Mas ninguém, na mídia-empresa norte-americana pró-guerra fala da crise quatrilhonária de derivativos que engolirá a economia global, se o Irã for atacada (tratei disso aqui). Fechar o Estreito de Ormuz porá abaixo o mercado de 2,5 quatrilhões de derivativos, que praticamente varrerá as economias de todas as nações ocidentais.
Ninguém fala do arsenal massivo que o Irã montou, de mísseis antinavios, de mísseis balísticos e de mísseis cruzadores, alguns em posições visíveis para satélites e drones dos EUA, distribuídos ao longo do litoral norte do Golfo Persa. Entre eles, os russos SS-NX-26 Yakhont, que voam à velocidade Mach 2,9. Os mísseis antinavios iranianos – como também os russos e chineses – podem pôr abaixo toda a Força Tarefa de Porta-avião dos EUA, antes mesmo de os aviões chegarem à distância para atirar.
Ninguém diz que os EUA precisariam de pelo menos seis meses para implantar exército capaz de combater no Sudeste da Ásia; o cenário do Pentágono, com possível deslocamento de 120 mil soldados, não basta nem para a saída.
E ninguém comenta que Teerã não cederá, nem sob “pressão máxima”.
Navios-tanque sauditas são “sabotados” – e o Irã é instantaneamente declarado culpado, sem qualquer prova. Burocratas britânicos dizem que a guerra pode eclodir “por acidente”. O cônsul Pompeus Minimus apavora os poodles europeus, para que, de medo, isolem o Irã.
E ninguém fala sobre o alvo real de Pompeo, na visita relâmpago a Bagdá: aplicar táticas de gângster. Não façam negócios com Teerã – ou se preparem para o pior. Comprem “nossa” eletricidade marca MAGA (Make America Great Again), não a iraniana. Destruam as Unidades de Mobilização Popular. Ou o tempo vai fechar.
Leve-me com você ao paraíso dos ataques sob falsa bandeira
O negócio entre a santíssima trindade – neoconservadores dos EUA, sionistas conservadores e Bibi Netanyahu – é que ataque sob falsa bandeira, qualquer ataque sob qualquer falsa bandeira, sempre será atribuído a Teerã e ‘forçaria’ o governo Trump, desse modo, a proteger e defender a “ordem legal”. Melhor que isso, só se um ataque sob falsa bandeira mais elaborado conseguir induzir o Irã a responder – o que gerará motivo para os EUA atacarem o Irã.
Trump acerta pelo menos ao dizer que “precisaremos de muitos soldados mais”, além de 120 mil, para atacar o Irã: mais perto de 1 milhão de soldados norte-americanos. Absolutamente não há onde desembarcá-los. Ninguém lá – Iraque, Afeganistão, Turcomenistão, Azerbaijão, Armênia, Turquia, Paquistão –, para dar boas-vindas aos “libertadores”.
Num cenário extremamente quente, Teerã tem até acesso a mísseis nucleares no mercado negro.
Resumo: a ameaça neocon de guerra contra ao Irã é blefe.
O vice-almirante iraniano Hossein Khanzadi fala de tentativa “teatral” e “inútil” para “amplificar a sombra da guerra”.
O comandante da força aeroespacial do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, general-brigadeiro Amir Ali Hajizade disse, em frase que ganhou fama, “unidade de combate norte-americana com 6.000 militares na nossa vizinhança (Golfo Persa) com 40-50 jatos a bordo, foi ameaça. Hoje, para nós, é alvo.”
Teerã disparou mensagem claríssima a todos seus vizinhos, especialmente à Casa de Saud e aos Emirados: toda a infraestrutura por aí será completamente destruída, se os EUA usarem vocês como plataforma para campanha militar.
Há também a saga em andamento, de drone contra oleoduto. Os houthis no Iêmen atacaram duas estações de bombeamento ao longo do oleoduto leste-oeste dos sauditas – que leva petróleo da província Oriental até o Mar Vermelho. Uma das estações pegou fogo. O oleoduto extremamente estratégico – que permite a Riad contornar o Estreito de Ormuz – tem enorme capacidade, transportando 5 milhões de barris/dia, de cru. A operação teve de ser suspensa.
É irrelevante se esse ataque por drone foi operação do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, se foi independente, ou mesmo que tenha sido ataque sob falsa bandeira: em todos os casos é amostra do que pode acontecer a toda a infraestrutura regional de petróleo e gás, em caso de guerra quente.
