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Imperialismo Cultural: Perversão Linguística e Ocultação da Expansão Imperial
No momento actual, de ofensiva imperialista em todas as frentes, a luta ideológica assume enorme importância. Um dos seus aspectos reside no facto de a classe dominante vir impondo conceitos cujo objectivo é desorientar a opinião pública, como sucede com o agora trivializado “populismo”. E a questão é tanto mais grave quanto se verifica que forças progressistas embarcam nesta confusão.
Por James Petras | The James Petras website
ODiario.info - 21 de novembro, 2018
https://www.odiario.info/imperialismo-cultural-perversao-linguistica-e-ocultacao/
No mundo contemporâneo, os propagandistas imperialistas ocidentais, em particular jornalistas e editores dos meios de comunicação de massas, têm-se empenhado em perverter conceitos do quotidiano e a linguagem da política.
O uso e abuso da linguagem da política tem servido para culpar vítimas e para justificar os agressores imperiais. As consequências são múltiplas, tanto na legitimação de crimes de guerra e da rapina económica como na neutralização da oposição interna.
Procederemos à identificação da terminologia-chave que promove a agressão imperial.
Descreveremos depois os objectivos económicos e políticos do imperialismo linguístico.
Concluiremos com o exame das alternativas político/culturais.
Crítica de Conceitos: Nacionalismo e Populismo
O conceito mais abusado e de conteúdo mais baralhado no léxico imperial moderno é “populismo.” Na sua significação original “populismo” referia-se a movimentos de massas compostos por trabalhadores explorados. Movimentos populares que combatiam banqueiros oligarcas e grandes patrões dos media.
Na viragem do século e nas primeiras décadas do séc. XX, os populistas formavam poderosos movimentos políticos e partidos eleitorais nos EUA, Canadá, Rússia e Europa Ocidental.
Em meados do séc. XX, os movimentos e partidos populistas multiplicaram-se e, em alguns casos, chegaram ao poder na Ásia e na América Latina. Movimentos populistas alcançaram apoio de massas na Argentina, Brasil, Peru e México. Nos EUA, partidos e movimentos populistas representaram agricultores que combatiam os monopólios dos caminhos-de-ferro, banqueiros e chefes políticos corruptos. O seu objectivo era de garantir preços de mercado justos para os transportes, taxas de juro moderadas por parte dos bancos, e eleições honestas, libertas da corrupção dos chefes políticos. Os populistas elegeram numerosos governadores, dezenas de presidentes de câmara e vários deputados estaduais.
Na América Latina, partidos populistas no Peru (APRA) combateram em defesa dos direitos dos povos indígenas, opondo-se ao poder neocolonial e oligárquico. Na Argentina, Brasil e México partidos populistas chefiados por Juan Peron, Getúlio Vargas e Lazaro Cardenas lutaram por e garantiram direitos dos trabalhadores e a propriedade nacional dos recursos essenciais (em particular os campos petrolíferos).
Iniciaram com sucesso programas nacionais de industrialização. Desenvolvimentos semelhantes tiveram lugar na China a nas Filipinas, Indochina e Índia. Nacionalismo e populismo eram os motores gémeos da independência e da justiça social.
O nacionalismo baseava-se em pôr fim à dominação imperial e na recuperação de valores culturais nacionais, livres das imposições coloniais. Por alturas da viragem para o séc. XXI, com o surgimento e o avanço de regimes pós-coloniais, os poderes imperiais ocidentais empenharam-se em denegrir os movimentos e partidos que questionavam a sua legitimidade.
Os poderes imperiais não podiam já sustentar-se sobre a ideologia dos impérios benfeitores (“the white man’s burden” [“o fardo do homem branco”, título de um poema do colonialista inglês Rudyard Kipling]). Nem podiam já reclamar que a exploração pelo capital estrangeiro e a pilhagem estavam ao serviço da “construção nacional.”
A ideologia imperial recorreu à distorção e à reversão dos conceitos positivos associados com as lutas de libertação no seu oposto. Em vez disso, associaram o populismo com doutrinas opressivas e autoritárias de regimes regressivos.
O populismo foi esvaziado do seu emancipatório conteúdo inicial e este foi substituído e associado com a ideologia reaccionária, racista, xenofóbica, anti-imigrante e fascista.
