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O Problema da Wikipédia

por Paul Craig Roberts | paulcraigroberts.org

ODiario.info - 16 de dezembro, 2019

https://www.odiario.info/o-problema-da-wikipedia/


No decurso da minha vida vi murchar e morrer a integridade em todo o mundo ocidental. Não é que alguma vez tivesse sido realmente abundante, mas havia uma boa quantidade disso e tinha autoridade. As pessoas, especialmente na vida pública, não eram desavergonhadas como hoje são.

Na década passada assisti ao desaparecimento da liberdade de expressão. Os meios de comunicação independentes desapareceram no último ano do regime Clinton, quando 6 mega-corporações foram autorizadas a concentrar 90% dos media nas suas mãos. Hoje, a liberdade de expressão protegida na Constituição dos EUA não é tão valorizada como os “sentimentos” dos auto-designados “grupos de vítimas” que são ofendidos por tudo, desde declarações verdadeiras até formas tradicionais de expressão. Até a discussão científica da base genética da inteligência causa “ofensa”, tal como o uso de pronomes específicos de género, como ele e ela.

Obviamente, falsas declarações podem ser auto-declaradas tão verdadeiras como quando um homem biológico se declara feminino e compete em desportos femininos. Aqueles que objectam perante a óbvia charada são declarados “transfóbicos” e têm de pedir desculpa. Por vezes são demitidos por insistirem em factos biológicos.

Exercer a liberdade de imprensa, como Julian Assange fez, traz hoje acusações de espionagem e é deturpado como uma ameaça para a segurança nacional. Os media falam com a mesma voz, e é a voz que serve as elites dominantes. A verdade não se encontra em cena em lugar algum. O único objectivo dos media hoje é controlar as explicações para as elites. Em todo o mundo ocidental os media são apenas um Ministério de Propaganda. Os jovens, nunca tendo experimentado uma imprensa livre ou liberdade de expressão, não sabem o que elas são.

Os EUA de hoje são um país que os meus pais e os meus avós não reconheceriam. Se ressuscitassem, pensariam que estavam a habitar no 1984 de George Orwell. E estariam.

Eu e outros da minha geração, que agora está se está a ir embora, não podemos acomodar-nos ao The Matrix que as elites e suas prostitutas mediáticas criaram para os povos do mundo ocidental. Consequentemente, somos marginalizados, apesar das nossas realizações e grandes honrarias, e se persistirmos seremos difamados e caluniados.

Por exemplo, a Wikipedia descreveu-me em vários momentos como “um teórico da conspiração”, um “anti-semita” e “um negacionista do holocausto”. Esses rótulos foram usados apesar dos factos de que nunca escrevi uma "teoria da conspiração", tenho muitos amigos e apoiantes financeiros judeus e tive convidados israelitas em minha casa, e nunca estudei o holocausto nem escrevi sobre ele.

Fui descrito dessa maneira pela Wikipedia, apesar da ausência de fundamentos, porque a Wikipedia faz parte do mecanismo para desacreditar aqueles que contestam explicações oficiais. Se isso é intencional ou resulta da oportunidade para caluniar e difamar que uma fonte aberta oferece aos opositores de cada um, não posso dizer.

Os sionistas não gostam de mim, porque às vezes republico no meu site artigos de judeus não sionistas e cidadãos israelitas que são críticos de Israel. Ainda é possível criticar a política dos EUA sem ser rotulado como “antiamericano”, mas se se critica a política de Israel ou republica alguém que o faz, significa que se odeia judeus. Isso é para mim realmente cómico. O principal adjunto que escolhi no Tesouro era judeu. O meu professor da Universidade de Oxford, Michael Polanyi, a quem o meu primeiro livro é dedicado, era judeu. O vencedor do prémio Nobel, Milton Friedman, judeu, apoiou a minha carreira académica. O meu co-autor académico favorito era David Meiselman, judeu. Ron Unz, um judeu, republica os meus artigos, tal como Rob Kall, um judeu. Os judeus contribuem no apoio do meu site. Mas de acordo com a Wikipedia eu odeio judeus.

Há muitos judeus que respeitam a verdade e que lutam por ela. Não estão no governo de Israel, mas existem. Os sionistas chamam-lhes “judeus que se odeiam a si mesmos”. Por outras palavras, mesmo os judeus que criticam as políticas israelitas são etiquetados de anti-semitas. São acusados de criticar Israel por se odiarem a si próprios. A questão que se coloca a muitos é porque é que só Israel, entre todos os países do mundo, está tão determinado a impedir qualquer crítica a si próprio. Porquê apenas Israel?

Até recentemente - e quem sabe, talvez novamente amanhã - a Wikipedia chamava-me “negacionista do holocausto”. A “evidência” era uma resenha que escrevi de dois livros de David Irving, nenhum dos quais era sobre o holocausto, mas num dos os livros Irving referia as suas descobertas de que houve massacres e deportações de judeus. Concluiu que havia um tipo de holocausto, mas que não havia conseguido encontrar qualquer evidência de que tivesse havido o extermínio organizado retratado na história oficial do holocausto. Citei as conclusões de Irving e a Wikipedia deturpou a minha citação das descobertas de Irving como pontos de vista meus.

