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“Domínio Total do Espectro: Democracia Totalitária na Nova Ordem Mundial

Análise do livro de F. William Engdahl

por Stephen Lendman | Global Research

Pravda.ru - 27 de fevereiro, 2019

http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/27-02-2019/47320-dominio_total-0/

Durante mais de 30 anos, F. William Engdahl tem sido investigador, economista e analista líder da Nova Ordem Mundial, com vasta literatura, para sua credibilidade, sobre energia, política e economia. Faz publicações regulares sobre negócios e outras publicações, é orador frequente em questões geopolíticas, económicas e de energia, e é um distinto Investigador Associado do Centre for Research on Globalization.

Os dois livros anteriores de Engdahl incluem ” A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order/ Um Século de Guerra: a Política Petrolífera Anglo-Americana e a Nova Ordem Mundial”, explicando que o domínio americano após a Segunda Guerra Mundial assenta sobre dois pilares e uma mercadoria – sobre o poder militar incontestável e sobre o dólar como moeda de reserva mundial, com a missão de controlar o petróleo global e outros recursos energéticos.

O outro livro de Engdahl intitulado “Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation/Sementes da destruição: A Agenda Oculta da Manipulação Genética” explica como quatro gigantes do negócio agrícola anglo-americano planeiam dominar o mundo, patenteando todas as formas de vida para forçar o consumo de alimentos transgénicos para todos – mesmo que comê-los represente sérios riscos para saúde humana.

O livro mais recente de Engdahl é conferido a seguir. Intitulado “Full Strectrum Dominance: Totalitarian Democracy in the New World Order /Domínio Completo do Espectro: Democracia Totalitária na Nova Ordem Mundial”, discute a grande estratégia da América, revelada pela primeira vez no documento de1998, do Comando Espacial dos EUA – Visão para 2020. Mais tarde lançado em 2000, como DOD Joint Vision 2020, apela para o “domínio do espectro” abrangendo todo o espectro electromagnético da Terra, à superfície e debaixo dela, no mar, no ar, no espaço e nos sistemas de informação, com poder esmagador suficiente para lutar e vencer guerras globais contra qualquer adversário, inclusive, preventivamente, com armas nucleares.

Utilizando também outros meios, incluindo a propaganda, ONGs e Revoluções Coloridas, para mudança de regime, expansão da NATO para leste, e “um vasto leque de técnicas de guerra psicológica e económica” que fazem parte de uma “Revolução em Assuntos Militares” discutida a seguir.

O 11 de Setembro de 2001 serviu como pretexto para consolidar o poder, destruir as liberdades civis e os direitos humanos e travar guerras permanentes contra inimigos inventados, a fim de obter o domínio global sobre os mercados mundiais, recursos e mão-de-obra barata – à custa das liberdades democráticas e da justiça social. O livro de Engdahl apresenta uma visão assustadora do futuro, que está a chegar muito mais cedo do que a maioria pensa.

Introdução

Após a dissolução da União Soviética no final de 1989, a América teve uma escolha. Sendo a única superpotência que restava, poderia ter diligenciado em prol de uma nova era de paz e prosperidade, encerrado décadas de tensões durante a Guerra Fria, interrompido a louca corrida armamentista, transformado espadas em arados e desviado as centenas de biliões de dólares anualmente atribuídos à “defesa”, para a “reconstrução da infraestrutura civil e reparação de cidades empobrecidas. ” Forças poderosas do país pensam desta maneira e planeiam de acordo.

Ao contrário, Washington, sob GHW Bush e os seus sucessores, “escolheram o secretismo, mentiras e guerras para tentar controlar o coração da Eurásia – que, como região económica era o seu único rival potencial – pela força militar (política e económica)” e, por extensão, o planeta Terra, através de um programa mais tarde designado como “domínio total do espectro”.

O resultado foi que a Guerra Fria nunca acabou e hoje expande-se, violentamente, com mais de um trilião de dólares gastos anualmente em “defesa”, sob todas as formas, mesmo que a América não tenha inimigos, nem teve mais depois dos japoneses se renderem em Agosto de 1945. Então a solução foi inventá-los, e foi o que fizeram.

Mantida em segredo para a maioria dos americanos, por George H.W. Bush e pelo seu amigo e protegido de facto, o Presidente democrata Bill Clinton, foi a realidade que para a facção que controlava o Pentágono – a indústria de defesa militar, os seus muitos subcontratantes e as empresas gigantes do petróleo e dos serviços petrolíferos como a Halliburton – a Guerra Fria nunca terminou.

As raízes do esquema remontam a décadas – pelo menos até 1939, quando os poderosos membros do Conselho de Relações Estrangeiras, de Nova York (CFR) planearam um mundo do pós-guerra com uma única nação triunfante e que não podia ser derrotada.

