Imperialismo, a indústria da morte
PCB - 6 de Julho, 2016
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A guerra é um dos principais negócios do imperialismo. Promovida em todos os cantos do planeta, propicia trilhões de dólares de lucros para as transnacionais, perversamente conscientes das mortes e tragédias que geram.
Apenas a indústria armamentista envolve cerca de 570 bilhões de dólares anuais. Armas de todos os tipos são vendidas indiscriminadamente: aviões, mísseis, foguetes, drones, tanques, metralhadoras, bombas, canhões, revólveres, minas. Os compradores, em geral, são os países ditos como aliados, que implementam os interesses do imperialismo contra países vizinhos ou que simplesmente impõem algum tipo de obstáculo à volúpia do capital.
Ao fomentar guerras, muitas delas fratricidas, as grandes empresas ganham não somente com a comercialização de armas, mas também com a exploração de recursos naturais dos países envolvidos – com destaque para o petróleo – e com a adoção de políticas internas que beneficiam o capital, como a financeirização da economia através das chamadas dívidas públicas, a privatização de empresas estatais e dos serviços essenciais, como a saúde, a educação, a segurança, os transportes etc.
Interesses geopolíticos também determinam as guerras e, por conseguinte, “os negócios”, como acontece com destaque no Afeganistão, na Síria e na Ucrânia, atualmente.
A ligação entre os interesses políticos, militares e econômicos é umbilical. A Arábia Saudita, por exemplo, é o segundo maior produtor de petróleo e possui as segundas maiores reservas em nível mundial. Não coincidentemente, é o principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, sendo um dos maiores compradores de armas e, ao mesmo tempo, fornecedor de petróleo. Em 2015, a ditadura saudita comprou cerca de US$ 25 bilhões em armas, muitas das quais foram para outros países e para o Estado Islâmico, alimentando os conflitos contra a Síria, a Líbia, a Nigéria e a Eritréia, entre outros.
É significativo que os maiores produtores e vendedores de armas sejam os países chamados desenvolvidos, do Primeiro Mundo. Pela ordem: Estados Unidos, com 31% do mercado mundial, Rússia, com 27%, China, que galgou tal posição somente no ano passado, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Ucrânia, Itália e Israel. No comércio de armas leves – revólveres, metralhadoras, bombas de gás lacrimogêneo etc. – o Brasil se introduz nessa elite, sendo o quarto maior em nível mundial.
Guerras, grandes negócios e petróleo
Ao contrário do que muitos acreditam, as guerras não representam custos para as nações imperialistas, mas sim investimentos, pois proporcionam altos lucros para suas empresas, que ganham vendendo armas para seus próprios governos e aliados.
São incontáveis as guerras ocorridas nos últimos anos. As mais significativas, pelo número de mortos, duração, interesses em jogo e recursos são: Síria, Afeganistão, Eritréia, Somália, Nigéria, Palestina, Sudão, Iêmen, Líbia, Iraque, Sudão do Sul, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Ucrânia e Colômbia.
Os interesses são claros. A Ucrânia, por exemplo, é a maior produtora de alimentos da Europa, possui alta tecnologia aeroespacial herdada da URSS, abriga uma base naval russa no Mar Negro e faz fronteira com a Rússia. É fundamental estrategicamente, tanto do ponto de vista militar quanto econômico, já que os EUA têm enorme interesse em ampliar seus negócios com a União Europeia, conforme as negociações em curso para a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).
No caso da Síria, são determinantes as reservas de petróleo e a posição geopolítica. Além disso, é a porta de entrada para alcançar o Irã, a joia da coroa do Oriente Médio para o imperialismo.
A Palestina padece com o expansionismo do Estado de Israel. Já a Líbia enfrenta guerra civil desde o assassinato de al-Gaddafi, também por ser um dos maiores produtores de petróleo em nível mundial.
Apenas na República Democrática do Congo morreram mais de cinco milhões de pessoas desde o final do século passado, um dos maiores genocídios da história recente, mas que não tem repercussão na mídia internacional, porta-voz do capital.
