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A era da injustiça

por Paul Craig Roberts | paulcraigroberts.org

Resistir.info - 13 de abril, 2019

https://www.resistir.info/eua/roberts_assange_11abr19.html

O dia 11 de Abril de 2019 deu-nos uma nova palavra para Judas: Moreno — o presidente fantoche do Equador que vendeu Julian Assange a Washington por suas 30 moedas.

Nesta manhã a prisão de Assange dentro da embaixada equatoriana em Londres foi a primeira etapa na tentativa de Washington de criminalizar a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

O homem de Washington em Quito disse que revogou o asilo político de Assange e a sua cidadania equatoriana devido à sua liberdade de expressão.

Quando polícias de diversa raça e género arrastaram Assange para fora da embaixada nesta manhã, reflecti sobre a absoluta corrupção de três governos – dos EUA, Reino Unido e Equador – e das suas instituições.

A polícia britânica não mostrou vergonha quando carregou Assange desde a sua embaixada-prisão dos últimos sete anos até uma cela britânica como estação intermediária para outra americana. Se a polícia britânica tivesse qualquer integridade, toda a força policial teria ficado doente.

Se o parlamento britânico tivesse qualquer integridade, eles teriam bloqueado a contribuição de Londres para o julgamento espectáculo de Washington agora em preparação.

Se os britânicos tivessem um primeiro-ministro ao invés de uma agente de Washington, Assange teria sido libertado há muito tempo atrás e não mantido num aprisionamento de facto até que Washington aceitasse o preço de Moreno.

Se o embaixador equatoriano em Londres tivesse qualquer integridade, ter-se-ia demitido ao invés de chamar a polícia para levar Assange. Será o embaixador tão desalmado que possa viver tranquilo consigo próprio como o homem que ajudou Moreno a desonrar a reputação do Equador?

Se os jornalistas anglo-americanos tivessem qualquer integridade, eles levantar-se-iam em armas quanto à criminalização da sua profissão.

O presidente Trump sobreviveu a três anos de provação semelhante aos sete anos da provação de Assange. Trump sabe quão corruptas são as agências de inteligência e o Departamento de Justiça (sic) dos EUA. Se Trump tivesse qualquer integridade, ele poria um fim imediato à vergonhosa e embaraçosa perseguição à Assange através da emissão de perdão pré julgamento. Isto também poria fim ao re-aprisionamento ilegal de Manning.

Mas integridade não é algo que prospere em Washington, ou em Londres ou em Quito.

Quando o Departamento de Justiça (sic) não tem um crime com o qual acusar a vítima que pretende, o departamento repete continuamente a palavra “conspiração”. Assange é acusado de estar em conspiração com Manning para obter e publicar dados secretos do governo, tais como o filme, o qual já era conhecido de um repórter do Washington Post o qual fracassou no seu jornal e na sua profissão ao permanecer silencioso quanto a soldados dos EUA cometerem crimes extraordinários sem remorso. Como soldado dos EUA, era realmente dever de Manning relatar os crimes e a falha de tropas estado-unidenses em desobedecerem a ordens ilegais. Supunha-se que Manning relatasse os crimes aos seus superiores, não ao público, mas ele sabia que o militares já haviam encoberto o massacre de jornalistas e civis e não queria um outro evento tipo My Lai nas suas mãos.

Não acredito na acusação contra Assange. Se a WikiLeaks rompeu o código para Manning, a WikiLeaks não precisava de Manning.

O alegado Grande Júri que alegadamente produziu a acusação foi conduzido em segredo ao longo de muitos anos enquanto Washington buscava algo que pudesse ser atribuído a Assange. Se houve realmente um grande júri, os jurados eram destituídos de integridade, mas como podemos saber se houve realmente um grande júri? Por que deveríamos nós acreditar em qualquer coisa que diga Washington depois das “armas de destruição em massa de Saddam Hussein”, da “utilização por Assad de armas químicas contra o seu próprio povo”, da “ogivas iranianas”, da “invasão russa da Ucrânia”, do “Russiagate” e assim por diante ad infinitum ? Por que acreditar que Washington desta vez está a contar a verdade?

Quando o grande júri foi secreto por causa da “segurança nacional”, será que o julgamento também será secreto e as provas secretas? Será que teremos aqui um processo tipo Star Chamber no qual uma pessoa é acusada em segredo e condenada em segredo com provas secretas? Este é o procedimento utilizado por governos tirânicos que não dispõem de argumentos contra a pessoa que eles querem destruir.

Os governos em Washington, Londres e Quito são tão desavergonhados que não se importam em demonstrar a todo o mundo seu desrespeito à lei e a sua falta de integridade.

Talvez o resto do mundo seja ele próprio tão desavergonhado de modo a não haver consequências adversas para Washington, Londres e Quito. Por outro lado, talvez o enquadramento de Assange, a seguir à falcatrua do Russiagate e da desavergonhada tentativa de derrubar a democracia na Venezuela e instalar um agente de Washington como presidente daquele país, venha a tornar claro para todos que o chamado “mundo livre” é conduzido por um governo patife e sem lei. Washington está a acelerar o declínio do seu império pois deixa claro que não é digna de respeito.

Não se pode ter confiança alguma em que seja feita justiça em qualquer julgamento americano. No julgamento de Assange, a justiça não é possível. Com Assange condenado pelos media, mesmo um júri convencido da sua inocência irá condená-lo a fim de não enfrentar denúncias por libertar um “espião russo”.

A condenação de Assange tornará impossível para os media relatarem fugas de informação que sejam desfavoráveis ao governo. À medida que o precedente se expandir, futuros promotores públicos apresentarão o caso de Assange como um precedente para processar críticos do governo que serão acusados de pretensos danos ao mesmo. A era da justiça e do governo responsável está a chegar ao fim.

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Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

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