Desde a queda do Iraque, sob os golpes de Britânicos e Norte-Americanos, Londres e Washington popularizaram o mito do nuclear militar iraniano, na continuação do mito das “armas de destruição maciça” iraquianas. Esse mito foi retomado pelos « sionistas revisionistas » israelitas (não confundir com «sionistas», simplesmente) e seu chefe de fila, Benjamin Netanyahu. Desde há vinte anos, os Ocidentais têm sido inundados com esta propaganda e acabaram por acreditar nela, muito embora o anúncio constante que Teerão iria possuir «a » bomba « no próximo ano », durante um período tão longo, não fizesse qualquer sentido.
No entanto, mesmo que a Rússia, a China e os Estados Unidos concordem em dizer que não há hoje em dia programa nuclear militar iraniano, todos vêm bem que algo o Irão empreende nas suas centrais (usinas-br). Mas o quê?
Em 2005, Mahmoud Ahmadinejad foi eleito Presidente da República islâmica, substituindo sayyed Mohammad Khatami. É um cientista cujo projecto é libertar os povos colonizados. Ele considera, pois, que conseguindo dominar o átomo, isso permitirá a todos os povos libertarem-se das transnacionais petrolíferas ocidentais.
Então, o Irão desenvolve cursos de formação para cientistas nucleares em muitas universidades. Não se trata de criar uma pequena elite de algumas centenas de especialistas, mas de formar batalhões de engenheiros. Existem agora dezenas de milhares.
O Irão pretende descobrir a maneira de concretizar a fusão nuclear, quando os Ocidentais se contentam com a fissão. A fissão é a divisão do átomo ; enquanto a fusão é a adição de átomos que libera uma energia descomunal. A fissão é utilizada nas nossas centrais eléctricas, enquanto, de momento, a fusão apenas é usada para as bombas termonucleares. O projecto de Mahmoud Ahmadinejad é utilizá-lo para gerar eletricidade e fazer beneficiar disso os Estados em desenvolvimento.
Este saber é revolucionário, no sentido khomeinista do termo, quer dizer, permitindo pôr fim à dependência dos Estados do Sul e em desenvolvê-los economicamente. Ele choca frontalmente com a visão britânica do colonialismo, segundo a qual Sua Majestade devia dividir para reinar e prevenir o desenvolvimento dos colonizados. Lembremos, por exemplo, que Londres proibiu aos Indianos fiarem, eles próprios, o algodão que cultivavam a fim de este ser fiado nas suas fábricas, em Manchester. Em resposta, o mahatma Gandhi deu o exemplo ao seu povo e fiou ele mesmo o seu algodão, desafiando a monarquia britânica. Do mesmo modo, o projecto de Mahmoud Ahmadinejad desafia o poder do Ocidente e das transnacionais petrolíferas anglo-saxónicas.
É perfeitamente normal inquietar-se face ao investimento iraniano no nuclear porque estas tecnologias são, por definição, de dupla utilização civil e militar. Está claro que não se trata da utilização civil habitual e que a descoberta detalhada dos processos da fusão poderá também ser utilizada com fins militares. Em todo o caso, o Irão busca uma fonte de energia inesgotável.
A China e a Rússia não pararam de repetir que não há programa nuclear militar no Irão desde 1988. Ao contrário de nós, a Rússia sabe do que fala : ela está associada às pesquisas do Irão. Há Russos em muitos centros nucleares iranianos. Escusado será dizer que Moscovo teme a proliferação tanto quanto nós. Mas, ao contrário de nós, não a energia nuclear civil. Apoiando-se nos trabalhos de Andrei Sakharov, a Rosatom e a Academia Russa de Ciências prosseguem as pesquisas, nomeadamente para o projecto Tokamak. A China, a Coreia do Sul, o Reino Unido e a França dispõem das suas próprias pesquisas na matéria.
Lembremos também que o Irão é signatário do Tratado sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP). É a este título que é alvo de inspeções da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Desde 1988, a AIEA nunca encontrou um índice que permitisse supor que existiria um programa nuclear militar iraniano. No entanto, a Agência colocou muitas perguntas para esclarecer certos aspectos do programa civil e não obteve uma resposta, o que é perfeitamente compreensível em vista do investimento na pesquisa irano-russa sobre a fusão. Na prática, os documentos divulgados pela imprensa iraniana na véspera do ataque israelita atestam que o Director da AIEA, o Argentino Rafael Grossi, se comporta como um espião ao serviço de Israel, ao qual ele transmite todas as informações dos seus inspectores ; Isso quando Israel não é um signatário do TNP e portanto membro da AIEA.
Teerão tinha apresentado à Conferência das partes no TNP das Nações Unidas, em 4 de Maio de 2010, uma proposta para « Criação de uma zona isenta de armas nucleares no Médio-Oriente » [1] . Esta foi bem acolhida por todos os Estados da região, à excepção de Israel. Com efeito, Telavive, que beneficiou de transferências de tecnologia francesa por altos funcionários da IVª República, possui a bomba atómica [2].