O livro de Engdahl é uma análise geopolítica das duas últimas décadas – examinando “os cantos escuros da estratégia e das acções do Pentágono e os perigos extremos (que o domínio total do espectro sustenta para) o futuro”, não apenas para os EUA, mas para todo o mundo.

Hoje as coisas estão tão fora de controlo que as liberdades democráticas e a própria vida planetária estão ameaçadas pelo “risco crescente de uma guerra nuclear por erro de cálculo” ou a suposição temerária de que a prática pode ser limitada, controlada e segura – como abrir uma torneira e fechá-la. Por si só, a própria noção é implausível e imprudente, mas as forças poderosas do país pensam dessa maneira e planeiam de acordo.

As armas de Agosto de 2008

No oitavo dia, do oitavo mês, do oitavo ano do novo século, um lugar do qual poucas pessoas no Ocidente ouviram falar, surgiu nos cabeçalhos, quando o exército da Geórgia invadiu a Ossétia do Sul – a província que se separou em 1991 e declarou a independência. Por um breve período, as tensões mundiais aumentaram mais do que em qualquer época desde a crise dos mísseis cubanos em 1962, quando apenas as cabeças mais frias evitaram uma possível guerra nuclear.

Como naquela época, a crise foi uma provocação de Washington, com a pequena Geórgia sendo um mero peão de um confronto perigoso – um novo Grande Jogo, que o antigo Conselheiro da Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, descreveu no seu livro de 1997, The Grand Chessboard = O Grande Tabuleiro de Xadrês”.

Ele apelidou a Eurásia de “centro do poder mundial que se estende da Alemanha e Polónia para o Oriente, através da Rússia e da China até ao Pacífico, incluindo o Médio Oriente e o subcontinente indiano”. Explicou que a tarefa urgente dos EUA era assegurar que “nenhum Estado ou combinação dos Estados tivesse a capacidade de expulsar os Estados Unidos da Eurásia ou mesmo de diminuir significativamente o seu papel decisivo de arbitragem.” Dominar essa parte do mundo é a chave para o controlo do planeta, e é a principal razão para a existência da NATO. Desde o início da NATO, a sua missão foi ofensiva. No período após Guerra Fria, Washington usou a ilusão da democracia para dominar em toda parte – com o longo braço do Pentágono e da NATO como executores. Eufóricos, os europeus do leste não sabiam que a democracia ao estilo americano era ainda mais repressiva do que a que acabara. Décadas de propaganda da Voz da América e da Rádio Europa Livre logo se revelaram não serem diferentes do sistema soviético que eles rejeitaram e, em alguns aspectos, muito pior.

A “Terapia de choque” imposta pelo Ocidente significou “mercado livre”, privatizações em massa, o fim da esfera pública, acesso absoluto a empresas estrangeiras sem restrições de regulamentações incómodas, cortes profundos no serviço social, perda de segurança no emprego, salários de pobreza, leis repressivas e economias transformadas para beneficiar uma poderosa classe empresarial dominante em parceria com elites políticas corruptas. Globalmente, a Rússia criou os “oligarcas” bilionários, a China “os princelings/descentes dos líderes influentes do Partido Comunista “, o Chile “as piranhas” e, no novo milénio, na América, os “Pioneiros” de Bush-Cheney e os principais Top Guns de Wall Street, de Obama, causando a destruição global do auto-enriquecimento.

Quanto às pessoas comuns, a Rússia é um exemplo do que está a acontecer em toda a parte:

– empobrecimento em massa;

– uma epidemia de desemprego;

– perda de pensões e benefícios sociais;

– 80% dos agricultores falidos;

– dezenas de milhares de fábricas fechadas e o país desindustrializado;

– escolas fechadas;

– habitação em mau estado;

– aumento do alcoolismo, abuso de drogas, SIDA, suicídios e crimes violentos; e

– uma população e a expectativa de vida em declínio, porque o país foi saqueado para obter lucro e todas as redes de segurança acabaram; aquilo a que Milton Friedman designou como “liberdade”.

Mikhail Gorvachev tentou revitalizar a Rússia Soviética com a Glasnost e Perestroika, mas falhou. Em troca de concordar com a “terapia de choque” e com o desarmamento nuclear, GHW Bush prometeu a não extensão da NATO para leste, para os países recém libertados do Pacto de Varsóvia. A Duma russa, de facto, ratificou o Tratado Start II, fornecendo um calendário firme de desarmamento – abrangendo ambos os países e proibindo a instalação de defesa antimíssil, conforme estipulado pelo Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), de 1972.