Conversar com corretores de petróleo tradicionais no Golfo Persa é sempre iluminador. Confirmaram que “se uma estação de bombeamento é destruída, é preciso esperar dois anos até que nova bomba tenha condições de recomeçar a operar. Os sauditas dizem que têm bombas de reservas. Se todas as bombas forem destruídas na Arábia Saudita, nenhum petróleo fluirá durante dois anos. O alvo prioritário seria Abqaiq. Se essa planta de processamento for destruída, os preços dispararão.”
Abqaiq, com enorme capacidade de 7 milhões de barris/dia, é a planta primária de processamento de petróleo cru extraleve e leve árabe.
Assumindo-se que o ataque de drone não tenha sido ataque sob falsa bandeira, os corretores no Golfo Persa ficaram impressionados com a precisão do ‘tiro’ do drone, naquelas distâncias. Essa precisão significa que Abqaiq também é vulnerável. E há absolutamente nada que o governo Trump possa fazer para impedir que o preço do barril salte para $200, se Abqaiq for derrubada.
E até aí, ninguém está falando dos custos de seguro. Como insistem corretores do Golfo Persa, Vito, Trafigura, Glencore e outros operadores não comprarão dois milhões de barris num navio-tanque, a $70 o barril, se não houver seguro – ou os números alcançarão a estratosfera.
Basicamente, basta um navio-tanque afundado no Golfo Persa com dois milhões de barris de petróleo, para fechar permanentemente o Estreito de Ormuz – e interromper todo o tráfego de navios-tanques (22 milhões de barris/dia) de cru, a menos que os governos entrem para segurar os navios-tanques, mesmo que se saiba que não têm meios para protegê-los.
Trata-se de máxima resistência.
Assim sendo, o que quer o Supremo Líder Aiatolá Khamenei? Aí vai, nas próprias palavras de Sua Eminência: “Não haverá guerra. A nação iraniana escolheu a via da resistência”. (...) “Nós não procuramos guerra. Eles, tampouco.”
O principal é que Teerã não conversará com Washington – depois da ‘armadilha’ do “Me telefone”, de Trump. – Nem assinará qualquer tipo de acordo nuclear modificado ou pós-JCPOA. Khamenei: “[Essas] negociações são veneno.”
Se o presidente Trump algum dia tivesse lido Mackinder – e não há qualquer prova de que tenha lido –, poder-se-ia pressupor que estivesse buscando um novo movimento de pivô contra a integração da Eurásia, centrada no Golfo Persa, pondo a energia no coração do pivô.
Se Washington fosse capaz de controlar tudo, inclusive o Irã, “primeiro-prêmio”, conseguiria dominar todas as economias asiáticas, especialmente a China. Trump chegou a dizer que, se acontecesse, “as decisões sobre o PIB chinês serão [seriam] tomadas em Washington.”
Desnecessário dizer, seria a cereja no bolo geopolítico de desestabilizar para sempre as Novas Rotas da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE), mapa do caminho para a integração da Eurásia, da qual o Irã é nodo crucial.
Corta, para o que disse o presidente Putin, considerando as relações Irã-Rússia: “Tenho dito repetidas vez, em conversas com nossos parceiros iranianos, que, na minha opinião, o mais racional para o Irã é permanecer no Acordo [JCPOA] aconteça o que acontecer. Porque, se o Irã der o primeiro passo de resposta [à saída dos EUA, do JCPOA] e declarar que também se retira do Acordo, amanhã todos já terão esquecido que os EUA iniciaram o desmonte. E toda a culpa será lançada sobre o Irã”.
Pode-se dizer que o desdobramento chave (invisível) dos encontros dessa semana entre os Ministros de Relações Exteriores Sergey Lavrov e Wang Yi, e depois entre Lavrov e Pompeo, é que Moscou deixou bem claro que o Irã contará com a proteção dos russos, no evento de ser confrontado pelos EUA. A linguagem corporal de Pompeo mostrou o quanto esse resultado o abalou.
Haverá muito a conversar, se Putin e Trump realmente se encontrarem no G20 em Osaka mês que vem. Entrementes, pode até acontecer de os mortos morrerem, mesmo sem irem à guerra.
Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Mandinga
http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=26080
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