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O lobby sionista pôs preço na cabeça de Jeremy Corbyn

por Gideon Levy | Haaretz

TLAXCALA - 10 de dezembro, 2019

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=27609

Neste artigo, originalmente publicado no jornal israelense Haaretz, sob o título “O contrato acerca de Corbyn”, o colunista Giedon Levy esclarece que “Corbyn não é antissemita” como é acusado pelo establishment judaico inglês. No artigo, cujos principais trechos traduzimos e publicamos, Levy aponta a real razão por trás da insidiosa campanha do rabino-chefe inglês, Ephraim Mirvis, contra o líder trabalhista inglês às vésperas das eleições de 12 de setembro. O que Corbyn tem de “mau”, afirma Levy, é “ser contra a injustiça na Inglaterra e no mundo, incluindo a versão que Israel perpetra” N. B.


O establishment judaico na Inglaterra e a máquina de propaganda israelense se unificaram para atacar o líder do Partido Trabalhista da Inglaterra (Labour Party), Jeremy Corbyn.

Esta santa aliança foi forjada a muito tempo e fica claro que, à medida em que Corbyn se aproxima das chances de ser eleito primeiro-ministro, mais duro o conflito com ele se torna.

Na terça-feira, tal conflito chegou ao climax em um artigo escrito pelo rabino-chefe publicado no jornal The Times.

Mirvis decidiu que se justifica uma ansiedade da parte dos judeus ingleses com relação a Corbyn e que ele não estaria em condições adequadas para se tornar primeiro-ministro.

Ele chamou os judeus a não votarem no Labour nas eleições de 12 de dezembro.


Ephraim Mirvis

Nascido na África do Sul e graduado na yeshiva (escola religiosa) Har Etzion , construída na colônia de Alon Shvut, Mirvis se coloca como a voz da comunidade judaica inglesa.

Tanto em Capetown, como em Johannesburg, ele deveria ter aprendido o que foi o apartheid e porque se deve lutar contra ele e similares, como o de assentamentos como o de Har Etzion.

Seus pais o fizeram [lutaram contra o apartheid] mas é de se duvidar de que ele tenha apreendido as lições morais de quem viveu em regiões onde o direito ao voto não é exercido por todos, como a África do Sul ou a Cisjordânia.

Em oposição ao ‘horrendo’ Corbyn, Mirvis não vê nada de errado na continuada ocupação; não se identifica com o anseio palestino por liberdade e não vê similaridade na África do Sul de sua infância, Har Etzion de sua juventude e Israel de 2019.

Esta é a razão real pela qual ele rejeita Corbyn. Para ele, os judeus da Inglaterra também querem um premiê que ‘apoie’ Israel – quer dizer, que apoie a ocupação. Para ele e os judeus que o seguem, um primeiro-ministro que é crítico a Israel é um exemplar do novo antissemitismo.

Corbyn não é antissemita. Ele nunca foi. Seu verdadeiro ‘delito’ é sua determinada oposição à injustiça no mundo, incluindo a versão que Israel perpetra. Hoje, isto seria antissemitismo.

O húngaro Viktor Orban, o austríaco Partido da Liberdade e extrema-direita na Europa não representam perigo para os judeus. Corbyn é o inimigo. A estratégia do establishment sionista é brandir contra todo aquele que busca justiça com a pecha de antissemita e qualquer crítica a Israel como manifestação de ódio aos judeus.

Corbyn é uma vítima desta estratégia que ameaça paralisar e silenciar a Europa com relação a Israel.

A ansiedade da comunidade judaica não é irreal, mas, com certeza, está magnificando o perigo. Existe antissemitismo, mas menos do que é apresentado, principalmente na esquerda. Cerca de metade dos judeus ingleses consideram fugir se Corbyn for eleito. Que fujam, mas saibam que as pesquisas mostram que atitudes como esta é que encorajam o antissemitismo. As pessoas se perguntam: os judeus são ingleses só condicionalmente? A quem eles são leais?

Com certeza, o future de todos os judeus ingleses é muito mais seguro do que o de qualquer palestino vivendo sob a ocupação e ainda mais seguro do que o de qualquer árabe vivendo em Israel.

Os judeus são perseguidos e vítimas de discriminação e racismo, mas em muito menor grau do que os palestinos na Israel que tanto adoram. Além do que, a islamofobia na Europa é, hoje, mais comum do que o antissemitismo, mas as pessoas falam menos da islamofobia.

Mirvis não apresenta nenhuma evidência do antissemitismo de Corbyn.

Corbyn é, de fato, um duro crítico da ocupação. Suas posições podem ser consideradas contrárias à Israel de hoje, mas não são antissemitas.

Grande parte dos judeus da Inglaterra estão borrando – de forma intencional – estas diferenças, assim como o fazem muitos judeus no mundo inteiro.

Qualquer um pode (e deveria ser) um duro crítico de Israel sem ser antissemita.

Se os judeus da Inglaterra e seu rabino-chefe fossem mais honestos e corajosos, se perguntariam: Não é a brutal política de ocupação israelense a motivação mais forte para o antissemitismo de hoje? Existe antissemitismo, ele deve ser combatido, mas também devemos reconhecer que Israel acaba fornecendo aos antissemitas uma abundância de desculpas e motivos.

Os verdadeiros amigos de Israel e dos judeus deveriam torcer pela eleição de Corbyn. Ele é um estadista que pode mudar o discurso internacional sobre a ocupação e avançar a luta contra ela. Ele é um raio de esperança para um mundo e um Israel diferentes. O que mais poderíamos querer?

Traduzido por Hora do Povo

Gideon Levy é jornalista israelita e activista da defesa dos direitos humanos.

http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=27609


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