Em 14 de Dezembro de 2001, o governo Bush retirou-se do Tratado ABM e muito mais. Reivindicou o direito de desenvolver e testar novas armas nucleares (em violação do Tratado de Não Proliferação), rescindiu a Convenção sobre Armas Biológicas e Tóxicas, aumentou consideravelmente as despesas militares, recusou-se a considerar um Tratado de Corte de Material Físsil para aumentar as enormes reservas desse material e reivindicou o direito de travar guerras preventivas, de acordo com a doutrina de “autodefesa antecipada”, usando armas nucleares de primeiro ataque.

Agora estava aberta a porta para uma militarização reforçada e para a criação da Agência de Defesa contra Mísseis dos EUA e a prova de que a confiar na América é imprudente e perigoso. Tanto GHW Bush como Bill Clinton mentiram, aliciando para a NATO, um a um, os antigos países do Pacto de Varsóvia.

No início dos anos 90, Zbigniew Brzezinski descreveu a arrogância da América desta maneira:

” As viagens presidenciais ao estrangeiro assumiram as armadilhas das expedições imperiais, ofuscando em escala e segurança, as exigências de circunstâncias de quaisquer outros estadistas e (reflectindo) a unção da América como sendo o líder mundial, em alguns aspectos, fazendo lembrar a autocoroação de Napoleão.”

Brzezinski compreendeu os perigos da arrogância imperial, causando o declínio e queda de impérios anteriores. Até mesmo uma superpotência como os EUA é vulnerável. Ele estava muito confortável com um século americano, apenas desconfiado dos meios para alcançá-lo e mantê-lo. Em 2008, com 28 países membros da NATO, incluindo 10 antigos membros do Pacto de Varsóvia, Washington pediu a admissão para a Geórgia e da Ucrânia, e fê-lo depois de anunciar no início de 2007 a instalação planeada de mísseis interceptores na Polónia e radar de rastreamento avançado na República Checa, ambos membros da NATO.

Supostamente para defesa contra o Irão e outros Estados “desonestos”, visava claramente a Rússia, garantindo aos EUA uma vantagem nuclear de primeiro ataque, o que provocou uma resposta dura do Kremlin: A colocação de Washington é ofensiva, assim como todas as instalações USA/NATO em todo o mundo.

Vladimir Putin exprimiu indignação no seu discurso, em Fevereiro de 2007, na Conferência Internacional de Munique sobre Segurança, afirmando:

“A NATO colocou as suas forças de linha da frente nas nossas fronteiras. Não tem qualquer relação com a modernização da própria Aliança ou com a garantia da segurança na Europa. Pelo contrário, representa uma provocação perigosa que reduz o nível de confiança mútua. E nós temos o direito de perguntar: contra quem é que esta expansão é pretendida? E o que aconteceu às garantias que os nossos parceiros ocidentais fizeram depois da dissolução do Pacto de Varsóvia? ”

O discurso de Putin provocou uma tempestade de críticas na comunicação mediática norte-americana. Em Agosto passado, o autor comentou num artigo intitulado “Reinventando o Império do Mal”, dizendo: “A Rússia está de volta, orgulhosa e a dizer a verdade, e não prestes a submeter-se à América, especialmente na Eurásia. Para Washington, está de volta ao futuro com uma nova Guerra Fria, mas desta vez para maiores riscos e com ameaças muito maiores à paz mundial.

Nas últimas duas décadas, Washington aumentou a aposta, invadindo as fronteiras da Rússia e cercando-a com bases USA/NATO, claramente destinadas a uma ofensiva e para bloquear a disseminação das liberdades democráticas às antigas repúblicas soviéticas. A “propaganda diabólica” fez com que ela projectasse a América imperial como um libertador colonial, trazendo o capitalismo do “mercado livre” para o Oriente. Foi bem-sucedida “enquanto os Estados Unidos eram a maior economia do mundo e os dólares americanos eram procurados como a moeda de reserva mundial de facto …”. Durante décadas, a América “retratou-se como o farol da liberdade para as nações recentemente independentes da África e da Ásia”, bem como para as antigas repúblicas soviéticas e para as nações do Pacto de Varsóvia.

Realidade Geopolítica – O Novo Destino Manifesto da América, Expansão Global à Imensidão da Eurásia

Durante mais de um século, os Estados Unidos procuraram alcançar o “controlo económico e militar total sobre a Rússia (soviética)” através da força total dos seus sectores militar-industrial e de segurança – pela guerra ou por outros meios. A partir de 1945, o Pentágono planeou uma guerra nuclear de primeiro ataque, uma “guerra convencional” chamada TOTALITY (como foi) elaborada pelo general Dwight Eisenhower “por ordem de Harry Truman, o mesmo homem que usou armas atómicas contra um Japão derrotado, em vez de aceitar o seu pedido de rendição.

