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Como os Talibã rebentaram com a bonanza de heroína da CIA no Afeganistão

por William Van Wagenen (PT) | The Cradle

ODiario.info - 3 de agosto, 2023

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Getty Images

No rescaldo da caótica retirada dos EUA e do Reino Unido do Afeganistão, em Agosto de 2021, o jornalista paquistanês Hamid Mir alertou, no Washington Post, para os perigos de “ignorar uma consequência importante da tomada do poder pelos Taliban: o boom do comércio de narcóticos no Afeganistão”.

Mir previu audaciosamente então que, “nos próximos anos, uma inundação de droga proveniente do Afeganistão pode tornar-se uma ameaça maior do que o terrorismo”.

Esta projeção de um boom do comércio internacional de droga parecia plausível, tendo em conta as acusações de longa data de que os Talibã financiavam a sua insurreição de duas décadas contra as forças de ocupação através do controlo da produção de ópio. De facto, pensava-se que 95% da heroína consumida na Grã-Bretanha provinha de ópio afegão.

Por isso, é surpreendente que um relatório de Junho de 2023 publicado pela Alcis, uma empresa britânica de serviços de informação geográfica, tenha revelado que o governo talibã tinha praticamente eliminado o cultivo de ópio no país, acabando com o ingrediente básico necessário para produzir heroína. Este resultado reflecte acção semelhante levada a cabo pelos talibã em 2000 quando estavam no poder pela primeira vez.

Ironicamente, em vez de elogiar os novos líderes de Cabul por terem acabado com a fonte de drogas ilícitas, a comunidade internacional reagiu a este desenvolvimento com críticas. Até o Instituto Americano para a Paz (USIP), financiado pelo governo dos EUA, argumentou que “a bem sucedida proibição do ópio pelos Talibãs é má para os afegãos e para o mundo”.

Este descontentamento ocidental em relação aos esforços dos Taliban para desmantelar o comércio global de heroína pode parecer desconcertante à primeira vista.

No entanto, uma análise mais atenta dos acontecimentos no Afeganistão revela uma perspectiva diferente. Sob o pretexto da “Guerra contra o Terror”, a invasão dos EUA e do Reino Unido em 2001 foi motivada, em parte, pelo desejo de restabelecer o comércio de heroína, que os Talibã tinham abruptamente interrompido apenas um ano antes.

As potências ocidentais procuraram restabelecer o lucrativo fluxo de milhares de milhões de dólares que o comércio de heroína proporcionava aos seus sistemas financeiros. De facto, “durante 20 anos, a América geriu essencialmente um narco-Estado no Afeganistão”.

‘Dólar por dólar’

Para compreender as origens do comércio de heroína no Afeganistão, é necessário rever o envolvimento dos EUA no país da Ásia Central, que começou em 1979, quando a CIA iniciou um programa secreto para minar o governo afegão pró-soviético em Cabul.

Os EUA apoiaram secretamente um grupo de guerrilheiros muçulmanos conhecidos como mujahideen, na esperança de que a provocação de uma insurreição levasse o exército soviético a intervir. Esta manobra calculada obrigaria os soviéticos a ocupar o Afeganistão e a envolver-se numa prolongada e dispendiosa campanha de contra-insurgência, desse modo enfraquecendo a União Soviética ao longo do tempo.

Para o conseguir, a CIA pediu ajuda aos seus aliados mais próximos, a Arábia Saudita e o Paquistão. O príncipe saudita Bandar bin Sultan facilitou um encontro entre o director da CIA, William Casey, e o rei saudita Fahd, no qual os sauditas se comprometeram a igualar “dólar por dólar o apoio norte-americano aos mujahedines”.

Os EUA e a Arábia Saudita, com a ajuda dos Inter-Serviços Secretos do Paquistão (ISI), criaram campos de treino para os mujahedin no Paquistão e forneceram-lhes conselheiros, armas e dinheiro para combaterem os soviéticos.
Gulbaddin Hekmatyar, o fundador da milícia Hizb-i-Islami, estava entre os mais proeminentes líderes mujahideen, tendo recebido cerca de 600 milhões de dólares em ajuda da CIA e dos seus aliados.

