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A Propagação Hegemônica: como as agências globais e a mídia ocidental cobrem a geopolítica

“Por isso, você sempre tem que se perguntar: por que eu estou recebendo esta informação específica, neste formato específico, neste momento específico? No fim das contas, é sempre por questões de poder.” — Konrad Hummler, executivo de mídia suíço

por Swiss Propaganda Research | OffGuardian

Revista Opera - 23 de abril, 2019

https://revistaopera.com.br/2019/04/23/a-propagacao-hegemonica-como-as-agencias-globais-e-a-midia-ocidental-cobrem-a-geopolitica-parte-1/

Este é um dos mais importantes aspectos do sistema dos nossos meios de comunicação, apesar de ainda ser praticamente desconhecido pelo público: a maioria da cobertura de notícias internacionais na mídia ocidental é fornecida por apenas três agências globais de notícias, com sedes principais em Nova Iorque, Londres e Paris.

O papel central desempenhado por essas agências faz com que a mídia ocidental frequentemente informe sobre os mesmos assuntos, utilizando até as mesmas terminologias e formulações. Além disso, governos, militares e serviços de inteligência utilizam essas agências de notícias globais como multiplicadoras para propagar suas mensagens pelo mundo.

Um estudo sobre a cobertura da guerra na Síria por nove dos principais jornais europeus ilustra claramente essas questões: 78% de todas as publicações foram baseadas, completa ou parcialmente, em notícias de agências e 0% em pesquisa investigativa. Não obstante, 82% de todos os artigos de opinião, comentários e entrevistas foram a favor da intervenção dos EUA e da OTAN, enquanto a propaganda ideológica foi atribuída exclusivamente ao lado oposto.

Introdução: “Algo estranho”

“Como um jornal sabe o que sabe?”. A resposta para essa pergunta é provavelmente surpreendente para os leitores de jornais:

“A principal fonte de informação são as notícias de agências. As agências de notícias operando quase anonimamente são, de certa forma, a chave para os eventos mundiais. Então, quais são os nomes dessas agências? Como elas funcionam? Quem as financia? Para avaliar quão bem alguém está sendo informado sobre acontecimentos no Ocidente e no Oriente, é necessário saber as respostas para essas perguntas.” (HÖHNE, 1977, p. 11)

Roger Blum, pesquisador de mídia suíço, ressalta:

“As agências de notícias são as fornecedoras de material mais importantes para os meios de comunicação em massa. Nenhum veículo de comunicação diário consegue subsistir sem elas… De modo que as agências de notícias influenciam a nossa imagem do mundo. E, acima de tudo, somos informados sobre o que elas selecionaram.” (1995, p. 9)

Tendo em conta sua relevância, é ainda mais surpreendente que essas agências sejam pouco conhecidas pelo público:

“Uma grande parte da sociedade desconhece que as agências de notícias existem… e, na verdade, elas desempenham um papel extremamente importante no mercado dos meios de comunicação. Todavia, apesar dessa grande importância, pouca atenção foi dada a elas no passado.” (SCHULTEN-JASPERS, 2013, p. 13)

Até mesmo o líder de uma agência de notícias observou:

“Há algo de estranho sobre as agências de notícias. Elas são pouco conhecidas pelo público. Ao contrário de um jornal, a atividade delas não está tanto no centro das atenções, embora possam sempre ser encontradas como fonte das publicações.” (SEGBERS, 2007, p.9)

“O nervo central invisível do sistema dos meios de comunicação”

Portanto, quais são os nomes dessas agências de notícias que “sempre estão na fonte das publicações”? Atualmente, restam apenas três agências globais:

- A norte-americana Associated Press (AP) com mais de 4.000 funcionários em todo o mundo. A AP pertence a empresas de comunicação dos EUA e tem seu principal escritório editorial em Nova Iorque. As notícias da AP são utilizadas por cerca de 12.000 veículos de comunicação internacionais, alcançando mais da metade da população mundial todos os dias.

- A semi-estatal francesa Agence France-Presse (AFP), sediada em Paris, possui por volta de 4.000 funcionários. A AFP envia diariamente mais de 3.000 notícias e fotos para veículos de comunicação do mundo inteiro.

- A agência britânica privada Reuters, de Londres, emprega um pouco mais de 3.000 pessoas. A Reuters foi adquirida em 2008 pelo magnata da mídia canadense Thomson – uma das 25 pessoas mais ricas do mundo –, resultando na fusão Thomson Reuters com escritório principal em Nova Iorque.

Além disso, muitos países administram suas próprias agências de notícias. Contudo, quando se trata de notícias internacionais, estas geralmente dependem das três agências globais e basicamente copiam ou traduzem as informações passadas.


As três agências globais de notícias: Reuters, AFP e AP. E as três agências nacionais de países germanófonos: APA da Áustria, DPA da Alemanha e SDA da Suíça.