Com a dissolução da União Soviética, a supremacia da superpotência americana depende de “impedir que os países da Eurásia desenvolvam os seus próprios pilares de defesa ou estruturas de segurança independentes da NATO controlada pelos EUA”, especialmente para impedir uma poderosa aliança China-Rússia capaz de um desafio perigoso, juntamente com os outros Estados eurasiáticos, principalmente os Estados ricos em petróleo.

Como o estratega geopolítico, Halford Mackinder (1861 – 1947) observou no seu mais famoso ditado:

Quem governa o leste europeu comanda o Coração da Terra;

Quem governa o Coração da Terra comanda a Ilha do Mundo;

Quem governa a Ilha do Mundo comanda o Mundo “.

A Ilha do Mundo de Mackinder era a Eurásia, toda a Europa, o Médio Oriente e a Ásia.

No início do século passado e, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial, os EUA decidiram governar mesmo com o risco de uma guerra nuclear. Por sua vez, a Grã-Bretanha pretendeu permanecer no jogo e, em Abril de 1945, Winston Churchill instou Dwight Eisenhower e Franklin Roosevelt a “lançarem uma guerra imediata contra a União Soviética, usando até 12 divisões alemãs capturadas (como) carne para canhão, a fim de destruir a Rússia de uma vez por todas.

Em vez disso, Washington inventou um inimigo do pós-guerra e fez com que os países da Europa e da Ásia se sentissem suficientemente ameaçados para concordar com os ditames dos EUA, mesmo aqueles contrários aos seus próprios interesses. Quanto à América, em 1945, Truman ordenou que Eisenhower “preparasse planos secretos para um ataque nuclear surpresa, nalgumas cidades (soviéticas) (apesar de saber que o Kremlin) não representava uma ameaça directa ou imediata para os Estados Unidos” ou para os seus aliados mais próximos.

Uma Rússia com armas nucleares com capacidade de mísseis intercontinentais acabou com a ameaça – até que a Doutrina Bush de 2001, proclamou o direito de travar guerras preventivas, com armas nucleares de primeiro ataque, para destituir os regimes estrangeiros considerados perigosos para a segurança e para os interesses dos EUA. Foi essa, a estratégia por trás do conflito da Geórgia, de 2008, que poderia ter-se transformado numa guerra nuclear.

Desarmados nesse momento, “um certo número de políticos dos EUA (ver em Russia Today) com assuntos inacabados (procuram o seu) desmembramento completo (como) base independente para a Eurásia.” Superioridade nuclear, cerco e “propaganda diabólica” são três ferramentas entre outras, para terminar o trabalho e deixar a América como sendo a única superpotência restante. Acabar com o poder da Rússia e da China, irá criar um campo aberto para um “século americano global total – a realização do ‘ full spectrum dominance/domínio total do espectro’, como o Pentágono o chamou.

Hoje, tanto sob Obama como sob Bush, o risco de uma guerra nuclear por erro de cálculo é maior do que durante meio século. Com a América a agir como agressor declarado, a Rússia pode sentir que a sua única opção é atacar primeiro enquanto puder, ou atrasar e enfrentar as consequências, quando for tarde demais. Quanto mais perto os mísseis nucleares ofensivos estiverem das suas fronteiras, mais ela corre o risco perder o seu poder, de maior desmembramento e de possível aniquilação nuclear.

A sua reacção deixou poucas dúvidas sobre a sua resposta. Em Fevereiro de 2007, o comandante das Forças de Foguetões Estratégicos, Coronel Nikolai Solovtsov, disse que se Washington continuasse com os seus planos, “Moscovo teria como alvo os centros de Defesa de Mísseis Balísticos dos EUA, com o seu arsenal nuclear”. Putin fez um discurso duro e anunciou que a Rússia gastaria 190 biliões de dólares nos próximos oito anos, para modernizar as suas forças armadas até 2015 e que as armas de última geração teriam prioridade. A sua mensagem foi clara. Uma Nova Guerra Fria/corrida ao armamento nuclear estava a acontecer, com a Rússia pronta para lutar “pela sua sobrevivência nacional”, e não pelo desejo de confronto.

“Defesa antimíssil” para atacar

Em 23 de Março de 1983, Ronald Reagan, durante um discurso, propôs a ideia, pedindo maiores despesas militares para a Guerra Fria, incluindo um enorme programa de R & D para o que ficou conhecido como “Guerra das Estrelas” – um escudo anti-míssil impermeável chamado Iniciativa de Defesa Estratégica/Strategic Defense Initiative (SDI). A ideia então (e agora) é uma fantasia, mas foi gloriosa para os empresários da defesa, que lucraram enormemente desde então.

