 10 de Setembro, um dia antes do 11 de Setembro:
“Não serviu de nada que quando o World Trade Center ardeu em 11 de setembro de 2001, a notícia tenha interrompido uma conferência de negócios do Carlyle no Ritz-Carlton Hotel, onde comparecera um irmão de Osama bin Laden. O ex-presidente Bush, um colega investidor, estivera com ele na conferência no dia anterior” ( Washington Post, 16/março/2003).
Será que isto não soa como uma “teoria da conspiração”? Enquanto Osama supostamente coordenava o ataque ao WTC, seu irmão Shafiq encontrava-se com o pai do presidente, de acordo com o Washington Post.
Por sua vez, de acordo com o Wall Street Journal de 27 de setembro de 2001: “A família bin Laden familiarizou-se com alguns dos maiores nomes do Partido Republicano …”.
Aqui está um conceito tipo “acredite ou não”: se os EUA aumentassem os gastos de defesa para perseguir Osama bin Laden (Inimigo Número Um), a família Bin Laden beneficiaria, por assim dizer, porque (em Setembro de 2001) eles eram parceiros do Carlyle Group, uma das maiores empresas de gestão de ativos do mundo:
Empreendendo a guerra contra “os maus”
Tal como amplamente documentado, os “maus” ou terroristas, isto é, a Al-Qaeda e seus vários afiliados, incluindo o ISIS-Daesh, são fruto dos serviços secretos ocidentais (também conhecidos como “;ativos de informação”).
Em desenvolvimentos recentes, os EUA e Israel estão a ameaçar o Irão com armas nucleares. Forças terrestres dos EUA e da NATO estão a ser implantadas na Europa Oriental na vizinhança imediata da Rússia. Por sua vez, os EUA estão confrontando a China sob o chamado “Pivot to Asia”, que foi lançado durante a presidência de Obama.
Os EUA também ameaçam fazer explodir a Coreia do Norte com o que é descrito no jargão militar dos EUA como uma “operação de nariz sangrento” que consiste em empregar as mini-bombas nucleares B61-11 de menor rendimento mas “mais utilizáveis”; consideradas “inofensivas para civis porque a explosão é feita no sub solo”, segundo opinião científica em contrato com o Pentágono.
A arma nuclear tática B61-11 tem uma capacidade explosiva entre um terço e doze vezes a bomba de Hiroshima.
Fazendo uma retrospetiva para 6 de Agosto de 1945, quando a primeira bomba atómica foi lançada em Hiroshima, 100 mil pessoas foram mortas nos primeiros sete segundos após a explosão.
Mas foi um “dano colateral”: nas palavras do presidente Harry Truman:
“O mundo notará que a primeira bomba atómica foi lançada em Hiroshima, uma base militar. Isso porque desejámos, neste primeiro ataque, evitar, na medida do possível, o assassinato de civis.”
O que está em jogo neste momento é um empreendimento criminoso global que desafia o direito internaciona [l]. Nas palavras do falecido promotor de Nuremberg, William Rockler:
“Os Estados Unidos já descartaram pretensões de legalidade e decência internacionais e embarcaram numa via de imperialismo cru e descontrolado” (William Rockler, procurador do Tribunal de Nuremberg).
Lembramos que o arquiteto de Nuremberg, o juiz do Supremo Tribunal e Promotor de Nuremberg, Robert Jackson, disse então com alguma hesitação:
“Nunca devemos esquecer que o registo em que julgamos estes réus é o registo sobre o qual a história nos julgará amanhã. Passar a esses réus um cálice envenenado é colocá-lo em nossos próprios lábios também”.
Esta declaração histórica aplica-se a Donald Trump, Benjamin Netanyahu e Margaret May?
Em desafio ao Tribunal de Nuremberg, os EUA e seus aliados invocaram a condução de “guerras humanitárias” e operações de “contra-terrorismo”, tendo em vista instalar a “democracia” em países alvo.
Os media ocidentais aplaudem. A guerra é rotineiramente anunciada nos noticiários como um empreendimento pacificador. A guerra torna-se paz. As realidades são viradas de cabeça para baixo.
Estas mentiras e fabricações fazem parte da propaganda de guerra, que também constitui um empreendimento criminoso de acordo com Nuremberg.
As guerras lideradas pelos EUA e pela NATO e aplicadas pelo mundo inteiro são um esforço criminoso sob o disfarce de “responsabilidade de proteger” e contra-terrorismo. Violam a Carta de Nuremberga, a Constituição dos EUA e a Carta da ONU. De acordo com o ex-procurador chefe do Tribunal de Nuremberga, Benjamin Ferencz, relativamente à invasão do Iraque em 2003:
“Pode-se argumentar sem necessitar de provar, dado que é percetível por si mesmo, que os Estados Unidos são culpados do crime supremo contra a humanidade – que é uma guerra ilegal de agressão contra uma nação soberana.”.
Ferenz estava a referir-se a “Crimes contra a Paz e de Guerra” (Princípio VI de Nuremberg), o qual afirma o seguinte:
“Os crimes adiante descritos são puníveis como crimes de direito internacional:
a) Crimes contra a paz:
(i) Planeamento, preparação, iniciação ou desencadeamento de uma guerra de agressão ou guerra em violação de tratados, acordos ou garantias internacionais;
(ii) Participação num plano comum ou conspiração para a realização de qualquer dos atos mencionados em (i).
b) Crimes de guerra:
Violação das leis ou costumes de guerra que incluem, mas não se limitam a: assassinato, maus-tratos ou deportação para trabalho escravo ou para qualquer outro fim da população civil de ou em território ocupado; assassinato ou maus-tratos de prisioneiros de guerra ou pessoas no mar, assassinato de reféns, saque de propriedade pública ou privada, destruição arbitrária de cidades, vilas ou aldeias, ou devastação não justificada por necessidade militar.
c) Crimes contra a humanidade:
Assassinato, extermínio, escravidão, deportação e outros atos desumanos praticados contra qualquer população civil, ou perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos, quando tais atos são praticados ou tais perseguições são executadas em execução ou em conexão com qualquer crime contra a paz ou qualquer crime de guerra.
“(I) planeamento, preparação, iniciação ou desencadeamento de uma guerra de agressão ou guerra em violação de tratados, acordos ou garantias internacionais;
(ii) Participação num plano comum ou conspiração para a realização de qualquer dos atos mencionados em (i)”.
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Michel Chossudovsky (1946) é um economista canadiano, professor emérito de Economia da Universidade de Ottawa. Foi professor visitante de várias universidades da Europa Ocidental, do Sudeste Asiático e da América Latina. Também é membro dos conselhos de várias organizações internacionais e consultor de governos de países em desenvolvimento. É autor de The Globalization of Poverty and The New World Order (2003) e America’s “War on Terrorism” (2005). Seu livro mais recente é Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War (2011). Em 2001, fundou, em Montreal, o Centre for Research on Globalization (CRG), do qual é diretor.