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Em Israel, a única direita é a extrema-direita

Não existe direita não-extremista em Israel. É impossível haver direita não-extremista em Israel. Quando é a ocupação que define os contornos - moralidade, direito, justiça, democracia, igualdade - bem como a imagem internacional de Israel, não pode haver direita moderada. Há apenas a direita extremista ou a esquerda genuína. Não há meio-termo. Há preto ou branco, não há cinza.

por Gideon Levy | Haaretz

TLAXCALA - 4 de agosto, 2019

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=26719


Itamar Ben-Gvir de Otzma Yehudit [Força Judaica] fala aos repórteres, 1º de agosto de 2019. Foto: Olivier Fitoussi

Qualquer pessoa que apoie a perpetuação da ocupação está na extrema-direita. Ninguém está mais à direita; o que seria mais extremo que apoiar uma ditadura militar cruel, que durante décadas brutalizou membros de uma nação diferente e os privou de seus direitos? O que seria mais racista que apoiar sistemas separados de direitos e valores para dois povos? E o que seria mais ultranacionalista do que a crença de que um desses povos seria superior ao outro?

Só quem rejeita tudo isto e está disposto a fazer quase tudo para acabar imediatamente com esta situação é esquerdista. Todos os outros estão a enganar-se a si próprios e aos outros, num esforço hipócrita, tentando sentir-se melhor.

Após 52 anos, não restam sedativos. A charada de que a ocupação seria temporária terminou, e com ela a possibilidade de alguém ser liberal ao mesmo tempo em que apoia a ocupação. Não há apoiadores esclarecidos da ocupação. Não há via moderada para abordar ocupação perpétua.

Pode-se ficar chocado com os kahanistas, revoltado com Otzma Yehudit e desejar sua derrota, mas a verdade é que, exceto por seu estilo brusco e feio, não há grande diferença entre eles e a maioria dos partidos. A direita israelense tem fronteiras amplas, e inclui todos os apoiadores da ocupação, ativos e passivos, entusiastas ou apáticos; em suma, a grande maioria dos israelenses.

Na quarta-feira, a casualidade trouxe Benjamin Netanyahu e Benny Gantz para a Cisjordânia. Naquela manhã, o primeiro-ministro reuniu-se com colonos de Efrat e prometeu-lhes: "Nenhuma comunidade e nenhum residente jamais será desenraizado."

Um pouco mais tarde e a curta distância de carro, seu suposto principal rival de campanha declarou: "O Vale do Jordão permanecerá sob controle israelense para sempre.” Descubra as diferenças. Não há nenhuma. Não há fim para a ocupação com Efrat e não há fim para a ocupação com o Vale do Jordão. Não há solução de dois Estados sem a retirada para as fronteiras de 1967, o que significa que cerca da metade dos habitantes desta terra receberá cerca de um quinto dela - sem um único assentamento, não em um vale e não em uma montanha.

Não há diferença entre Gantz, que permanece apenas no Vale do Jordão, e Netanyahu, que permanece em Efrat. Nenhum deles quer que a ocupação termine, nem acredita na solução de dois Estados nem, evidentemente, em Estado único democrático. Por isso, Gantz não é mal menor. É mal tão grande quanto Netanyahu.

É verdade que os eleitores de Gantz se veem mais iluminados e humanos do que os apoiantes de Netanyahu, mas não o são. De diferente, só que são mais eloquentes. As únicas diferenças estão em questões secundárias.

Quando Bezalel Smotrich [líder do partido fascista ultra-ortodoxo Tukma, Ressurreição] disse na semana passada que os criminosos judeus e palestinos não são iguais perante a lei - "Não há comparação entre um irmão e um inimigo" - foi uma tempestade. Os liberais gritavam: "Não há comparação entre um irmão e um inimigo".

Mas Smotrich, o "racista" (ao contrário de todos os outros), apenas descreveu uma situação que existiu durante décadas sob governos de direita moderada, centro e esquerda - sob o controle do exército, do serviço de segurança Shin Bet e dos sistemas de justiça, os heróis da nação - aos quais só se opunham um pequeno punhado de verdadeiros esquerdistas. Smotrich diz o que a maioria dos israelenses pensa, ainda que o apoiem, ou se forem indiferentes e mesmo que nem o vejam.

Afinal, “nós” não somos como essas pessoas. E assim criamos um modelo conceitual para encobrir a fealdade. Há assentamentos legais e há postos avançados ilegais; bastaria remover os postos avançados, e seremos justos. Há o terror palestino - sem nenhuma razão, sem contexto e sem nenhuma justificativa. Por isso não podemos acabar com a ocupação agora. Talvez depois, algum outro dia. Há o direito de retorno dos refugiados palestinos, mas é antissemitismo. Por isso não há parceiro para as conversações de paz e não há nada para falar.

A extrema-direita não precisa de todas estas distrações. Todos os demais sim, precisam. E essa é a única diferença entre os dois lados - tão pequena que é difícil dizer o que seria preferível.

Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Mandinga

Gideon Levy é jornalista israelita e activista da defesa dos direitos humanos.

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=26719


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