Em última análise, se Washington não intervir ao lado de Telavive e não usar a sua bomba penetrante para tentar destruir a central de Fordow, as Forças de Defesa de Israel (FDI) poderiam recorrer à « opção Sansão » [3], quer dizer, à destruição atómica do Irão, mesmo que elas pudessem sofrer uma réplica nuclear [4].
O General Mohsen Rezaee, oficial superior do Corpo dos Guardas da Revolução e membro do Conselho de Segurança Nacional Iraniano, declarou numa entrevista, em 14 de Junho, que : « o Paquistão garantiu-nos que se Israel usar a bomba nuclear contra o Irão, ele atacará igualmente Israel com uma bomba nuclear ». Todavia, Khwaja Asif, Ministro paquistanês da Defesa, não confirmou estas declarações. Sem as desmentir, ele declarou simplesmente : «Israel atacou o Irão, o Iémene e a Palestina. Se os países muçulmanos não se unirem agora, todos sofrerão a mesma sorte. Apoiamos o Irão e o defenderemos em todas as instâncias internacionais para proteger os seus interesses ».
Em última análise, a Administração Trump tinha a convicção, como disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt : « Sejamos muito claros, o Irão tem tudo o que é necessário para obter uma arma nuclear. Tudo o que eles precisam é de uma decisão do Guia supremo nesse sentido, e isso levar-lhes-ia uma quinzena de dias para concluir a produção desta arma ».
Assim, desde o início de Junho, ela foi secretamente preparada, « a Operação Midnight Hammer » (Martelo da Meia-Noite), por instigação do General Michael Kurilla, Comandante das Forças norte-americanas no Médio-Oriente (Centcom). Para o fazer, o General foi-se encontrar com os seus homólogos israelitas, em 25 de Abril, e reunir as informações mais precisas sobre os seus alvos. Em 10 de Junho, ele apresentou à Câmara dos Representantes a sua análise estratégica das oportunidades que as alterações ocorridas no Médio-Oriente ofereciam aos Estados Unidos. A propósito, revelou que havia apresentado ao Presidente Trump uma grande série de opções para as explorar [5]..
Em 16 de Junho, o Presidente Donald Trump deixou precipitadamente a Cimeira do G7 de Kananaskis (Canadá). No avião, de retorno a Washington, ele publicou um post furioso sobre seus aliados : « Como ele busca publicitar-se, o Presidente Emmanuel Macron, da França, declarou à toa que deixei a Cimeira do G7, no Canadá, para voltar a Washington a fim de trabalhar num «cessar-fogo» entre Israel e Irão. É falso. Ele não tem ideia por que é que agora estou a caminho de Washington, mas tal, certamente, nada tem a ver com um cessar-fogo. É muito maior que isso. Que tal seja deliberado ou não, Emmanuel engana-se sempre. Fiquem à escuta » [6].
Na noite de 21 para 22 de Junho, o Presidente Trump, violando a Carta das Nações Unidas, lançou um ataque aos principais locais nucleares iranianos, mas não à Central de Busheshr, devido à presença de pessoal russo. No entanto, parece que Washington havia avisado Teerão com antecedência, que ia atacar : horas antes, uma coluna de caminhões foi vista por satélite evacuando material da base de Fordow.
Este ataque surpresa pode ser entendido de duas maneiras : ou o Presidente Trump salvou Israel de destruições maciças por mísseis hipersónicos Fatah-1 ou, pelo contrário, salvou o Irão de um bombardeamento nuclear israelita. O facto de o Pentágono não ter atacado os lançadores de Fatah-1, portanto menos bem protegidos que as centrais nucleares civis, faz pensar nesta segunda interpretação.
Seja como for, ao destruir o programa de pesquisa nuclear iraniana, o Presidente Trump privou o Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, do argumento que ele utiliza, desde há vinte anos, para se lançar na sua « guerra das sete frentes ».
Devemos recordar que o Presidente Donald Trump, durante o seu primeiro mandato, havia ordenado o assassinato do califa do Daesh (E.I.), Abu Bakr al-Baghdadi (27 de Outubro de 2019), seguido pelo do General iraniano Qassem Soleimani (3 de Janeiro de 2020). No seu espírito, tratava-se de atingir o principal chefe militar sunita e o principal chefe militar xiita, a fim de colocar os seus dois grupos em pausa. O que tinha funcionado.
É, portanto, possível que uma má notícias esteja à espera de um dirigente israelita nos próximos meses. A prisão de Benjamin Netanyahu pela justiça israelita, por exemplo.
Tradução: Alva
Notas:
1] «Creación de una zona libre de armas nucleares en el Oriente Medio », Red Voltaire , 4 de mayo de 2010.