O jornalista Steve Coll escreve no seu livro Ghost Wars, vencedor do Prémio Pulitzer, que Hekymatyar recrutou para combater com ele de entre as redes islamistas mais radicais, anti-ocidentais e transnacionais, incluindo Osama bin Laden e outros voluntários árabes. Os agentes da CIA “abraçaram Hekmatyar como o seu aliado mais fiável e eficaz” e “o mais eficiente a matar soviéticos”.

Caravanas de ópio

A ajuda a Hekymatyar e a outros líderes mujahideen não se limitava a dinheiro e armas. Segundo o famoso historiador Alfred McCoy:
“Em 1979 e 1980, quando o esforço da CIA estava a começar a incrementar, abriu-se uma rede de laboratórios de heroína ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Essa região tornou-se rapidamente o maior produtor mundial de heroína”.

O processo envolvia o contrabando de goma de ópio em bruto para o Paquistão, onde era transformada em heroína em laboratórios geridos pelo ISI. O produto acabado era depois discretamente transportado através de aeroportos, portos ou rotas terrestres paquistanesas.

Em 1984, a heroína afegã abastecia uns impressionantes 60% do mercado norte-americano e 80% do mercado europeu, ao mesmo tempo que criava de forma devastadora 1,3 milhões de toxicodependentes de heroína no Paquistão, um país até então intocado por esta droga altamente viciante.

McCoy afirma ainda que “as caravanas que transportavam armas da CIA para aquela região destinadas à resistência regressavam frequentemente ao Paquistão carregadas de ópio”. Relatórios de 2001 citados pelo New York Times confirmaram que isso ocorria “com o consentimento de oficiais da inteligência paquistanesa ou norte-americana que apoiavam a resistência”.

Em Maio de 1990, o Washington Post informava que o governo dos EUA tinha durante vários anos recebido, mas recusara-se a investigar, relatos de tráfico de heroína pelos seus aliados, incluindo “relatos em primeira mão de contrabando de heroína por comandantes ao serviço de Gulbuddin Hekmatyar”.

Ascensão dos Talibã

Quando os soviéticos finalmente se retiraram em 1989, o país entrou em guerra civil, uma vez que as principais facções apoiadas pela CIA começaram a lutar entre si pelo controlo do país. Os líderes Mujahideen tornaram-se senhores da guerra e cometeram terríveis atrocidades contra a população local enquanto lutavam entre si.

Foi durante esta anarquia que os estudantes religiosos das madrassas (escolas de seminário), os Talibã, emergiram com a ajuda dos serviços secretos paquistaneses para assumir o controlo do país em 1996, herdando subsequentemente o comércio do ópio, que continuou sem entraves durante vários anos.

No entanto, em Julho de 2000, o líder dos Taliban, Mullah Omar, ordenou a proibição de todo o cultivo de ópio. De forma notável, os Taliban conseguiram reduzir a colheita de ópio em 94%, reduzindo a produção anual para apenas 185 toneladas métricas.

Cinco meses mais tarde, em Dezembro de 2000, os EUA e a Rússia recorreram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para impor novas e duras sanções ao Afeganistão, invocando a recusa dos Talibã em entregar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, na sequência do bombardeamento do USS Cole no Iémen, no qual morreram 17 marinheiros norte-americanos. Bin Laden refugiou-se no Emirado Islâmico em 1996, depois de ter sido expulso do Sudão.

O New York Times referiu que responsáveis norte-americanos tentaram impor as novas sanções, apesar dos avisos da ONU de que “um milhão de afegãos poderiam passar fome nos próximos meses devido à seca e à continuação da guerra civil”.

Na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001, os funcionários da administração Bush exigiram que os Taliban entregassem de novo Bin Laden. O Mullah Omar insistiu que os EUA apresentassem primeiro provas da culpa de Bin Laden, mas o Presidente Bush recusou este pedido e ordenou que a força aérea norte-americana começasse a bombardear o Afeganistão em 7 de Outubro.

Na sequência dos bombardeamentos, o Mullah Omar abdicou de exigir provas e ofereceu-se para entregar Bin Laden ao Paquistão, aliado dos EUA, para ser julgado. Os funcionários da administração Bush recusaram mais uma vez.