Seguiu-se uma luta entre os trolls do Lobby de Israel e da CIA que habitam a Wikipedia e vários de meus leitores que me informaram que tinham corrigido a falsa atribuição, apenas para me contactarem 24 horas depois com a notícia de que os trolls haviam restabelecido a deturpação. No momento, a passagem é mais ou menos correcta:

Resenha dos livros de David Irving, Hitler’s War e Churchill’s War
Em 2019, Roberts escreveu numa resenha dos livros de David Irving, Hitler’s War e Churchill’s War que “Irving, sem dúvida o melhor historiador da parte europeia da Segunda Guerra Mundial, aprendeu à sua custa que desafiar mitos não fica impune… Não vou referir a história de como isso aconteceu mas, sim, adivinhou, foram os sionistas ”. [37] Roberts referiu sem a aprovar a conclusão de Irving de que “nenhum plano germânico ou ordem de Hitler, Himmler ou qualquer outra pessoa foi encontrada para um holocausto organizado por meio de gás e cremação de judeus … Os” campos da morte “eram de facto campos de trabalho. Auschwitz, por exemplo, hoje um museu do Holocausto, era o local da fábrica da essencial borracha artificial da Alemanha. A Alemanha estava desesperada por força de trabalho.”

A pergunta que permanece na minha mente é porquê, de todas as muitas resenhas de livros que escrevi, algumas linhas da minha referência às descobertas de Irving foram destacadas para inclusão na minha biografia? O objectivo era esconder a visão de um historiador que passou 40 anos estudando o assunto, como visão minha, alguém que não gastou 5 minutos a estudar o holocausto?

Advogados pensaram que eu poderia empreender um processo de difamação contra a Wikipedia e ofereceram-se para analisar a questão. Eu estava mais interessado na invasão da minha privacidade por parte da Wikipedia. Não dei autorização para ser incluído no seu corpus de trabalho que, de alguma forma, eles deverão comercializar. A questão da difamação acerca do holocausto incomodou-me, porque implicou a minha aceitação da ideia de que negar ou contestar algum aspecto do holocausto era de má reputação e reflectia o carácter de uma pessoa. Mas se aqueles que contestam a história oficial do holocausto estão correctos, o que é de má reputação em ser um “negacionista do holocausto?” Como não estudei o holocausto ou as obras daqueles que o fizeram, pensei que um processo por difamação me comprometeria a uma posição que não tinha examinado. A questão é ainda mais complicada pelas questões de liberdade de expressão e de pensamento.

Olhando para a referência sobre mim da Wikipedia registei outro estranho ênfase. Por exemplo, a Wikipedia considera que constituem importantes informações biográficas que Darrell Delamaide no USA Today, Luke Brinker, do Salon, e Michael C. Moynihan, do The Daily Beast, tenham descrito “Roberts como um teórico da conspiração” e “como participante do culto de Putin”. Recusando-se a responder em espécie às provocações de Washington, Putin reduziu o risco de guerra nuclear. Porquê reconhecer esse facto é “adoração a Putin?” É esta acusação algo mais do que retratar de pessoas que não ajudam Washington a demonizar a Rússia como “agentes russos?”

Nunca ouvi falar de Delalmaide, Brinker ou Moynihan. Alguém ouviu? Quais são suas realizações além de servirem como chamadores de nomes ao serviço de explicações controladas? Esse tipo de reprodução copia a forma como as visões do holocausto foram fabricadas a meu respeito, deturpando a minha resenha sobre as conclusões de historiadores sobre o assassínio de JFK como palavras baseadas em investigações minhas.

Para provar a minha incorrecção política e falta de simpatia pela igualdade de género, a Wikipedia enfatiza que me “opus à integração de género a bordo dos navios da Marinha dos EUA”, assim como a Marinha dos EUA fez. Sou também culpado de não acreditar na “existência de privilégio masculino branco”. Aparentemente, quem quer que tenha escrito isso estava tão empenhado em apresentar-me como politicamente incorrecto que não lhe ocorreu porquê, se os homens brancos são privilegiados eles, ao contrário de todos os outros, não são protegidos por quotas e protecções contra discursos de ódio e crimes de ódio. Foi o engenheiro sénior branco do Google que foi despedido por dizer que homens e mulheres são bons em coisas diferentes. Grande privilégio têm os homens brancos quando homens brancos não podem expressar sua opinião e nem mesmo constatar um facto correcto.

Existem outras passagens igualmente estúpidas na referência sobre mim na Wikipedia. Mas não faz sentido mudá-las. O problema com um material de fonte aberta como a Wikipedia, em oposição a uma fonte profissional revisada entre pares, é que qualquer pessoa pode alterar qualquer referência para servir qualquer outro propósito que não seja rigor e verdade. A Wikipedia, por ser de fonte aberta, permite a falsificação. Concluí que é melhor descartar a Wikipedia como uma fonte não confiável. Caso contrário é uma batalha sem fim pois há mais trolls do que quem diga a verdade. Num mundo desprovido de integridade, uma enciclopédia de fonte aberta é incapaz de fornecer informação confiável.

Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

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