Qualquer um e todos os movimentos populares de massas, independentemente do seu conteúdo sociocultural, foram pintados com o mesmo conteúdo regressivo. Do mesmo modo, o nacionalismo foi associado a neofascistas que expulsavam minorias e imigrantes.
O Uso e Abuso do Populismo e Nacionalismo
Os principais inimigos do “populismo” são as classes dominantes neoliberais ocidentais instaladas e os seus venenosos escribas no Financial Times, New York Times; Washington Post e Wall Street Journal.
O anti-populismo em defesa dos “valores democráticos ocidentais” serve como propaganda pseudo-progressista em favor do imperialismo. A retórica anti-populista faz uma amálgama entre direitistas e esquerdistas, chauvinistas e defensores da independência nacional.
O objectivo era justificar os múltiplos golpes e guerras dos EUA e da UE por toda a Ásia, o Médio Oriente, Norte e Leste de África e América Latina.
Enquanto os “virtuosos” media anti-populistas e lançadores de confusão condenam os populistas, promovem e defendem as mortíferas guerras e golpes ocidentais no Iraque, Afeganistão, Egipto, Líbia, Palestina, Líbano, Honduras, Somália, Sudão do Sul, Venezuela e Ucrânia.
O “antinacionalismo” serve para desarmar críticos do imperialismo favoráveis à independência e para “legitimar” os líderes ocidentais. Os ideólogos dos media atacaram direitistas e “nacionalistas” que atacam imigrantes, mas ocultaram o facto de os imigrantes serem as vítimas das invasões militares do ocidente imperial.
Nacionalistas direitistas domésticos e imperialistas neoliberais reflectem as duas faces da mesma moeda. Uns excitam as paixões nacionalistas das massas, os outros tratam de satisfazer o voraz apetite pelos lucros capitalistas.
Anti-populismo e nacionalismo foram a força motora das elites neoliberais que exploram a forças de trabalho doméstica e atacam direitos sociais e a democracia nos locais de trabalho.
Retrataram movimentos sociais populares como versões de “populismo” que deveriam ser condenadas como inimigas do mercado livre e de eleições livres.
Denegriram nacionalistas que se opunham às guerras imperiais como inimigos autoritários da segurança ocidental, da globalização e dos valores democráticos.
Conclusão
O imperialismo EUA e UE enfrenta adversários internos e externos. A oposição doméstica voltou-se contra guerras dispendiosas e contra o lucro financeiro e a favor de um maior bem-estar social.
Necessitando desesperadamente de uma nova defesa ideológica, os poderes ocidentais fabricaram novos inimigos, etiquetados como “populistas”, um disfarce para o apoio a oligarcas económicos. As elites ocidentais procuram enfraquecer os anti-imperialistas associando-os a nacionalistas de extrema-direita.
Os ideólogos do imperialismo ocidental têm outros instrumentos de propaganda. Militantes pela independência nacional são igualizados a “terroristas”. Russos que defendem fronteiras seguras são descritos como expansionistas autoritários. As redes económicas internacionais da China são alcunhadas de “colectores de dívidas de tipo colonial.”
O rufar dos tambores dos meios de comunicação de massa é necessário para ocultar a realidade. Os EUA e a UE têm bases militares no estrangeiro no mundo inteiro. A China tem uma minúscula base militar na África Oriental. Os EUA têm um cordão de bases militares envolvendo a China. Pequim não tem uma única base militar envolvendo os EUA.
Enquanto as elites coloniais e neocoloniais ocidentais saqueiam a Ásia, África e América Latina, a China financia infra-estruturas, investe em empresas produtivas e não instala bases militares nem intervém em países do Terceiro Mundo.
Os EUA e a UE fazem reféns conceitos progressistas como populismo e invertem o seu significado, atribuindo-lhe o sentido de movimentos, partidos e personalidades regressivas e reaccionárias.
Rótulos racistas e pró-imperiais são colados em “nacionalistas”, muitos dos quais são defensores da soberania nacional e se opõem à hegemonia imperial. A linguagem política ao serviço do império é desprovida de qualidades!
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James Petras é Professor Emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, Nova Iorque. É autor de 64 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em jornais da especialidade, incluindo o American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia, e o Journal of Peasant Studies. Já publicou mais de 2000 artigos. O seu último livro é War Crimes in Gaza and the Zionist Fifth Column in America.
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