Wolfgang Vyslozil, ex-diretor administrativo da austríaca APA, descreveu o papel fundamental das agências de notícias da seguinte maneira:

“Agências de notícias raramente são percebidas pelos olhos do público. No entanto, elas são uma das mais influentes e, ao mesmo tempo, um dos tipos de mídia menos conhecidos. São instituições fundamentais de importância substancial para qualquer sistema de comunicação. Elas são o nervo central invisível que conecta todas as partes desse sistema.” (SEGBERS, 2007, p. 10)

Pequenas abreviações, grandes efeitos

Entretanto, há um motivo simples para as agências globais, a despeito de sua importância, serem praticamente desconhecidas do público em geral. Como observa Blum:

“o rádio e a televisão, geralmente, não citam suas fontes, e apenas especialistas conseguem decifrar as referências em revistas.” (1995, p. 9)

O motivo para essa discrição, no entanto, deve ficar claro: os veículos de comunicação não estão particularmente interessados em mostrar aos leitores que eles próprios não pesquisaram a maior parte de suas produções.

A imagem abaixo ilustra alguns exemplos de rotulação de fontes em jornais populares de língua alemã. Ao lado das abreviações das agências, encontramos as iniciais dos editores responsáveis pela respectiva notícia da agência.


Agências de notícias como fontes em matérias de jornais.

Ocasionalmente, os jornais utilizam material de agência mas não o rotulam de fato. Um estudo realizado em 2011, pelo Instituto Suíço de Pesquisa de Esfera Pública e Sociedade da Universidade de Zurique, chegou às seguintes conclusões (FOEG, 2011):

“As contribuições por meio de agências ou são exploradas integralmente sem que haja rotulação, ou são parcialmente reescritas para fazê-las parecerem com uma contribuição editorial. Além do mais, existe uma prática de ‘incrementar’ as notícias de agência com o mínimo de esforço: por exemplo, as que não são publicadas são enriquecidas com imagens e gráficos e apresentadas como artigos abrangentes.”

As agências desempenham um papel proeminente não apenas na imprensa escrita, mas também nas emissoras privadas e públicas. Tal aspecto é confirmado por Volker Braeutigam, que trabalhou por dez anos para a emissora estatal alemã ARD e que vê o domínio dessas agências de forma crítica:

“Um problema crucial é que a redação da ARD obtém suas informações principalmente de três fontes: as agências de notícias DPA/AP, Reuters e AFP. Uma alemã/norte-americana, uma britânica e outra francesa… O editor que trabalha em um determinado tópico de notícias só precisa selecionar algumas passagens de texto na tela que ele considere essenciais, reorganizá-las e colá-las com alguns floreios.”

A Schweizer Radio und Fernsehen (SRF, Rádio e Televisão Suíças) também se baseia amplamente em notícias dessas agências. Indagados por telespectadores pelo motivo de uma marcha da paz na Ucrânia não ter sido noticiada, os editores responderam: “Até o momento, não recebemos um único informe das agências independentes Reuters, AP e AFP sobre essa marcha”.

De fato, não apenas os textos, mas também as imagens e as gravações de som e vídeo que encontramos na nossa mídia todos os dias são, principalmente, das mesmas agências de sempre. O que o público desavisado pode considerar como produções do seu jornal local ou canal de TV, na realidade, são informações copiadas de Nova Iorque, Londres e Paris.

Alguns meios de comunicação deram um passo ainda mais além e, por falta de recursos, terceirizaram todo o seu escritório editorial estrangeiro por uma agência. Ademais, é amplamente documentado que muitos portais de notícias na internet publicam sobretudo informes de agências – ver, por exemplo, Paterson (2007), Johnston (2011) e MacGregor (2013).

No fim, essa dependência das agências globais cria uma semelhança impressionante nos noticiários internacionais. De Viena a Washington, os nossos meios de comunicação frequentemente cobrem os mesmos assuntos, usando muitas vezes as mesmas frases – um fenômeno que, em outro contexto, seria associado à “mídia controlada” em estados autoritários.

A imagem a seguir mostra alguns exemplos de publicações alemãs e internacionais. Como é possível observar, apesar da alegada objetividade, um ligeiro viés (geo)político é, muitas vezes, espraiado.


“Putin ameaça”, “Irã provoca”, “OTAN preocupada”, “fortaleza de Assad”: similaridades de conteúdo e de escrita devido às informações de agências globais de notícias.

O papel dos correspondentes

Grande parte da nossa mídia não tem correspondentes internacionais, de maneira que nossos veículos de comunicação não têm escolha a não ser depender completamente de agências globais para notícias estrangeiras. Porém, e os grandes jornais e emissoras de TV que possuem seus próprios correspondentes internacionais? Nos países de língua alemã, por exemplo, são jornais como o NZZ, o FAZ, o Süddeutsche Zeitung, o Welt e as emissoras públicas.

