Plutocracia.com

Bookmark and Share

Governo Trump esconde informação que desmascara as alegações de interferência russa

Atenção à referência, adiante, a empresas q vivem de “mudar a realidade”
e de “vencer eleições” em todo o mundo...

por Moon of Alabama

O Empastelador - 16 de maio, 2019

https://oempastelador.blogspot.com/2019/05/governo-trump-esconde-informacao-que.html

Na 3ª-feira, o presidente Putin da Rússia mais uma vez desmentiu alegações dos EUA de que seu país teria interferido nas eleições de 2016 nos EUA. Declarações recentes do Ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia indicam que há mais informação acessível sobre a questão de russos que teriam atuado na questão ‘ciber’ relacionada às eleições. Chamou a atenção para comunicações existentes entre os governos russo e dos EUA, nas quais os russos afirmam que querem que seja publicada toda a informação existente; e os EUA negam-se a publicar.

Na 3ª-feira, 14 de maio, o secretário de Estado Mike Pompeo voou para Sochi, para se reunir com o Ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov e com o presidente da Federação Russa Vladimir Putin. Foi a primeira visita oficial de Pompeo à Rússia. Depois da reunião, Pompeo e Lavrov participaram de uma conferência com a imprensa. As declarações dos dois lados tocaram na questão eleitoral.

O Departamento de Estado publicou transcrição e vídeo integrais da conferência de imprensa em inglês. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia apresentou uma versão oficial, em inglês, só da fala de Lavrov. As diferenças são mínimas.

Aqui, os excertos relevantes das falas de abertura, relacionadas a questões 'ciber'.

Lavrov:

Concordamos quanto à importância de restaurar os canais de comunicação que estão atualmente suspensos. A suspensão deve-se em parte não insignificante às acusações sem qualquer fundamento de que a Rússia teria interferido na eleição nos EUA. Essas acusações chegam ao ponto de sugerir que os russos teríamos entrado em colusão, de algum modo, com oficiais de alto escalão do atual governo dos EUA. É claro que alegações desse tipo são completamente falsas. [...] Creio que quanto a isso há entendimento fundamental, como discutido pelos presidentes dos dois países na reunião que tiveram ano passado em Helsinki, e também em várias conversas por telefone. Até o momento o entendimento entre os presidentes ainda não foi integralmente implementado.

Pompeo:

Falamos também sobre a questão da interferência em nossos assuntos internos. Fiz saber que há coisas que a Rússia pode fazer para demonstrar que esses tipos de atividades são coisas do passado, e espero que a Rússia faça bom uso dessas oportunidades.

Durante a sessão de perguntas e respostas, Shaun Tanron da AFP perguntou a Pompeo sobre a questão eleitoral:

Se compreendi bem sua fala inicial sobre a eleição, o senhor disse que há coisas que a Rússia pode fazer para mostrar que a interferência na eleição é coisa do passado. Que coisas são essas? Que coisas o senhor quer – que coisas o senhor gostaria – que a Rússia faça? Obrigado.

Lavrov respondeu primeiro. Disse que não há prova alguma de que tenha havido qualquer tipo de interferência russa na eleição dos EUA. E continuou:

Falando sobre a mais recente campanha presidencial especificamente: desde 2013 constituímos e mantemos um canal de troca de informações sobre riscos potenciais de efeitos não desejados no ciberespaço. Desde outubro de 2016 (quando o governo Democrata dos EUA pela primeira vez levantou essa questão) até janeiro de 2017 (antes da posse de Donald Trump), esse canal foi utilizado para solicitações e respostas. Há relativamente pouco tempo, quando os ataques à Rússia em conexão com a suposta interferência nas eleições alcançaram o clímax, nós propusemos publicar todas as mensagens trocadas entre aquelas duas entidades que operam para prevenir incidentes no ciberespaço. Hoje relembrei a Mr Pompeo todas essas mensagens. O governo dos EUA, hoje liderado pelo presidente Trump, recusou-se a publicar as mensagens. Não sei exatamente quem esteve por trás dessa decisão, mas a ideia de publicar esses dados foi bloqueada pelos EUA. Seja como for, continuamos a crer que a publicação poria fim a todos os boatos e invenções atualmente em circulação. Claro que não decidiremos unilateralmente pela publicação, mas entendo que seja importante tornar público o fato de que essas mensagens existem.

Com absoluta certeza o canal de comunicação sobre questões ‘ciber’, sim, existiu. Em junho de 2013, o presidente dos EUA e o presidente da Rússia emitiram uma Declaração Conjunta sobre “Tecnologias de Informação e Comunicação [ing. “Information and Communications Technologies (ICTs)”. Naquela declaração as partes concordam com estabelecerem canais de comunicações entre as equipes de respostas a emergências computacionais, para que possam usar o link de comunicação direta dos Centros para Redução de Risco Nuclear [ing. Nuclear Risk Reduction Centers] para comunicação sobre questões ‘ciber’; concordam também com manter links de comunicação direta entre funcionário de alto escalão na Casa Branca e no Kremlin. A Casa Branca de Obama publicou uma Fact Sheet na qual aparece detalhada a implementação desses canais de contato.

Uma das inferências possíveis a extrair da fala de Lavrov é que “o entendimento entre os presidentes [que] ainda não foi integralmente implementado” é a publicação das mensagens sobre incidentes no ciberespaço. Claramente, os russos entendem que a publicação de mensagens trocadas com o governo Obama provaria cabalmente que não houve qualquer interferência russa. A publicação também provaria que Trump não teve qualquer participação em qualquer ‘colusão’, embora continue a ser acusado de ter participado. Assim sendo, por que o governo Trump não concorda com a publicação daquelas mensagens? Quem está bloqueando a ação do governo Trump?

