A responsabilidade de derrubar o Império não é do Sul Global. É nossa.
Esta reflexão incide sobre uma questão central: todos os anti-imperialistas, e em primeiro lugar aqueles que vivem no interior das suas principais potências (o eixo EUA/NATO/UE) têm o dever de ser os mais activos combatentes para lhe pôr fim. A corajosa resistência de países e forças militantes no agora chamado “Sul Global” é um exemplo. Mas, só por si, não poderia conseguir aquilo que, antes de mais, nos cabe a nós assumir.
por Caitlin Johnstone (PT) | caitlinjohnstone.com.au
ODiario.info - 16 de janeiro, 2025
https://www.odiario.info/a-responsabilidade-de-derrubar-o-imperio/
Pode haver a tentação de ficar sentado e aplaudir este ou aquele Estado ou grupo militante e dizer que eles vão pôr o império de joelhos, mas na verdade não é responsabilidade deles acabar com o império ocidental. É nossa.
O ano passado mostrou que muitos anti-imperialistas tendem a exagerar a força dos inimigos do império EUA.
Depois de 7 de Outubro, muitos disseram que o ataque unificaria o Eixo da Resistência contra Israel e que a entidade sionista cairia em pouco tempo, mas esse confronto unificado nunca se materializou porque o Irão não estava disposto a enfrentar todo um império global apoiado apenas por algumas pequenas facções militantes espalhadas pela Ásia Ocidental.
Agora a Síria foi capturada, o Hezbollah está muito enfraquecido, Gaza está em escombros e a Cisjordânia está à beira de ser anexada.
O facto é que o império tem sido capaz de governar o mundo da forma como o fez por uma razão. É extremamente poderoso e os seus implacáveis métodos de coerção, controlo e manipulação são muito eficazes.
Não quero com isto desvalorizar os esforços dos que tentam resistir-lhe, mas dizer aos ocidentais que não podemos esperar que os resistentes do Sul global travem todas as nossas batalhas por nós. Pode haver a tentação de nos sentarmos e aplaudirmos este ou aquele Estado ou grupo militante e dizermos que eles vão pôr o império de joelhos, mas na verdade não é responsabilidade deles acabar com o império ocidental. É nossa.
O Hamas, o Hezbollah, o Ansar Allah e as várias milícias da região são grupos relativamente pequenos, com recursos e capacidades relativamente limitados. O Irão, a Rússia e a China têm as suas próprias preocupações e estão sobretudo concentrados em sobreviver às agressões do império com a sua própria soberania nacional intacta. É muito possível que a ascensão da China acabe por dissolver o domínio do império americano sobre o nosso planeta, mas isso pode demorar muito tempo.
Os impérios caem sempre, mas não há nenhuma lei inscrita no tecido do universo que diga que o fim deste império em particular tem necessariamente de chegar em breve. Pode facilmente demorar um século ou mais, se não nos destruirmos entretanto e se os desastres ambientais que se avizinham no horizonte não destruírem primeiro a civilização humana.
Isto não é uma expressão de pessimismo, mas um apelo a que nos concentremos. Não é justo que nos furtemos à responsabilidade de acabar com o império ocidental e a transfiramos para estrangeiros em países em dificuldades, que têm muito mais problemas do que nós. Está totalmente dentro das nossas capacidades despertar um zeitgeist revolucionário no interior da nossa sociedade para que possamos usar o poder do vasto número que somos para derrubar esta máquina e criar um mundo melhor.
Podemos começar a trabalhar para este despertar hoje. Fazendo tudo o que pudermos para ajudar as pessoas a verem a natureza inaceitável do império e os seus abusos, não só com as suas mentes mas também com os seus corações. Temos uma capacidade historicamente sem precedentes de fazer circular ideias, informação e imagens. Nunca na história os media estiveram tão democratizados. Estamos a viver em tempos sem precedentes, o que significa que são possíveis desenvolvimentos sem precedentes.
Somos muito mais numerosos do que os nossos governantes. Eles governam apenas pelo nosso consentimento. O império exige não só a nossa docilidade e obediência, mas também o nosso trabalho e o nosso contínuo comportamento aquisitivo. Se um número suficiente de nós se recusar a consentir dar-lhes qualquer uma destas coisas, podemos forçar o fim dos nossos governos e sistemas corruptos e assassinos, e substituí-los por algo muito mais saudável.
Tudo na nossa civilização está orientado para nos fazer esquecer que podemos fazer isto em qualquer altura. Tudo na nossa civilização é projectado para eclipsar a possibilidade de uma verdadeira revolução da nossa consciência. As nossas políticas. A nossa aprendizagem. Os nossos meios de comunicação social. O nosso entretenimento. A nossa cultura dominante. Tudo isto foi concebido para nos levar a ignorar o colossal elefante na sala, que é o facto de, se não quisermos, não precisarmos de suportar a forma como as coisas são.
É nossa responsabilidade ajudar os nossos concidadãos ocidentais a reparar no elefante, utilizando todos os meios à nossa disposição. Ajudar todos os que nos rodeiam a ver como as coisas estão lixadas, como estamos todos a ser lixados ao permitir que as coisas continuem assim, e como não precisamos de o permitir.
O império da mentira é construído sobre um conjunto de pálpebras fechadas. Quando esses olhos se abrem, tudo se desmorona.
Caitlin Johnstone é jornalista independente de Melbourne (Austrália). É a autora do livro de poesia ilustrado “Woke: A Field Guide For Utopia Preppers.” O seu trabalho é inteiramente apoiado por leitores. O seu sítio é aqui.
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