Países maiores produtores de petróleo em 2015
EUA
Arábia Saudita
Rússia
Canadá
China
Emirados Árabes
Irã
Iraque
Kuwait
México
Países com maiores reservas de petróleo
Venezuela – 297,7 bilhões de barris (bbl)
Arábia Saudita – 268,4 bilhões de barris
Canadá – 173,2 bilhões de barris
Irã – 157,3 bilhões de barris
Iraque – 140,3 bilhões de barris
Kuwait – 104 bilhões de barris
Emirados Árabes Unidos – 97,8 bilhões de barris
Rússia – 80 bilhões de barris
Líbia – 48,47 bilhões de barris
Nigéria – 37,14 bilhões de barris
Empresas maiores produtoras de petróleo no mundo em 2015
Saudi Aramco (Arábia Saudita): 12 milhões de barris por dia
Gazprom (Rússia): 8,3 milhões
Companhia Nacional de Petróleo do Irã (Irã): 6 milhões
Exxon Mobil (EUA): 4,7 milhões
Rosneft (Rússia): 4,7 milhões
Petrochina (China): 4 milhões
BP (Reino Unido): 3,7 milhões
Royal Dutch Shell (Reino Unido): 3,7 milhões
Pemex (México): 3,6 milhões
Kuwait Petroleum (Kuwait): 3,4 milhões
Um tratado ineficaz
Em 2014 entrou em vigor o Tratado Global de Comércio de Armas (ATT, da sigla em inglês), cujo objetivo é bloquear e fiscalizar o comércio internacional de armas, principalmente para governos com histórico de desrespeito aos direitos humanos.
Mais de 50 países assinaram e ratificaram o tratado, entre eles o Brasil e alguns dos maiores exportadores de armas, como Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido. Cerca de outros 70 países assinaram, mas não ratificaram o acordo, com destaque para os Estados Unidos, maior produtor e vendedor mundial de armas. China e Rússia sequer o assinaram quando da sua entrada em vigor.
O referido tratado pressupõe a divulgação do comércio de armas e a aplicação de normas e procedimentos para tanto. Há enorme resistência por parte dos países e empresas produtoras quanto a sua aplicabilidade, pois a gama de recursos envolvida é substancial. O sigilo das vendas das empresas para os países compradores é assegurado pela maioria dos governos, signatários ou não do tratado, o que o inviabiliza na prática.
A III Guerra e a corrida armamentista
A crise deflagrada em 2008 exacerbou a disputa entre as potências imperialistas. O caso mais flagrante é a contradição entre os Estados Unidos, de um lado, e a Rússia e a China, de outro. Esses dois países forjaram uma aliança para barrar o expansionismo estadunidense na Europa, Oriente Médio, Ásia e África, ao mesmo tempo em que impulsionam suas economias, particularmente a chinesa, cujas taxas de crescimento nas recentes décadas foram significativamente altas, apesar de terem caído nos últimos anos.
A China investe na chamada “Rota da Seda”, em alusão ao fluxo comercial da Idade Média. Através da Rússia, pelo Norte, da Índia e África, pelo Sul, trabalha para alcançar o mercado europeu, confrontando a política estadunidense, empenhada em concluir a TTIP.
A Rússia também mantém intenso comércio com os países europeus, porém, cada vez mais se volta para o mercado asiático, em especial na China e na Índia, países mais populosos do planeta e com vigoroso crescimento econômico.
O tão decantado exército mais poderoso do mundo – derrotado e humilhado no Vietnã – já não é mais o mesmo. Os russos desenvolveram os mísseis S-500, capazes de interceptar quaisquer mísseis inimigos, o que lhes dá uma superioridade militar sem precedentes na história recente. Daí a preocupação estadunidense em fortalecer a OTAN na Europa, tentar instalar bases militares na fronteira com a Rússia e lhe aplicar sanções econômicas. Enquanto isso, tenta desenvolver mísseis capazes de superar os “inimigos”.
A corrida armamentista nos dias de hoje é superior à da época da guerra fria. O planeta voltou a ser ameaçado pela guerra entre as superpotências. Nunca foi tão atual a insígnia “Socialismo ou barbárie”.
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