A administração Clinton deu um apoio modesto até que a Lei Nacional de Defesa contra Mísseis, de 1999, propôs uma defesa activa contra mísseis “assim que for tecnologicamente possível…”

Quando George Bush assumiu a presidência, Donald Rumsfeld queria que os preparativos de guerra incluíssem defesa antimísseis e armas espaciais para destruir rapidamente alvos em qualquer lugar do mundo para a obtenção do “domínio total do espectro”. A estratégia incluía “a criação de uma nova técnica revolucionária de mudança de regime, para impor ou instalar regimes “amistosos para com os EUA” em toda a antiga União Soviética e em toda a Eurásia.”

Controlar a Rússia – Revoluções coloridas e golpes de enxame

“Swarming” é um termo da RAND Corporation que se refere a “padrões de comunicação e movimento de” abelhas e outros insectos e a aplica-se a conflitos militares por outros meios. Manifestam-se através de acções secretas da CIA para derrubar governos democraticamente eleitos, remover líderes estrangeiros e funcionários-chave, apoiar ditadores amigos e atingir indivíduos em qualquer parte do mundo.

Também através de propaganda e actividades do Fundo Nacional para a Democracia/ National Endowment for Democracy (NED), do Instituto Republicano Internacional/ International Republican Institute (IRI) e do Instituto Nacional Democrático/ National Democratic Institute (NDI) – representando ONGs, mas, na verdade, são organizações financiadas pelo governo dos EUA encarregadas de amotinar a democracia, desenraizá-la onde ela existe ou impedir a sua criação por meios criminosos de ruptura. Os métodos incluem greves não-violentas, protestos de rua em massa e usar a comunicação mediática para a mudança de regime – muito parecido com o que agora se está a passar no Irão, após a sua eleição presidencial (Nota da T.: e presentmente com o que se passa na Venezuela).

Outros exemplos recentes incluem o golpe de Belgrado de 2000, contra Slobodan Milosevic, a Revolução Rosa de 2003 da Geórgia, expulsando Eduard Shevardnadze pelo fantoche instalado pelos EUA, Mikheil Saakashvili, e a Revolução Laranja da Ucrânia de 2004-05, baseada em fraudes eleitorais, para instalar outro favorito de Washington, Viktor Yushchenko.

A ideia é isolar a Rússia cortando a sua linha de vida económica – as “redes de oleoducto que conduzem as suas enormes reservas de petróleo e gás natural dos Urais e da Sérvia, para a Europa Ocidental e para a Eurásia …” Esses oleoductos atravessam a Ucrânia, uma nação tão entrelaçada (com a Rússia) economica, social e culturalmente, especialmente no leste do país, que eram quase indistinguíveis uns dos outros “.

Alcançar objectivos geopolíticos desta maneira, é muito mais simples e barato do que travar guerras “enquanto se convence o mundo (que a mudança de regime foi o resultado) de explosões espontâneas de liberdade. (É) uma arma perigosamente eficaz.

Em 1953, os métodos mais cruéis da CIA derrubaram o Primeiro Ministro iraniano democraticamente eleito, Mohammed Mossadegh – o primeiro golpe de sucesso da agência para instalar Reza Shah Pahlavi, o Xá do Irão.

Em 1954, depôs Jacobo Arbenz, o eleito pelo povo e substituiu-o por um ditador militar – com o pretexto de remover uma ameaça comunista inexistente. Arbenz, como outros alvos, ameaçou os interesses comerciais dos EUA ao favorecer a reforma agrária, os sindicatos fortes e a distribuição de riqueza para aliviar a pobreza extrema no seu país.

Além da guerra, várias táticas visam preveni-las: “propaganda, urnas sabotadas, eleições compradas, extorsão, chantagem, intrigas sexuais, histórias falsas sobre oponentes nos meios de comunicação mediática local, greves de transporte, infiltração e interrupção de partidos políticos opostos, raptos, espancamento, tortura, intimidação, sabotagem económica, esquadrões da morte e até mesmo assassinato (culminando em) num militar (ou outro golpe para instalar) um ditador “pró-americano” da direita – ao mesmo tempo que reivindica a democracia em acção. Durante décadas, países da América Latina, do Médio Oriente e de outras regiões do mundo têm sido vítimas frequentes.

Desde a criação da CIA, em 1947, a “segurança nacional” e uma falsa ameaça comunista justificaram todos os crimes imagináveis, desde propaganda até guerra económica, sabotagem, assassinatos, golpes de Estado, tortura, guerras estrangeiras e muito mais.

