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O que o Irã e os EUA oferecem a seus aliados

As múltiplas mensagens de Teerã

por Elijah J. Magnier | ejmagnier.com

Revista Opera - 9 de novembro, 2019

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(Foto: Henry Ridgwell (VOA))

A tensão, ora quente e ora fria, entre os EUA e o Irã, está evoluindo na região do Oriente Médio, onde Teerã está atingindo seus inimigos (por si só e com a ajuda de seus aliados) sem causar a morte de um único americano até agora. O Irã tem como alvo pontos estratégicos na Arábia Saudita e no Golfo Pérsico, em resposta às sanções unilaterais dos EUA que se seguiram à retirada dos EUA do acordo nuclear conhecido como JCPOA (Plano de Ação Integral Conjunto). O Irã pretende enviar várias mensagens através das fronteiras para a Arábia Saudita, acima de tudo, e para os Estados Unidos da América. Teerã está selecionando, a partir de seus objetivos, alvos específicos ao mesmo tempo em que, gradualmente, aumenta os danos e maximiza o impacto sobre seus inimigos.

O último ataque dos Houthis às instalações de petróleo da Arábia Saudita exigiu meses de preparação devido a seus múltiplos objetivos. Segundo uma fonte bem informada, o Irã, desde maio, está testando – através dos houthis no Iêmen – os sistemas defensivos dos EUA e da Arábia Saudita para encontrar um ponto fraco, quando uma instalação da Aramco foi atingida pela primeira vez. Os houthis enviaram muitos drones para diferentes partes do país nos últimos cinco meses. Foi um reconhecimento tático para testar as capacidades dos radares e a rota mais segura para atingir as exportações de petróleo e forçar o fim da guerra no Iêmen. A Rússia está agora anunciando as vantagens de seu míssil S-400 sobre o sistema de interceptação de mísseis “Patriot” dos EUA, que se mostrou inútil nesse ataque; a sugestão de Putin de que os sauditas comprem o sistema russo provocou risadas do presidente iraniano Rouhani e de seu ministro de Relações Exteriores, Zarif, em Ancara.

O ataque ao petróleo saudita enviou vários recados: mostrou a força dos aliados do Irã no Oriente Médio, que estão pronto para oferecer uma negação plausível a favor do Irã quando necessário. E revelou um campo onde o Irã pode atingir seus inimigos. Era um campo de testes para novas e impressionantes capacidades militares. A ação transmitiu a mensagem de que os aliados do Irã em Gaza, Líbano e Iêmen têm o poder de impor suas próprias regras de engajamento e minar a dissuasão de seus inimigos. O ataque disse ao mundo que o petróleo do Irã deve ser vendido no mercado internacional e que as sanções dos EUA devem ser suspensas, caso contrário as exportações de petróleo sofrerão consideravelmente. Também confirmou que o Irã tem os meios para afetar o preço do petróleo. Ele mostrou a capacidade dos aliados do Irã no Oriente Médio e sua prontidão para enfrentar seus inimigos (Israel e EUA) em caso de guerra (Hezbollah versus Israel e Gaza contra Israel) com recursos tecnológicos avançados, como drones. Ele mostrou, ainda, as capacidades defeituosas de inteligência dos EUA, apesar dos grandes gastos na área. Humilhou os EUA – que mantêm dezenas de milhares de funcionários americanos em 54 bases militares regionais! Essas bases estão principalmente em Israel, Iraque, Afeganistão, Iraque, Síria, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar e Emirados Árabes Unidos, onde os EUA mantêm sua maior base militar. Isso representa o maior conjunto de armas do mundo.

O Irã está confirmando que reunir tropas americanas e equipamento militar de guerra no Oriente Médio não demonstra necessariamente força real e superioridade militar, mas sim um ônus financeiro injustificado para os países anfitriões! Este é um problema real para os países que abrigam bases americanas na região. Eles apostaram, confiando na presença dos EUA e em aparatos militares que agora se revelam incapazes de defendê-los, os principais clientes e anfitriões – gastando centenas de bilhões de dólares em armas e equipamentos americanos.

A diferença de atitude e apoio aos aliados é enorme. O Irã conseguiu construir uma cadeia confiável de aliados, agindo como um único corpo, enquanto os EUA intimidam e humilham seus aliados, – mais recentemente os reis da Arábia Saudita e Bahrein – enquanto chantageiam esses e outros líderes árabes para comprar armas americanas.