Em primeiro lugar, a desproporção numérica deve ser mantida em mente: enquanto as agências globais têm milhares de funcionários no mundo inteiro, até mesmo o jornal suíço NZZ, conhecido por sua cobertura internacional, mantém apenas 35 correspondentes em solo estrangeiro (incluindo representantes comerciais). Em países com dimensões continentais como a China e a Índia, o jornal possui apenas um correspondente internacional para cada. Toda a América do Sul é coberta por apenas dois jornalistas, enquanto que na ainda maior África ninguém está permanentemente alocado.

Mais do que isso, em zonas de guerra, os correspondentes raramente se aventuram a fazer a cobertura. Na guerra na Síria, por exemplo, muitos jornalistas “cobriram” de cidades como Istambul, Beirute, Cairo e até mesmo de Chipre. Para completar, muitos desses jornalistas não possuem as habilidades linguísticas para entender as pessoas e as mídias locais.

Então, como é que correspondentes em tais circunstâncias sabem quais são as “notícias” na sua região do mundo? Mais uma vez, a resposta fundamental: por meio das agências globais. Joris Luyendijk, correspondente holandês no Oriente Médio, descreveu de maneira impressionante, em seu livro People Like Us: Misrepresenting the Middle East, como os correspondentes internacionais trabalham e como eles dependem das agências globais:

“Eu sempre pensei em correspondentes como uma espécie de historiadores em tempo real. Quando algo importante acontecia, eles iam atrás, descobriam o que estava acontecendo e relatavam o ocorrido. Mas eu não fui enviado para descobrir o que estava acontecendo, isso era feito muito antes. Eu fui para recitar uma notícia do local.

Os editores ligavam da Holanda quando algo acontecia, enviavam por fax ou por e-mail os comunicados à imprensa, e eu os recontava com minhas próprias palavras no rádio ou os transformava em alguma matéria para o jornal. Esse é o motivo pelo qual os meus editores achavam mais importante que eu estivesse no lugar em si do que realmente saber o que estava acontecendo. As agências de notícias forneciam informações suficientes para que você pudesse escrever ou falar sobre qualquer crise ou reunião de cúpula.

É por isso que você frequentemente se depara com as mesmas imagens e informações se folhear alguns jornais diferentes ou alternar entre canais de notícias.

Nossos homens e mulheres nos escritórios de Londres, Paris, Berlim e Washington… Todos pensavam que os temas errados estavam dominando os noticiários e que estávamos seguindo os padrões das agências de notícias muito servilmente…

A ideia comum sobre os correspondentes é que eles “possuem a informação”, mas a realidade é que as notícias são como uma esteira rolante em uma fábrica de pães. Os correspondentes estão no final da esteira, fingindo que nós mesmos assamos o pão, quando, na verdade, tudo o que fizemos foi colocá-lo em sua embalagem…

Certo dia um amigo me perguntou como eu conseguia responder, de hora em hora e sem hesitar, todas as perguntas durante as transmissões. Então, eu o disse que, como no noticiário da TV, você já sabe todas as perguntas com antecedência. A resposta dele por e-mail veio repleta de expletivos. Meu amigo havia percebido que, por décadas, o que ele estava assistindo e ouvindo nos noticiários era puro teatro.” (LUYENDJIK, 2009, pp. 20-22, 76, 189)

Em outras palavras, o correspondente típico, em geral, não é capaz de fazer uma investigação independente. Pelo contrário, ele trata e reforça os temas que já foram prescritos pelas agências de notícias – o notório “efeito mainstream”.

Além disso, por economia de custos, muitos veículos de comunicação compartilham seus poucos correspondentes internacionais, portanto, dentro de grupos específicos de mídia, as mesmas informações internacionais são frequentemente utilizadas por várias publicações – nenhuma delas contribuindo para a diversidade da cobertura.

“O que as agências não reportam, não aconteceu”

O papel central das agências de notícias também revela por que, em conflitos geopolíticos, a maioria das mídias utiliza as mesmas fontes. Na guerra na Síria, por exemplo, o “Observatório Sírio de Direitos Humanos” – uma organização de uma pessoa só, bastante duvidosa e com sede em Londres – se destacou. A mídia raramente indagava diretamente esse “Observatório”, já que seu operador era muito difícil de ser contatado, até mesmo pelos jornalistas.

Em vez disso, o “Observatório” entregava suas informações a agências globais que, então, as enviavam para milhares de veículos de comunicação, que, por sua vez, “informavam” centenas de milhões de leitores e espectadores em todo o mundo. Por que as agências de todos os lugares se referiram a esse estranho “Observatório” em suas notícias e quem realmente o financiava são perguntas que raramente eram feitas.