O jornalista e autor Scott Horton destaca no seu livro Fool’s Errand um aspecto peculiar da campanha dos EUA: a ausência de uma concentração clara na captura ou eliminação de Bin Laden. De facto, o Presidente Bush já em 25 de Setembro tinha declarado que o êxito ou o fracasso não deviam ser definidos apenas pela captura de Bin Laden.

Horton observa ainda que os planeadores norte-americanos não fizeram qualquer esforço inicial para perseguir Bin Laden e os combatentes árabes estrangeiros que o apoiavam. Em vez disso, o chefe do Comando Central dos EUA, General Tommy Franks, deu prioridade à parceria com o senhor da guerra afegão Rashid Dostum para assumir o controlo do norte do país e estabelecer uma “ligação terrestre” ao Uzbequistão.

Virar-se para os senhores da guerra

Para capturar também a capital, Cabul, e outras cidades-chave no sul, Alfred McCoy observa que a CIA:
“Recorreu a um grupo em ascensão de senhores da guerra Pashtun situados ao longo da fronteira com o Paquistão, que tinham estado activos como traficantes de droga na parte sudeste do país. Como resultado, quando os Taliban caíram, já tinham sido lançadas as bases para o recomeço do cultivo de ópio e do comércio de droga em grande escala”.

Embora as forças norte-americanas tenham chegado demasiado tarde para impedir a fuga de Bin Laden para o Paquistão, a campanha de bombardeamento dos EUA chegou mesmo a tempo do início da época de plantação da papoila. A papoila é plantada no outono para que o sumo da planta, do qual se extrai o ópio, possa ser colhido na primavera.

McCoy esclareceu ainda que “a Agência (CIA) e os seus aliados locais criaram as condições ideais para inverter a proibição do ópio pelos Talibã e reactivar o tráfico de droga. Poucas semanas após o colapso dos Talibã, funcionários relatavam um surto de plantação de papoila nas regiões de Helmand e Nangarhar, zonas centrais da produção de heroína”.

Em Dezembro, um destes senhores da guerra Pashtun em ascensão, Hamid Karzai, foi nomeado Presidente da Administração Interina Afegã e, mais tarde, Presidente.

Na primavera de 2002, grandes quantidades de heroína afegã estavam de novo a ser transportadas para a Grã-Bretanha através de voos diários a partir de aeroportos paquistaneses. O The Guardian relatou o caso de uma rapariga de 13 anos que foi detida quando saía de um voo da Pakistan International Airlines de Islamabad para Londres, transportando 13 kg de heroína com um valor de mercado de £910.000.

Escala industrial

Graças à “ligação terrestre” estabelecida pelo general Franks, a heroína também começou imediatamente a fluir para norte de Mazar-e-Sharif, sob o controlo do aliado da CIA Rashid Dostum, para o Uzbequistão e depois para a Rússia e a Europa.

O fluxo de heroína foi testemunhado por Craig Murray, o embaixador britânico no Uzbequistão, que explicou que Dostum, de etnia uzbeque, facilitava o contrabando de heroína do Afeganistão para o Uzbequistão, onde era depois transportada pela linha férrea, em fardos de algodão, para Moscovo e depois para Riga. Como Murray observou:
“O ópio é convertido em heroína à escala industrial, não em cozinhas mas em fábricas. Milhões de litros dos químicos necessários para este processo são enviados para o Afeganistão por camiões-cisterna… Os quatro maiores intervenientes no negócio da heroína são todos membros superiores do governo afegão - o governo por cuja protecção lutam e morrem os nossos soldados.”

‘Uma abordagem sem tocar’

Para além de Dostum, o irmão mais novo do presidente afegão Hamid Karzai, Ahmed Wali Karzai, rapidamente assegurou um papel proeminente no comércio de heroína afegão.

Surgiram relatos credíveis de que Wali Karzai estava profundamente envolvido no comércio de heroína, mas, segundo o New York Times, os incidentes nunca foram investigados, “apesar de terem circulado amplamente no Afeganistão alegações de que ele tem beneficiado do tráfico de estupefacientes “.

Altos funcionários da Agência de Combate à Droga dos EUA (DEA) e do gabinete do Director dos Serviços Secretos Nacionais (DNI) queixaram-se de que a Casa Branca de Bush “preferiu uma abordagem não interventiva em relação a Ahmed Wali Karzai devido à delicadeza política da questão”.