No entanto, na década de 60, novas formas de mudança de regime encoberto surgiram ao longo das linhas que os estudos da RAND chamavam de “enxame” – a ideia era desenvolver técnicas de manipulação social ou surtos separatistas, sem guerras ou revoltas violentas. Depois de 2000, como mencionado acima, eles aconteceram nas Revoluções Coloridas da Europa Central. De acordo com o Departamento de Estado e funcionários da comunidade de serviços secretos, “parecia ser o modelo perfeito para eliminar os regimes que se opunham à política dos EUA”, quer fosse eleito ou não pelo povo. Agora todos os regimes são vulneráveis a “novos métodos de guerra” por outros meios, incluindo os meios económicos (sanções) usados agora e antes.

Organizações como a Gene Sharp Albert Einstein Institution, a Open Society Foundation de George Soros, a Freedom House e outras, estão muito envolvidas, e o site da Sharp admite estar activo em grupos “pró-democracia” na Birmânia, Tailândia, Tibete, Letônia, Lituânia, Estónia, Bielorrússia e Sérvia. Todos eles “coincidiram, convenientemente, com as metas do Departamento de Estado dos EUA para a mudança de regime, no mesmo período”.

As Guerras Euroasiáticas dos oleoductos

No centro do conflito actual está o controlo das vastas reservas de petróleo e gás da região, e enquanto a Rússia puder usar os seus recursos “para conquistar aliados económicos na Europa Ocidental, na China e noutros lugares, ela (não pode) estar politicamente isolada”. O resultado é que Moscovo reage duramente ao cerco militar e às Revoluções Coloridas limítrofes – actos hostis, que são a equivalência geopolítica da guerra.

Para que a América continue a ser a única superpotência, é crucial o controle dos fluxos globais de petróleo e gás, além de cortar a China das reservas do Mar Cáspio e da garantia das rotas e redes de energia entre a Rússia e a UE.

Por isso é que os EUA invadiram e ocuparam o Afeganistão e o Iraque, incitaram as guerras bálticas na década de 1990, atacaram Kosovo e Sérvia em 1999, ameaçam o Irão repetidamente e impõem sanções, e continuam a tentar expulsar Hugo Chávez. Por sua vez, sob Vladimir Putin, a economia da Rússia começou a crescer pela primeira vez em décadas. É rico em petróleo e gás e usa-os estrategicamente para ganhar influência suficiente para rivalizar com Washington, especialmente na aliança com a China e com outros antigos Estados soviéticos como o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tadjiquistão e o Uzbequistão, unidos em 2001, na Organização de Cooperação de Shangai (SCO) com o Irão e a Índia como observadores.

Sob Bush-Cheney, Washington reagiu agressivamente. O”Domínio total do espectro” é o objetivo tendo a Rússia e a China, como os principais alvos. Controlar os recursos energéticos mundiais é prioritário e nada mudou sob Obama. A ocupação do Iraque continua e as operações no Afeganistão são reforçadas com o aumento da instalação de tropas, sob o comando do general recém-nomeado, Stanley McChrystal – uma arma alugada, um homem com reputação de crueldade que inclui tortura, assassinatos, indiferença às mortes de civis e disposição de destruir aldeias para salvá-las.

Enquanto a Rússia e a China permanecerem livres do controlo dos EUA, o “Domínio total do espectro” é impossível. Circundar a primeira com as bases da NATO, Revoluções Coloridas, e a incorporação dos antigos Estados soviéticos à NATO e à União Europeia, fazem parte da mesma grande estratégia – “desconstruir a Rússia de uma vez por todas como rival potencial para obter a hegemonia única da superpotência norte-americana. ”

Vladimir Putin está no caminho, “um (líder) nacionalista dinâmico comprometido com a reconstrução” do seu país. Em 2003, um evento geopolítico significativo ocorreu quando Putin prendeu o oligarca bilionário Mikhail Khodorkovsky, sob a acusação de evasão fiscal, e colocou as suas acções da empresa gigante Yukos Oil Group sob controlo estatal.

Seguiu-se uma decisiva eleição da Duma russa, na qual Khodorkovsky “foi credivelmente apontado” de ter usado a sua riqueza para obter votos suficientes para conseguir a maioria – para desafiar Putin, em 2004, para presidente. Khodorkovsky violou a sua promessa de ficar fora da política em troca de manter os seus bens e os biliões roubados, desde que repatriasse o suficiente para a Rússia.