No Líbano, o Irã apoiou o Hezbollah após a invasão israelense de 1982 e ao longo de 18 anos forçou Israel a sair do país sob repetidos ataques da resistência. Na Síria, o Irã enviou tropas, petróleo, dinheiro, armas e aliados para atrapalhar o grande controle jihadista do Levante, e teve sucesso onde dezenas de estados regionais e internacionais falharam em seus objetivos. Na Palestina, o Irã compartilhou sua experiência de guerra e armas e financiou os palestinos para apoiar suas causas e objetivos. No Iraque, o Irã apoiou o governo e as forças populares a derrotar o ISIS, mesmo quando os EUA permitiram que o grupo jihadista se expandisse e se espalhasse na Síria. Os EUA atrasaram o envio das armas (já pagas) para Bagdá, em um momento de extrema urgência. No Iêmen, o Irã estava ao lado dos houthis contra a Arábia Saudita, os Emirados Árabes e dezenas de outros países, incluindo EUA, França, Reino Unido e Canadá, que ofereciam armas e informações. O nascimento do novo parceiro do Irã no Iêmen, os houthis, foi um processo doloroso. Como todos os parceiros do Irã no Oriente Médio, eles pagaram um preço muito alto para se levantar e seguir em frente. O Irã investiu bilhões de dólares no apoio a seus aliados.

Washington, por outro lado, está respondendo à política “agressiva” do Irã em relação à “pressão máxima” dos EUA, através de mais limitações e pressão econômica, sem procurar maneiras de apoiar seus aliados que estão sob ataque. Não está conseguindo encontrar uma maneira de parar a sabotagem do Irã contra navios-tanque e ataques com drones contra o petróleo saudita, e aparentemente não há perspectivas de que simplesmente levante as sanções ilegais e unilaterais ao Irã que estão causando problemas para a região. Muitos países percebem que os EUA não têm aliados, apenas clientes. Esses clientes pagam generosamente para permanecer no poder – desde que não sejam expulsos do poder por suas próprias populações, como Mubarak, do Egito, ou Bin Ali, da Tunísia -, mas seus gastos com armamentos dos EUA não oferecem proteção real. O melhor que os EUA e seus aliados podem fazer é enviar especialistas para examinar os destroços do último ataque houthi às instalações e armazenamento de petróleo sauditas.

Ao contrário dos EUA, o Irã defende seus aliados e oferece apoio financeiro e militar a eles: compartilha experiência e tecnologia de guerra com eles, para que permaneçam bem equipados e fortes o suficiente para o “dia da coleta”, quando cumprem seu papel. Teerã conseguiu construir uma rede de parceiros espalhados por diferentes partes do Oriente Médio: do Mediterrâneo ao Mar Vermelho e o estreito de Babelmândebe. Agora é a vez do parceiro iemenita passar por um trabalho doloroso, pagando o preço com sangue e destruição, antes de ingressar no “Eixo da Resistência”. Este processo já está em andamento, após quatro anos de guerra e dezenas de milhares de vítimas. Esse “eixo” se espalhou pela Palestina, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen. Ele fala em voz alta sobre sua disposição de se envolver em uma guerra de múltiplas frentes contra os EUA e seus aliados do Oriente Médio, se alguma vez o Irã for atacado.

De uma maneira ou de outra, os planos de política externa e de mudança de regime dos EUA contribuíram significativamente para consolidar esse “Eixo”, permitindo que o Irã aproveitasse o fracasso dos EUA em muitas partes do Oriente Médio.

O Oriente Médio está de fato sofrendo com a tensão EUA-Irã. Está atingindo recursos de energia e segurança de navegação em navios-tanque, e ninguém pode excluir uma escalada que leve a uma guerra indesejada e “não planejada”.

Não haverá paz no Oriente Médio enquanto as sanções ilegais dos EUA contra o Irã estiverem em vigor. De fato, nenhuma paz pode ser alcançada enquanto as forças americanas mantenham uma presença militar no Oriente Médio, agindo como um agressor e uma força de ocupação em vez de um parceiro. Há pouco interesse nesta parte do mundo em deter essas forças cuja única contribuição é “se aproveitar do clima para pegar um bronzeado” e desfrutar da boa comida do Oriente Médio – enquanto enfraquece seus “parceiros de negócios”. Atender ao apelo do Irã pela retirada total das tropas americanas do Oriente Médio seria bom para todas as partes, mas atualmente é muito improvável que ocorra.

Tradução de Matheus Silva

Elijah J. Magnier é correspondente Veterano de Zona de Guerra e Analista de Risco Político Sénior com mais de 35 anos de experiência cobrindo o Oriente Médio tendo adquirindo experiência profunda e conhecimento político no Irão, Iraque, Líbano, Líbia, Sudão e Síria. Especializado em terrorismo e contra-terrorismo, inteligência, avaliações políticas, planeamento estratégico e aprofundamento nas redes políticas da região.

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