O Times noticiou mais tarde que, de acordo com um antigo funcionário de topo do Ministério do Interior afegão, uma das principais fontes de influência de Wali Karzai era o seu controlo sobre as principais pontes que atravessam o rio Helmand, na rota entre as regiões produtoras de ópio da província de Helmand e Kandahar. Isto permitia a Karzai cobrar enormes taxas aos traficantes de droga para que os seus camiões carregados de droga pudessem atravessar as pontes.

Tal como Dostum e Hekmaytar, Wali Karzai construiu o seu império de heroína enquanto ao serviço da CIA. A agência começou a pagar a Karzai em 2001 para recrutar uma força paramilitar afegã que operava sob a direção da agência em Kandahar e arredores e para alugar um grande complexo para ser utilizado como base da Força de Ataque de Kandahar. A CIA também apreciou a ajuda de Karzai na comunicação e, por vezes, nos encontros com afegãos leais aos talibã.

Karzai foi também presidente do conselho provincial eleito de Kandahar. De acordo com um oficial superior dos EUA em Cabul, citado pelo Times, “centenas de milhões de dólares em dinheiro da droga circulam pela região sul e nada acontece no sul do Afeganistão sem que a liderança regional tenha conhecimento”.

O passa culpas

No final de 2004, à medida que surgiam notícias sobre o envolvimento de Karzai no tráfico de heroína, Alfred McCoy escreve que “a Casa Branca foi subitamente confrontada com informações preocupantes da CIA que sugeriam que a escalada do tráfico de droga estava a alimentar um ressurgimento dos Talibã”.

O embaixador dos EUA no Afeganistão, Zalmay Khalilzad, e o então ministro das finanças afegão, Ashraf Ghani, resistiram a uma proposta do Secretário de Estado Colin Powell para combater o comércio de heroína. Como solução de compromisso, a administração Bush recorreu a empreiteiros privados para a erradicação da papoila, um esforço que a jornalista do New York Times Carlotta Gall descreveu mais tarde como “uma espécie de anedota”.

Para além disso, referências de um telegrama de 2005 enviado pela embaixada dos EUA em Cabul à sucessora de Powell, a Secretária de Estado Condoleezza Rice, consideravam a Grã-Bretanha como sendo “substancialmente responsável” pelo fracasso da erradicação do cultivo da papoila. O pessoal britânico escolhia os locais onde as equipas de erradicação trabalhavam, mas essas áreas não eram frequentemente as principais zonas de cultivo e “os britânicos não estavam dispostos a rever objectivos”.

O telegrama também criticava o Presidente Karzai, que “não tem estado disposto a assumir uma liderança forte”. No entanto, o Departamento de Estado defendia-o, afirmando que “o Presidente Karzai é um parceiro forte e temos confiança nele”, apesar dos relatos do papel fundamental do seu irmão no comércio de heroína.

Mas o problema ia para além de Wali Karzai. Um relatório da ONU para o Banco Mundial, publicado em Fevereiro de 2006, concluía que o tráfico de heroína afegão operava com a ajuda de muitos altos funcionários do governo afegão e sob a proteção do Ministério do Interior afegão.

À medida que cresciam as provas do envolvimento da CIA e do governo afegão no comércio de heroína, os meios de comunicação ocidentais passaram a culpar os Taliban por utilizarem lucros da droga para financiar a sua insurgência contra forças estrangeiras.

No entanto, o historiador Peter Dale Scott contestou esta narrativa citando estimativas da ONU segundo as quais a quota-parte dos Taliban na economia afegã do ópio era uma fracção em comparação com a dos apoiantes do governo de Karzai. Scott sublinhava que a maior parte do comércio de droga era controlada pelos apoiantes do governo afegão.

O incremento

No início de 2010, a administração Obama anunciou um “incremento” de 33.000 soldados norte-americanos para ajudar a pacificar o país, com especial incidência em distritos-chave conhecidos pelo cultivo da papoila. Um desses distritos era Marja, na província de Helmand, a que McCoy se referiu como “a capital mundial da heroína”.