A sua prisão também aconteceu depois de um relatório ter surgido sobre uma reunião que ele teve com Dick Cheney, em Washington, seguida de outras com a ExxonMobil e a ChevronTexaco. Eles discutiram a aquisição de até 40% da Yukos ou o suficiente para dar a Washington e ao Big Oil o poder de vetar, de facto, sobre os futuros oleoductos e gasoductos russos e negócios petrolíferos. Khodorkovsky encontrou-se, também, com GHW Bush e tinha ligações com o Carlyle Group, a firma americana influente, com personalidades como James Baker, um de seus sócios.

Se a Exxon e a Chevron tivessem consumado o acordo, isso teria sido um “golpe de Estado de energia”. Cheney sabia disso; Bush sabia disso; Khodorkovsky sabia disso. Acima de tudo, Vladimir Putin sabia disso e agiu decisivamente para bloqueá-lo e, nesse processo, acertou contas com Khodorkosky. Este acontecimento “assinalou uma viragem decisiva… em direcção à reconstrução da Rússia e a erguer defesas estratégicas.” No final de 2004, Moscovo compreendeu que uma Nova Guerra Fria estava relacionada com o “controlo estratégico da energia e a primazia nuclear unilateral”, e Putin passou da defesa para uma “nova ofensiva dinâmica destinada a assegurar uma posição geopolítica mais viável, utilizando a energia (da Rússia) como alavanca.”

Trata-se de recuperar as reservas de petróleo e gás da Rússia cedidas por Boris Yeltsin. E também, fortalecer e modernizar a defesa militar do país e a dissuassão nuclear, a fim de aumentar a sua segurança a longo prazo. A Rússia continua a ser uma potência militar e exibe tecnologia militar impressionante em feiras internacionais, incluindo o S-300 e o mais potente S-400, supostamente mais potentes do que os sistemas semelhantes dos EUA.

Controlando a China com Democracia Sintética

Desde os anos 40 até os dias de hoje, a estratégia da América na China tem sido “dividir e conquistar”, apenas as tácticas variaram de “big stick” para a diplomacia “cenoura e pau”. A chave é impedir a Rússia e a China de cooperarem económica e militarmente, “manter uma estratégia de tensão em toda a Ásia, e particularmente na Eurásia” (que, claro inclui o Médio Oriente Médio e a sua riqueza petrolífera) – para o objectivo abrangente de “controlo total” da China como o potencial colosso económico da Ásia “.

Com a América enredada nas guerras da Eurásia, a política agora “esconde-se atrás das questões dos direitos humanos e da ‘democracia’ como armas de guerra psicológica e económica”.

Outra iniciativa também está a acontecer – a autorização de 2007 do AFRICOM, o Comando da África dos EUA para controlar os 53 países do continente não de maneira diferente do resto do mundo, usando a força militar sempre que necessário. O motivo é a crescente necessidade que a China tem, dos recursos da África (incluindo petróleo), e não o terrorismo.

A Estratégia de Modernização do Exército de 2008 (AMS, na sigla em inglês) está concentrada no “domínio total do espectro”, controlando os recursos mundiais, bem como a perspectiva de guerras, durante três a quatro décadas, a fim de assegurar esses mesmos recursos. A China e a Rússia são as mais temidas como concorrentes perigosas – a primeira pelo seu crescimento económico explosivo e pelas necessidades de recursos, e a última pela sua energia, por outras riquezas em matérias-primas e pela força militar.

A AMS também incluiu outra ameaça – o “crescimento populacional” que ameaça os EUA e o Ocidente com “ideologias radicais” e, portanto, instabilidade, bem como a indesejada “competição de recursos” que as economias em expansão exigem – tudo desde dos alimentos à água, energia e outras matérias-primas. Essas questões estão por trás da criação e da estratégia da AFRICOM para um militarismo de linha-dura global.

O segundo Presidente dos Estados Unidos, John Adams, disse certa vez: “Há duas maneiras de conquistar e escravizar uma nação. Uma é pela espada. A outra é por dívida “, ou mais amplamente, pela guerra económica. Com grande parte da manufactura dos Estados Unidos deslocada para a China, ambos os métodos são restritos, de modo que é usado um esquema alternativo – os direitos humanos e a democracia por um país que os despreza, tanto a nível nacional como no estrangeiro.

No entanto, em 2004, o Departamento de Estado da Democracia, Direitos Humanos e Trabalho teve a China como alvo nessas questões, com milhões de financiamentos, liderados pela conservadora da direita, Paula Dobriansky. Ela é membro do CFR, vice-presidente do NED, membro do conselho da Freedom House, membro sénior do Instituto Hudson neoconservador e membro do Projecto para um Novo Século Americano (PNAC) ao qual ela endossou atacar o Iraque, em 1998. Agora ela ataca a China com a estratégia de “soft warfare”, que é igualmente mortal.