Pompeo não respondeu às declarações de Lavrov.

Adiante, no mesmo dia, Pompeo teve encontro com o presidente Putin.

Putin fê-lo esperar três horas. Os dois lados fizeram rápidas falas de abertura. Há diferenças entre as traduções ao inglês, da fala de Putin. Na versão distribuída pela Rússia Putin explicitamente nega a suposta interferência na eleição:

De nossa parte, já dissemos várias vezes que gostaríamos de restaurar plenamente as relações. Espero que as condições necessárias para isso estejam sendo criadas desde agora, apesar do caráter exótico do trabalho de Mr Mueller, deve-se dar crédito a ele por conduzir inquérito que, em geral, foi objetivo. Mr Mueller reafirmou que não há qualquer traço de colusão entre a Rússia e o atual governo, colusão que descrevemos como absoluto nonsense, desde o início. Não houve, nem poderia ter havido, qualquer interferência, de nosso lado, na eleição de nível presidencial nos EUA. Mesmo assim, lamentavelmente, essas acusações foram usadas como razão para a deterioração dos laços entre nossos estados.

A versão do Departamento de Estado (EUA) não inclui o trecho em que Putin nega explicitamente qualquer interferência em eleições, e reforça a rejeição de qualquer alegado de conluio:

De nossa parte, já dissemos várias vezes que gostaríamos de restaurar plenamente as relações, e espero que as condições necessárias para isso estejam sendo criadas, porque, por mais exótico que tenha sido o trabalho do Conselheiro Especial Mueller, tenho de dizer que, no geral, fez investigação muito objetiva e confirmou que não há traços de tipo algum de colusão entre a Rússia e o atual governo, que sempre dissemos que eram absolutamente fake. Como já dissemos antes, não houve colusão de funcionários de nosso governo e não poderia aparecer lá. Mesmo assim, foi – essa foi uma das razões que com certeza romperam nossos [inaudível] laços.

Tradução simultânea, em inglês, do mesmo parágrafo (vídeo) pelo site Ruptly, russo, não inclui a palavra ‘eleição’ na parte negritada, que tampouco aparece em outra tradução simultânea (vídeo) pela rede PBS (EUA).

Parece que o Kremlin inseriu posteriormente, na fala de Putin, a negação explícita de qualquer interferência na eleição. É perfeitamente possível que Putin, que falava sem texto escrito, tenha ‘resumido’ a declaração que Lavrov já havia feito, digamos, ‘por extenso’.

Depois da reunião com Putin, Pompeo falou rapidamente com jornalistas dos EUA que o acompanhavam. Não há menção ao que Lavrov disse.

Houve comunicações secretas entre o governo Obama e o governo russo sobre suposta interferência na eleição e ‘ação de hackers’ contra o Comitê Nacional Democrata e o chefe geral da campanha de Clinton, Podesta. Não foram mencionadas no relatório Mueller nem em qualquer outra fonte aberta.

Dado que a Rússia quer que essas comunicações sejam divulgadas, sempre poderá apresentar uma requisição nos termos da Lei para Liberdade de Informação [ing. FOIA, Freedom of Information Act], para que sejam publicadas. A resposta que dê o governo Trump a essa requisição via Lei FOIA pode, pelo menos, revelar as razões pelas quais esses documentos continuam a ser sonegados à opinião pública.

As acusações de que a Rússia teria interferido na eleição de 2016 baseiam-se, em parte, no fato de que uma empresa comercial russa teria usado personagens fake no Facebook para vender publicidade. Se se revisam aqueles temas e as posições ideológicas aqueles personagens ficcionais, vê-se que só ‘provam’ que nada tiveram a ver com influenciar eleições nos EUA.

Na comparação com os ‘personagens’ da ficção russa, outros ‘personagens’ igualmente de ficção, igualmente no Facebook, mas distribuídos por empresa israelense e hoje divulgados, foram, sim, dedicadamente concebidos para influenciar eleições:

Facebook divulgou na 5ª-feira que baniu uma empresa israelense que distribuía campanha publicitária para influenciar e distorcer eleições em vários países, e cancelou dúzias de contas dedicadas a distribuir desinformação.

...

Muitas dessas contas eram ligadas ao Grupo Arquimedes, empresa de consultoria política e lobby com sede em Telavive, que se autodivulga promovendo as próprias capacidades e talentos para “mudar a realidade”.

...

No website, Archimedes apresenta-se como empresa de consultoria ativa em campanhas eleitorais presidenciais.

Pouco se sabe dessa empresa, além do slogan – “sempre vencendo eleições em todo o mundo” e uma conversa vaga sobre um software do grupo, para “gestão de mídias sociais de massa”, o qual, pelo que se sabe, permite operar número “ilimitado” de contas online.

Que ninguém espere protestos oficiais vindos de Washington DC contra tão óbvia interferência de um país em eleições de outro país.

____

Parabéns a Aaron Maté por ter chamado a atenção para o que Lavrov realmente disse.

https://oempastelador.blogspot.com/2019/05/governo-trump-esconde-informacao-que.html


Concorda? Discorda? Comente e partilhe as suas ideias
Regras da Comunidade


Lista de artigos

e-mail: info@plutocracia.com
http://plutocracia.com/

| Termo de Responsabilidade |