Apesar da missão do incremento, os comandantes norte-americanos pareciam não ter consciência da importância de Marja como centro de produção de heroína, alimentada pelos campos de ópio circundantes que representavam 40% do fornecimento ilícito de ópio a nível mundial.

Em Setembro de 2010, oito meses após o início do incremento, surgiram relatos “sem fundamento” de que soldados britânicos estavam envolvidos no tráfico de heroína para fora do Afeganistão utilizando aviões militares nos aeroportos em Camp Bastion e Kandahar.

Camp Bastion, operado conjuntamente pelo Reino Unido e pelos EUA, situava-se perto de Lashkar Gah, outro grande centro de cultivo da papoila. Em 2012, foi alegado que cultivo de papoila estava a ter lugar no exterior junto ao perímetro da base, com soldados britânicos a protegerem os agricultores contra as forças de segurança afegãs.

No final de 2014, as forças britânicas e norte-americanas retiraram-se de Campo Bastion, entregando-o às forças afegãs, que o rebaptizaram Campo Shorabak. No entanto, de acordo com um relatório da ONU, “a área de cultivo de ópio em torno da principal base britânica no Afeganistão quase quadruplicou entre 2011 e 2013".

Apesar da retirada, as exportações de ópio do Campo Shorabak aparentemente continuaram, e um pequeno número de militares britânicos regressou em 2015, no que foi descrito pelo Ministério da Defesa como um papel consultivo.
Em 2016, Obaidullah Barakzai, membro da Assembleia Nacional do Afeganistão, afirmou: “É impossível que alguns contrabandistas de droga locais transfiram ópio aos milhares de quilos. Isso é trabalho dos norte-americanos e britânicos. Eles transportam-no por via aérea a partir do Campo Shorabak”.

Depois de as forças norte-americanas se terem caoticamente retirado do Afeganistão em Agosto de 2021, os talibã conseguiram mais uma vez eliminar o cultivo da papoila, mostrando que, afinal, estavam longe de ser um ” dedicado cartel de droga “.

Seguir o dinheiro

Em Novembro de 2021, um comerciante de ópio afirmou que “todos os lucros vão para os países estrangeiros. Os afegãos estão apenas a fornecer a mão de obra”.

Peter Dale Scott observou que, de acordo com a ONU, cerca de 352 mil milhões de dólares em lucros da droga foram absorvidos pelo sistema financeiro ocidental, incluindo através dos maiores bancos dos EUA em 2009. Como resultado, disse Scott que “o envolvimento dos Estados Unidos no tráfico internacional de drogas liga a CIA, grandes interesses financeiros e interesses criminosos neste país e no estrangeiro”.

Em 2012, o Daily Mail noticiou que o HSBC, o maior banco britânico, enfrentava com até 640 milhões de libras em multas por permitir que “Estados desonestos e cartéis de droga lavassem milhares de milhões de libras através das suas sucursais” e por se ter tornado “um canal para empreendimentos criminosos”.

Os milhares de milhões de lucros provenientes do tráfico de heroína afegã para os bancos ocidentais foram agora eliminados pelos talibã não uma mas duas vezes nas últimas duas décadas.

A declaração do líder talibã Mullah Omar, em Julho de 2000, de que o cultivo de papoila era “anti-islâmico” foi, portanto, uma mais provável causa das sanções impostas pelos EUA em Dezembro do mesmo ano e da invasão americana do Afeganistão um ano mais tarde, do que qualquer desejo dos EUA de prender Bin Laden e desmantelar a Al-Qaeda.

Em Março de 2002, apenas seis meses após o bombardeamento e a invasão do Afeganistão, um jornalista perguntou ao Presidente Bush: “Onde está Osama bin Laden?” Bush respondeu: “Não sei. Não penso realmente muito nele. Não estou assim tão preocupado”.

O tráfico de droga do Afeganistão recorda-nos claramente as intrincadas ligações entre geopolítica, economias ilícitas e finanças globais e a necessidade de maior transparência e responsabilidade na abordagem destas complexas questões.

A evidência histórica põe também em causa a narrativa simplista segundo a qual os Talibã controlavam em grande medida o comércio de droga no Afeganistão, salientando o papel dominante desempenhado pelo governo afegão apoiado pelos EUA e pelos seus aliados na CIA.

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