Outras ferramentas incluem as organizações do Dalai Lama no Tibete, o Falun Gong na China, “um arsenal de ONGs (globais)” cuidadosamente recrutadas para esta missão e, claro, a comunicação mediática ocidental, incluindo televisão pública e rádio nos EUA e a BBC, a nível global.

Transformando Direitos Humanos numa arma – de Darfur a Myanmar e ao Tibete

Ao atacar a China, a ofensiva de Washington, de direitos humanos/democracia, concentrou-se em Mianmar, Tibete e no Darfur, rico em petróleo. Chamada a “Revolução do Açafrão” em Mianmar (antiga Birmânia), salientava imagens da comunicação mediática ocidental de Monges Budistas vestidos de açafrão nas ruas de Yangon (anteriormente Rangoon) a reclamar mais democracia. “Nos bastidores, no entanto, foi uma batalha de grande consequência geopolítica”, com o povo de Mianmar como um simples candidato a um esquema de Washington – empregando as tácticas do Eurasian Color Revolução Colorida Euroasiática:

– “atacar e fazer dispersar” grandes quantidades de monges;

– ligar grupos de protesto através de blogs na internet e links de mensagens de texto de telemóveis; e

– ter o comando e controlo sobre as células de protesto, disperso e reunido conforme ordenado, sem ideia de quem puxa os cordelinhos ou por quê – um objectivo sinistro escondido visando a China para maior controlo geopolítico e desestabilizando Mianmar para fazê-lo.

Também está em jogo o controlo de vias marítimas vitais do Golfo Pérsico para o Mar da China Meridional com a costa de Mianmar “fornecendo transporte e acesso naval a uma das hidrovias mais estratégicas do mundo, o Estreito de Malaca, a estreita passagem entre a Malásia e a Indonésia.

Desde o 11 de Setembro, o Pentágono tentou, mas não conseguiu militarizar a região, excepto estabelecer uma base aérea no extremo norte da Indonésia. Mianmar rejeitou aberturas semelhantes – por isso, é alvo da sua importância estratégica. “O Estreito de Malaca, ligando os oceanos Índico e Pacífico, é a rota marítima mais curta entre o Golfo Pérsico e a China. (É) o principal ponto de estrangulamento na Ásia “, por isso, é que é tão importante controlá-lo. A China tem laços estreitos com Mianmar. Forneceu-lhe biliões em assistência militar e desenvolveu a infraestrutura. O país também é rico em petróleo, no seu território e no mar.

A China é o mercado de energia que mais cresce no mundo. Mais de 80% de suas importações de petróleo passam pelo estreito. O controlo do mesmo, mantém o controlo sobre a linha vital da China e, se for fechado, cerca de metade da frota de petroleiros do mundo terá milhares de milhas extras para viajar, com custos acrescidos de frete.

No verão de 2007, Mianmar e a PetroChina assinaram um Memorando de Entendimento a longo prazo – para abastecer a China com gás natural substancial de seu campo de gás Shwe, na Baía de Bengala. A Índia foi a principal perdedora depois da China ter-se oferecido para investir biliões de dólares num oleoducto estratégico de petróleo e gás entre a China e Mianmar em todo o país para a província chinesa de Yunnan. O mesmo gasoducto poderia dar à China acesso ao Médio Oriente e ao petróleo africano, contornando o Estreito de Malaca. “Mianmar tornar-se-ia a ‘ponte’ da China, ligando Bangladesh e os países ocidentais à China continental, superando Washington, se este conseguisse controlar o Estreito – um potencial desastre geopolítico que a América precisava evitar, daí ter ocorrido a “Revolução Açafrão” de 2007, que fracassou.

A Mudança de Aliança Perigosa da Índia

A partir de 2005, a Índia foi “empurrada para uma aliança estratégica com Washington” para combater a crescente influência da China na Ásia e ter um “parceiro capaz que pode assumir mais responsabilidade para operações de baixo custo” – direccionado à China e para fornecer bases e acesso para projectar o poder dos EUA na região. Para adoçar o negócio, o governo Bush ofereceu-se para vender (fora da lei nuclear) à Índia, tecnologia nuclear avançada. Ao mesmo tempo, atacou o Irão pelas suas operações comerciais legítimas, e agora Obama ameaça endurecer as sanções e, talvez, guerra, no final do ano de 2009, pelo não cumprimento de exigências claramente ultrajantes.

A parte II continua a análise importante de Engdahl até à conclusão.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

Stephen Lendman é um Pesquisador Associado ao Centre for Research on Globalization. Vive em Chicago e pode ser contactado através de lendmanstephen@sbcglobal.net.

http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/27-02-2019/47320-dominio_total-0/


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