Por isso, o ex-editor-chefe da agência de notícias alemã DPA, Manfred Steffens, afirma em seu livro The Business of News:

“Uma notícia não se torna mais correta simplesmente porque é possível fornecer uma fonte para ela. É bastante questionável confiar mais em uma notícia apenas pelo fato de uma fonte ter sido citada. Por trás do escudo protetor que uma ‘fonte’ proporciona para a notícia, algumas pessoas se sentem bastante inclinadas a espalhar coisas muito suspeitas, mesmo que elas próprias tenham dúvidas legítimas sobre sua veracidade. A responsabilidade, pelo menos moralmente, sempre pode ser atribuída à fonte citada.” (1969, p. 106)

A dependência de agências globais também é uma das principais razões pelas quais a cobertura midiática dos conflitos geopolíticos é frequentemente superficial e errônea, uma vez que as relações históricas e os contextos são fragmentados ou completamente ausentes. Como apontado por Steffens:

“As agências de notícias são impulsionadas quase que exclusivamente por acontecimentos em tempo real e são, portanto, a-históricas por sua própria natureza. Elas são relutantes em contextualizar mais do que o estritamente necessário.” (1969, p. 32)

Por fim, o domínio das agências globais explica o porquê de certas questões e eventos geopolíticos – que muitas vezes não se encaixam bem na narrativa dos EUA/OTAN, ou são “pouco importantes” – não são mencionados em nossos meios de comunicação. Se as agências não cobrem algo, consequentemente, a maioria da mídia ocidental não estará a par do ocorrido. Como apontado por ocasião do 50º aniversário da alemã DPA:

“O que as agências não reportam não aconteceu.” — Wilke (2000, p.1)

“Plantando histórias e informações questionáveis”

Enquanto alguns temas não aparecem na nossa mídia, outros são proeminentes embora não devessem ser:

“Frequentemente, os meios de comunicação de massa não informam sobre a realidade, mas sobre uma versão construída ou encenada dela. Vários estudos demonstram que os meios de comunicação de massa são predominantemente determinados pelas atividades de RP [Relações Públicas] e que as posturas de recepção passiva superam as de investigação ativa.” (BLUM, 1995, p. 16)

De fato, devido à baixa performance jornalística dos nossos meios de comunicação e à alta dependência para com algumas agências de notícias, é fácil para partes interessadas espalharem propaganda e desinformação em um formato supostamente respeitável para uma audiência mundial. O editor da DPA, Steffens, advertiu sobre esse perigo:

“O senso crítico fica mais baixo quanto mais respeitada é a agência de notícias ou o jornal. Alguém que queira introduzir uma informação questionável na imprensa mundial só precisa tentar colocá-la em uma agência razoavelmente respeitável, certamente ela aparecerá um pouco mais tarde nas outras. Às vezes, acontece de uma farsa passar de agência para agência, tornando-se cada vez mais confiável.” (STEFFENS, 1969, p. 234)

Entre os atores mais ativos em “plantar” notícias geopolíticas questionáveis estão os ministérios militares e de defesa. Em 2009, por exemplo, o chefe da agência de notícias americana AP, Tom Curley, divulgou que o Pentágono emprega mais de 27 mil especialistas em RP que trabalham na mídia circulando manipulações direcionadas, com um orçamento anual de quase 5 bilhões de dólares. Não obstante, generais de alto escalão dos EUA ameaçaram “arruinar” a AP e o Tom Curley caso os jornalistas cobrissem criticamente demais o exército dos EUA.

Apesar – ou por causa? – de tais ameaças dos militares, nossos meios de comunicação publicam, regularmente, informações duvidosas com base em “informantes” não identificados dos “círculos de defesa dos EUA”.

Ulrich Tilgner, correspondente veterano no Oriente Médio para emissoras alemãs e suíças, alertou em 2003, logo após a guerra no Iraque, sobre os atos fraudulentos dos militares e o papel desempenhado pela mídia:

“Com a ajuda da mídia, os militares determinavam a percepção do público e a utilizavam a favor de seus planos. Eles conseguiam fomentar expectativas e espalhar cenários enganosos. Nesse novo tipo de guerra, os estrategistas de RP da administração dos EUA cumprem uma função semelhante a dos pilotos de bombardeiros. Os departamentos especiais de relações públicas no Pentágono e nos serviços secretos tornaram-se combatentes na guerra da informação…. Os militares dos EUA utilizam exatamente a falta de transparência na cobertura da mídia para suas manobras de manipulação. A maneira como eles espalham informações e histórias, que são coletadas e distribuídas por jornais e emissoras, torna impossível para os leitores, ouvintes e espectadores rastrearem a fonte original. De maneira que o público falhará ao tentar identificar a verdadeira intenção dos militares.” (TILGNER, 2003, p. 132)

O que é de conhecimento das forças armadas dos EUA, não seria estranho aos serviços de inteligência dos EUA. Em uma reportagem notável da emissora britânica Canal 4, ex-funcionários da CIA e um correspondente da Reuters falaram abertamente sobre a disseminação sistemática de propaganda e desinformação na cobertura de conflitos geopolíticos:

“O ex-oficial e delator da CIA, John Stockwell, disse sobre o seu trabalho na guerra angolana: “O objetivo básico era fazer com que parecesse como uma agressão [inimiga] na Angola. Então, qualquer tipo de história que você pudesse escrever sustentando essa linha, para ser divulgada na mídia em qualquer lugar do mundo, nós fazíamos. Um terço da minha equipe nessa força-tarefa era de especialistas em RP, propagandistas, cujo trabalho era inventar histórias e encontrar maneiras de colocá-las na imprensa… Os editores da maioria dos jornais ocidentais não são muito céticos em relação às mensagens que estão de acordo com o senso comum e preconceitos… Algumas de nossas histórias circularam por semanas… [Mas] foi tudo inventado.”

Fred Bridgland relembra seu trabalho como correspondente de guerra da Reuters:

Nós baseávamos nossos informes em comunicados oficiais. Apenas anos mais tarde eu soube que a embaixada dos Estados Unidos tinha um especialista em desinformação da CIA que inventava aqueles comunicados que não tinham qualquer relação com a realidade… Honestamente, para explicar de maneira crua, não importa o que as agências publiquem, certamente chegará às redações dos jornais.

O ex-analista da CIA, David MacMichael, descreveu seu trabalho na guerra civil na Nicarágua com as seguintes palavras: ‘“eles falavam que a nossa inteligência na Nicarágua era tão boa que poderíamos até registrar quando alguém desse descarga. Mas eu tinha a sensação de que as histórias que estávamos dando à imprensa saíam diretamente de dentro do vaso’”. (HIRD, 1985 – assista a matéria completa)

Obviamente, os serviços de inteligência também possuem um grande número de contatos diretos na nossa mídia, os quais podem “vazar” informações se necessário. Porém, sem o papel central das agências de notícias globais, a sincronização mundial de propaganda hegemônica e de desinformação nunca seria tão eficiente.

Por meio do “multiplicador de propaganda”, histórias e informações suspeitas de especialistas em RP – que trabalham para governos, militares e serviços de inteligência – chegam ao público em geral praticamente sem serem checadas ou filtradas. Isto é, os jornalistas citam as agências de notícias, e as agências de notícias citam as suas fontes; embora, muitas vezes, os jornalistas tentem apontar incertezas com termos como “aparente”, “alegado” e similares para se protegerem, embora a essa altura o boato já se espalhou para o mundo e causou seu efeito.

Como o New York Times noticiou…

Além das agências de notícias globais, existe outra fonte que é frequentemente utilizada pelos meios de comunicação no mundo inteiro para cobrir conflitos geopolíticos: os principais veículos de comunicação da Inglaterra e dos EUA.

Por exemplo, veículos de comunicação como o New York Times e a BBC possuem até 100 correspondentes internacionais, além de outros funcionários no exterior. Como o correspondente no Oriente Médio, Luyendijk, destaca:

“Equipes de notícias holandesas, comigo incluso, se informavam através da seleção de notícias feitas por veículos de comunicação de qualidade como a CNN, a BBC e o New York Times. Fazíamos isso com base na suposição de que seus correspondentes entendiam o mundo árabe e possuíam uma perspectiva sobre ele. Contudo, muitos deles sequer falavam árabe, ou pelo menos não o suficiente para ter uma conversa ou para acompanhar os meios de comunicação locais. O pessoal mais importante da CNN, da BBC, do Independent, do The Guardian, do New Yorker e do NYT dependia, na maioria das vezes, de assistentes e tradutores.”

Para completar, as fontes desses veículos de comunicação geralmente não são fáceis de verificar (“círculos militares”, “funcionários anônimos do governo”, “funcionários da inteligência” etc.) e podem, portanto, também ser utilizadas para a disseminação de propaganda. Em todo caso, a orientação generalizada com base nas principais publicações norte-americanas e inglesas também leva a uma maior convergência na cobertura geopolítica dos nossos meios de comunicação.

A imagem a seguir ilustra alguns exemplos de referências na cobertura sobre a Síria pelo maior jornal diário da Suíça, Tages-Anzeiger. As matéria são todas dos primeiros dias de outubro de 2015, quando a Rússia, pela primeira vez, interveio diretamente na guerra na Síria (as fontes dos EUA/Reino Unido foram destacadas):


Referência frequente às mídias britânica e norte-americana, exemplificada pela cobertura da guerra na Síria dp jornal suíço diário Tages-Anzeiger em outubro de 2015.

A narrativa desejada

Mas por que os jornalistas dos nossos meios de comunicação não tentam simplesmente investigar e informar de maneira independente das agências globais e da mídia anglo-saxônica? O correspondente do Oriente Médio, Luyendijk, descreve suas experiências:

“Você pode sugerir que eu deveria ter procurado por fontes nas quais pudesse confiar. Eu realmente tentei, mas sempre que eu queria escrever uma matéria sem utilizar as agências de notícias ou a principal mídia anglo-saxônica, não funcionava. Obviamente, como correspondente, eu poderia contar histórias muito diferentes sobre uma mesma situação. Mas a mídia só poderia apresentar uma delas e, com bastante frequência, era exatamente a história que confirmava a perspectiva predominante.”

O pesquisador Noam Chomsky descreveu esse efeito, em seu ensaio “O que faz a mídia mainstream ser mainstream” (1997), do seguinte modo:

“Se você abandonar a linha oficial, se você produzir relatos divergentes, logo sentirá isso… Há muitas maneiras de fazer você voltar à linha rapidamente. Se você não seguir as diretrizes, não manterá seu trabalho por muito tempo. Esse sistema funciona muito bem e reflete as estruturas de poder estabelecidas.”

Todavia, alguns jornalistas prestigiados continuam acreditando que ninguém pode os dizer o que escrever. Como isso faz sentido? Chomsky (1997) esclarece essa aparente contradição:

“O ponto é que eles não estariam lá se já não tivessem demonstrado que ninguém precisa dizer a eles o que escrever, pois eles já vão dizer ‘a coisa certa’. Se eles tivessem começado de baixo e tivessem seguido o tipo errado de histórias, nunca teriam chegado às posições em que agora podem ‘dizer o que quiserem’… Eles passaram por um processo de socialização.”

Em última análise, esse “processo de socialização” leva a um jornalismo que não mais investiga e relata criticamente conflitos geopolíticos (e outros temas), mas que procura consolidar a narrativa desejada por meio de editoriais, comentários e entrevistados apropriados.

Conclusão: a primeira lei do jornalismo

O ex-jornalista da AP, Herbert Altschull, chamou esse processo de Primeira Lei do Jornalismo:

“Em todos os sistemas de imprensa, os meios de comunicação são instrumentos daqueles que exercem o poder político e econômico. Jornais, periódicos, emissoras de rádio e televisão não atuam de forma independente, embora tenham a possibilidade de exercer poder independentemente.” (ALTSCHULL, [1984] 1995, p. 298)

Nesse sentido, é lógico que a nossa mídia tradicional – que é predominantemente financiada pela publicidade e chancelada pelo Estado – represente os interesses geopolíticos de uma aliança transatlântica, uma vez que tanto as corporações de publicidade quanto os próprios estados são, eles próprios, dependentes do sistema econômico e de segurança dominado pelos EUA.

Além do fato de que, ao encontro da “socialização” de Chomsky, a nossa mídia tradicional e suas principais figuras são, muitas vezes, elas próprias parte de redes da elite transatlântica. A esse respeito, algumas dessas instituições mais importantes incluem o Conselho de Relações Exteriores dos EUA (CFR), o grupo Bilderberg e a Comissão Trilateral (ver estudo aprofundado sobre essas redes).

De fato, a maioria das publicações popularmente conhecidas, basicamente, pode ser identificada como “mídia tradicional”. Isso porque, no passado, a liberdade de imprensa era bastante teórica, considerando as barreiras de entrada significativas, como licenças de transmissão, faixas de frequência, requisitos de financiamento e infra-estrutura técnica, canais de vendas limitados, dependência de publicidade e assim por diante. Foi apenas com a Internet que a Primeira Lei de Altschull foi quebrada em alguma medida.

Nos últimos anos, um jornalismo financiado por leitores e de alta qualidade emergiu, superando, em muitos casos, a mídia tradicional em termos de cobertura crítica e contextualizada. Algumas dessas publicações “alternativas” já atingem um público considerável, demonstrando que a abrangência de “massa” não precisa ser um problema para a qualidade de um veículo de comunicação.

Contudo, até o momento, a mídia tradicional tem conseguido atrair a sólida maioria de visitantes on-line. Tal fator está intimamente relacionado ao papel oculto das agências, cujas notícias de última hora formam a espinha dorsal da maioria dos portais de notícias.

Se “o poder político e econômico”, segundo a Lei de Altschull, manterá o controle sobre as notícias ou as notícias independentes mudarão a estrutura do poder político e econômico, os próximos anos irão dizer.

Estudo de caso: a cobertura da guerra na Síria

Como parte de um estudo de caso, a cobertura da guerra na Síria por nove dos principais jornais diários da Alemanha, Áustria e Suíça foi analisada em termos de (1) pluralidade de pontos de vista e (2) dependência de agências de notícias. Os seguintes jornais foram selecionados:

- Da Alemanha: Die Welt, Süddeutsche Zeitung (SZ) e Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ)

- Da Suíça: Neue Zürcher Zeitung (NZZ), Tagesanzeiger (TA) e Basler Zeitung (BaZ)

- Da Áustria: Standard, Kurier e Die Presse

O período de análise foi entre primeiro e quinze de outubro de 2015. Isto é, as duas primeiras semanas posteriores à intervenção direta da Rússia nos conflitos sírios. Toda a cobertura impressa e on-line desses jornais foi levada em conta. As edições de domingo não foram consideradas, uma vez que nem todos os jornais analisados as possuíam. Ao todo, 381 matérias dos jornais cumpriram os critérios estabelecidos.

Em uma primeira etapa, as matérias foram classificadas de acordo com suas características nos seguintes grupos:

1. Agências: notícias de agências (com código)

2. Mistas: reportagens simples (com nomes dos autores) baseadas completa ou parcialmente em notícias de agências

3. Editoriais: textos e análises editoriais de contexto

4. Artigos de opinião/comentários: artigos de opinião e comentários de convidados

5. Entrevistas: entrevistas com especialistas, políticos etc.

6. Investigativas: reportagens investigativas, que revelam conexões ou informações inéditas

A Tabela 1 a seguir mostra a composição das matérias dos nove jornais analisados no total. Como é possível observar, 55% das matérias foram notícias de agências; 23% foram reportagens simples baseadas em material de agências; 10% foram de artigos de opinião e comentários; 9% foram de textos e análises editoriais; 2% foram de entrevistas e 0% foi de reportagem investigativa.


Tabela 1: Tipos de matérias (total; n=381).

Os textos diretos de agências – desde pequenas notas até reportagens detalhadas – estavam em sua maioria nos portais dos jornais diários: por um lado, a pressão por notícias nesse ambiente é maior do que na edição impressa, por outro, não há restrições de espaço. A maioria dos outros tipos de matérias foi encontrada tanto nas edições on-line quanto nas impressas, com exceção de algumas entrevistas exclusivas e editoriais encontrados apenas nas edições físicas. Todos os itens foram coletados apenas uma vez para a investigação.

A Tabela 2 a seguir mostra a mesma classificação com base em cada jornal. Durante o período de observação (duas semanas), a maioria dos jornais publicou entre 40 e 50 matérias sobre o conflito sírio (on-line e impressas). O jornal alemão Die Welt foi o que mais publicou sobre a guerra na Síria (58 matérias), enquanto o Basler Zeitung e o austríaco Kurier significativamente menos (respectivamente 29 e 33 matérias).

A depender do jornal, a proporção de notícias de agências mais baixa beira 50% das publicações (Welt, Süddeutsche, NZZ, Basler Zeitung), seguida de 60% (FAZ, Tagesanzeiger) e de 60 a 70% (Presse, Standard, Kurier). Em conjunto com as reportagens baseadas em material de agências (mistas), a proporção de notícias de agências na maioria dos jornais fica entre 70 e 80%. Esses números são consistentes em relação a estudos anteriores sobre mídia, como Blum (1995), Johnston (2011), MacGregor (2013), Paterson (2007).

Em termos de editoriais, os jornais da Suíça lideraram (entre 5 e 6), seguidos pelo Welt, Süddeutsche, Standard (4 cada) e pelo restante dos jornais (entre 1 e 3). Os editoriais e análises concentraram-se especificamente na situação e no contexto do Oriente Médio, assim como nos motivos e nos interesses de alguns atores individuais (como Rússia, Turquia e Estado Islâmico).

Além disso, a maioria dos comentários foi encontrada nos jornais alemães (7 cada), seguidos pelo Standard (5), NZZ e Tagesanzeiger (4 cada). O Basler Zeitung não publicou nenhum comentário durante o período de análise, porém publicou duas entrevistas. Outras entrevistas foram realizadas pelo Standard (3), Kurier e Die Presse (uma cada). Reportagens investigativas, no entanto, não foram encontradas em nenhum dos jornais.

Particularmente, no caso dos três jornais alemães, foi identificada uma junção jornalística peculiar entre textos de opinião e notícias. Frequentemente, as notícias apresentavam fortes expressões de opinião, embora não fossem categorizadas como comentário. O presente estudo, de qualquer forma, considerou a categorização realizada pelos jornais.


Tabela 2: Tipos de matérias por jornal.

A Tabela 3 a seguir mostra a distribuição das notícias de agências por país e no total. As 211 notícias continham um total de 277 códigos de agência, já que uma mesma notícia pode ser constituída por material de mais de uma agência. No total, as notícias de agências em cada país vieram: 24% da AFP; da DPA, APA e Reuters cerca de 20% cada; 9% da SDA; 6% da AP e 11% foram desconhecidas (sem rótulo ou com o termo genérico “agências”).

Na Alemanha, a DPA, a AFP e a Reuters possuem, cada uma, cerca de um terço das notícias. Na Suíça, a SDA e a AFP estão na liderança, enquanto a APA e a Reuters lideram na Áustria.

Na verdade, a participação das agências globais AFP, AP e Reuters é, provavelmente, ainda maior, tendo em vista que (1) a suíça SDA e a austríaca APA obtêm suas notícias internacionais principalmente por meio dessas agências globais, e (2) a alemã DPA coopera estreitamente com a AP.

Também tem que ser levado em consideração que, por razões históricas, as agências globais são representadas de maneira diferente em diferentes regiões do mundo. Em eventos na Ásia, Ucrânia ou África, a participação de cada agência será diferente da dos eventos no Oriente Médio.


Tabela 3: Distribuição das notícias de agências por país e no total (n=277)

Na etapa seguinte, declarações substanciais foram utilizadas para avaliar a orientação: de opiniões editoriais (28), de comentários de convidados (10) e de entrevistas com especialistas (7) – totalizando 45 matérias. Como a Tabela 4 a seguir mostra, 82% dessas contribuições eram, no geral, favoráveis aos EUA/OTAN, enquanto 16% eram indistintas ou equilibradas e 2% predominantemente críticas aos EUA/OTAN.

A única contribuição predominantemente crítica em relação aos EUA/OTAN foi um editorial da austríaca Standard, de dois de outubro de 2015, intitulado: A estratégia da mudança de regime falhou. A distinção entre grupos terroristas “bons” e “maus” na Síria torna a política ocidental indigna de confiança.


Tabela 4: Orientação da opinião de editoriais, comentários de convidados e entrevistados (total; n=45).

A Tabela 5 a seguir mostra a orientação por jornal das contribuições editoriais, dos comentários dos convidados e dos entrevistados. Como é possível observar, Welt, Süddeutsche Zeitung, NZZ, Zürcher Tagesanzeiger e Kurier apresentaram apenas opiniões e contribuições favoráveis aos EUA/OTAN. O mesmo ocorreu com o FAZ, com exceção de uma contribuição indistinta/equilibrada. O Standard apresentou quatro opiniões favoráveis aos EUA/OTAN, três indistintas/equilibradas, além da única crítica aos EUA/OTAN mencionada.

O Die Presse foi o único dos jornais analisados que publicou opiniões e contribuições predominantemente indistintas/equilibradas. O Basler Zeitung publicou uma contribuição favorável aos EUA/OTAN e uma equilibrada. Logo após o período de análise, em dezesseis de outubro de 2015, o Basler Zeitung também publicou uma entrevista com o Presidente do Parlamento Russo, o que contaria como outra contribuição crítica aos EUA/OTAN.


Tabela 5: Orientação por jornal dos textos de opinião, comentários de convidados e entrevistados.

Em uma análise mais aprofundada, uma pesquisa por palavras-chave como “propaganda” (e combinações derivadas) foi realizada para investigar em quais casos os próprios jornais identificaram propaganda em um dos lados do conflito geopolítico, EUA/OTAN e Rússia – o “EI/ISIS” não foi incluído. No total, foram identificados vinte casos desse tipo. A Tabela 6 mostra os resultados: 85% dos casos os jornais identificaram propaganda no lado russo do conflito; em 15% a identificação foi indistinta ou não declarada e em 0% dos casos os jornais identificaram propaganda no lado EUA/OTAN do conflito.

É importante notar que cerca de metade dos casos (9) eram do suíço NZZ, que falava sobre propaganda russa com bastante frequência (“propaganda do Kremlin”, “máquina de propaganda de Moscou”, “notícias propagandísticas”, “aparato de propaganda russa” etc.), seguido do alemão FAZ (3), Welt e Süddeutsche Zeitung (2 cada) e do jornal austríaco Kurier (1). Os outros jornais ou não mencionaram propaganda, ou apenas o fizeram em contextos indistintos (com exceção do contexto EI).


Tabela 6: Identificação/atribuição de propaganda pelos jornais às partes do conflito (total; n=20).

Conclusão

Neste estudo de caso, a cobertura geopolítica em nove dos principais jornais diários da Alemanha, Áustria e Suíça foi examinada em busca de diversidade e desempenho jornalísticos por meio do exemplo da guerra na Síria.

Os resultados confirmam a alta dependência da cobertura geopolítica para com agências de notícias globais (de 63 a 90%, excluindo comentários e entrevistas), assim como a ausência de pesquisa investigativa própria. Não obstante, os resultados também revelam o comentário unilateral dos eventos em favor da parte EUA/OTAN (82% positivos; 2% críticos), cujas histórias e informações não são verificadas pelos jornais a respeito de qualquer tipo de propaganda.

Tradução de Vinícius Moraes para a Revista Opera

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https://revistaopera.com.br/2019/04/23/a-propagacao-hegemonica-como-as-agencias-globais-e-a-midia-ocidental-cobrem-a-geopolitica-parte-1/


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